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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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DECOLAGEM ARRISCADA

Países criticam a deterioração das contas americanas

Cresce a preocupação com o déficit público dos EUA

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

O elevado déficit nas contas públicas dos Estados Unidos foi apontado ontem por ministros de Estado e economistas, no encontro anual do FMI (Fundo Monetário Internacional), como um dos principais riscos para a recuperação da economia mundial.
O ministro das Finanças da Alemanha, Hans Eichel, elogiou a retomada do crescimento da economia americana neste ano, mas, ao se referir ao déficit fiscal dos EUA, disse que não se pode "ignorar os riscos" que pesam sobre essa recuperação. "Por isso, o termo apropriado [para a situação dos EUA] é otimismo cauteloso."
Segundo Gordon Brown, ministro da Economia do Reino Unido e presidente do Comitê de Finanças do FMI, os EUA precisam de uma estratégia para solucionar seu déficit fiscal, que "tem sustentado a atividade econômica".
Os alertas de Eichel e de Brown somam-se a preocupações reiteradas sobre o déficit americano feitos pelo FMI e, ontem, também pelo Brasil.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse que a "considerável deterioração" das contas públicas dos EUA pode ter um efeito adverso para a economia do país no longo prazo, o que comprometeria a recuperação global.
"Houve uma considerável deterioração da situação fiscal dos Estados Unidos, o que pode ter um impacto adverso sobre a economia do país no longo prazo, tornando o fortalecimento fiscal no médio prazo uma alta prioridade. O crescimento global continua a ser bastante dependente do desempenho econômico dos Estados Unidos", disse o ministro.
Estimativas do mercado financeiro apontam que o déficit nas contas públicas do EUA pode chegar a US$ 480 bilhões em 2004.
O economista Martin Feldstein, do National Bureau of Economic Research, fez projeções bastante otimistas para o crescimento da economia americana.
Segundo ele, o PIB (Produto Interno Bruto) dos EUA pode aumentar até 5% no acumulado dos próximos 12 meses.
Mesmo assim, Feldstein disse que o maior desafio do governo americano no médio prazo é reduzir o déficit público.
"O principal risco para a economia americana é saber como o governo vai conseguir reduzir o déficit público", disse à Folha Jacob Frenkel, presidente da Merrill Lynch International. Mas Frenkel também frisou que está "relativamente otimista" com a recuperação da economia do país.
Em resposta aos alertas generalizados sobre a economia americana, o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, sustentou que seu país continua sendo "o principal motor da reativação da economia mundial".
Snow exortou os países europeus a serem mais agressivos no corte de juros e indicou que o crescimento americano alcançará, no segundo semestre, um ritmo de 3,5% a 4%.

Japão
Palocci disse que a recuperação do Japão ainda é "frágil e incerta", entre outros motivos por conta das "vulnerabilidades" dos setores financeiro e corporativo. "As perspectivas econômicas para a Europa continuam fracas, tendo [os países da Zona do Euro] ainda um longo caminho até chegar à liberalização do comércio e às reformas para flexibilizar o mercado de trabalho", disse.
O ministro também criticou "a proeminente distorção da política agrícola protecionista da região".
"O lento progresso das principais potências econômicas em resolver problemas e implementar políticas há muito tempo recomendadas pelo FMI é muito frustrante", disse ele.
Em seu discurso durante a reunião do Comitê Financeiro e Monetário Internacional, Palocci usou ainda a palavra desapontamento para se referir aos países desenvolvidos.
O ministro também cobrou maior espaço para o peso e a proporção de países em desenvolvimento, como o Brasil, nas decisões do Fundo.


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