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MERCADO FINANCEIRO
Média diária de exportações em setembro ultrapassa em 15% a de agosto e surpreende analistas
Dólar baixo não afeta balança comercial
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O saldo da balança comercial
volta a surpreender. Diferentemente do que afirmava a maioria
dos analistas ao defender a intervenção do governo no câmbio, a
queda do dólar abaixo de R$ 3 no
primeiro semestre não derrubou
as exportações e nem comprometeu o saldo comercial.
"O impacto da valorização do
real sobre as exportações deveria
estar aparecendo agora e não está,
diferentemente do que previam
economistas, inclusive eu", diz
Hugo Penteado, economista da
ABN Asset Management. As exportações subiram em volume e
em número de produtos comercializados. As importações também cresceram.
A equipe econômica do HSBC
também afirmou em boletim do
banco que mais uma vez o saldo
comercial surpreendeu analistas.
A média diária de exportações
neste mês é 15% superior à de
agosto. A projeção é de um superávit de US$ 3 bilhões no mês,
50% a mais do que se esperava.
Para o ano, a expectativa para a
balança comercial saltou de US$
15,5 bilhões, em janeiro, para a
atual, de US$ 20,44 bilhões, segundo informa a Pesquisa Focus
do Banco Central (junto a profissionais do mercado).
O dólar caiu de R$ 3,53 em 31 de
dezembro de 2002 para o patamar
de R$ 2,80 e R$ 2,90 no final do
primeiro semestre. Há uma defasagem de cerca de seis meses para
que surjam efeitos de movimentos no câmbio.
"Estamos no terceiro mês do segundo semestre e não ocorreu a
desaceleração esperada", diz o
economista da ABN Asset Management.
Fora das previsões
Uma parcela dos analistas também errou ao prever em maio que
o dólar tenderia a um auto-ajuste
e não se sustentaria abaixo de R$ 3
nos meses seguintes.
A greve dos fiscais da Receita
Federal pode ter influenciado os
resultados, segundo avaliação de
analistas consultados e da Funcex
(Fundação Centro de Estudos de
Comércio Exterior).
A fraca atividade econômica e a
demora em sua recuperação impulsionam as exportações.
No cenário externo, houve incremento de comércio com Argentina e China, o reaquecimento
em alguns setores e a elevação dos
preços das commodities.
Nem todos analistas ouvidos
pela Folha reconhecem que foram pegos de surpresa com o desempenho das exportações.
"A maior parte dos analistas reviu suas projeções e deveria assumir isso", diz Penteado.
"As exportações vão muito
bem, mas, com o dólar a R$ 3,20,
haveria superávit de cerca de US$
3 bilhões a mais", diz Julio Gomes
de Almeida, diretor-executivo do
Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial).
Segundo Almeida, a alta de 31%
nas exportações do primeiro semestre em relação ao mesmo período do ano passado não deve se
repetir neste semestre.
Um fator estatístico distorce a
comparação. À espera da alta do
dólar, exportadores seguraram
embarques previstos para o primeiro semestre de 2002 e os liberaram no segundo semestre, o
que inflou os resultados.
Reservas
"Qualquer alta de exportações é
boa. Eu previa isso. Mas o importante é ter um sistema de metas de
reservas. O governo precisa intervir no câmbio. Não é com ele que
se controla inflação", diz Paulo
Guedes, ex-presidente do Ibmec
(Instituto Brasileiro de Mercado
de Capitais) e ex-Banco Pactual.
Para o economista, se o dólar estivesse entre R$ 3,10 e R$ 3,20, o
Brasil poderia ter reservas de cerca de US$ 75 bilhões em cinco
anos. O país tem US$ 15 bilhões de
reservas líquidas.
"O Banco Central anunciaria a
compra de US$ 1 bilhão por mês.
Experimentaria o câmbio mais
adequado para comprar "X" de
reservas, como faz com os juros.
Bobagem não anunciar compra
de dólares para não favorecer a
especulação", disse Guedes.
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