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OPINIÃO ECONÔMICA
Como manter o boom chinês e por que é importante
AUGUSTO LOPEZ-CLAROS
O último ano em que a taxa
de crescimento da China esteve abaixo de 7,5% foi 1990. A lógica das taxas de crescimento nos
diz que um índice de 7% dobrará
o tamanho da economia do país a
cada dez anos. Se mantida, isso
significa que, dentro de uma década, a China terá ultrapassado a
Alemanha como a terceira maior
economia do mundo e terá alcançado o Japão até mais ou menos
2020. Essa performance impressionante fez com que a China se
tornasse um vetor importante para o crescimento global, uma importante força nos mercados de
commodities, o destino mais importante para investimento estrangeiro direto e uma potência
emergente no comércio internacional.
O crescimento chinês foi preponderantemente obtido pela demanda interna do país e, por isso,
não contribuiu com desequilíbrios do comércio global, que
criou no passado inúmeras tensões entre alguns dos principais
participantes da economia global.
Enquanto as tendências acima
contribuíram para aumentar a
importância da economia da China -responsável agora por aproximadamente 4% do PIB mundial-, elas também tiraram centenas de milhões de pessoas da
pobreza.
No entanto questões importantes ainda devem ser enfrentadas,
para que essa performance seja
sustentada a longo prazo, entre
elas:
1) Infra-estrutura social - Nos
últimos anos, a população chinesa tem deixado o campo em direção aos ambientes urbanos. Enquanto em 1980 menos de 20% da
população da China morava nas
áreas urbanas, essa parcela atingiu 33% em 2000. Na verdade, esses fluxos migratórios internos foram, em grande parte, os responsáveis pelas altas taxas anuais de
crescimento do PIB. Essa tendência continuará nos próximos anos
e exige um gerenciamento cuidadoso em várias frentes.
Primeiro, as taxas de desemprego chinesas estão aumentando
-as estatísticas oficiais excluem
milhões de demitidos por empresas estatais no país. Como em outras economias em transição, haverá aumentos passageiros no desemprego, ligados à reestruturação do setor produtivo. Isso exigirá a criação de esquemas de compensação para o desemprego e a
criação de redes de segurança para suavizar o impacto desses ajustes. A China também terá de tomar providências em relação a
sua população em envelhecimento, por meio do desenvolvimento
de sistemas para proteção social,
em especial fundos de pensão.
2) Setor bancário - A história
mostra que a maior parte das economias em transição, como a chinesa, acaba inevitavelmente enfrentando sérios problemas no setor bancário, há muito dominado
pelas instituições financeiras estatais, nas quais a lucratividade depende das relações com o governo e nas quais os bancos não
aprenderam a precificar os riscos
adequadamente. Ainda há muito
a ser feito na China para estabelecer um sistema bancário sólido,
bem capitalizado e competitivo,
capaz de intermediar recursos financeiros de uma maneira eficiente. Reformas nessa área devem incluir aperfeiçoamento no
regime regulatório, melhora nas
capacidades de supervisão das
autoridades monetárias e modernização da estrutura legal para
procedimentos de falência e direitos dos credores.
3) Aterrissagem suave - A China está se aquecendo em demasia? Céticos dizem que não. Entretanto, com o crescimento de crédito alcançando níveis recordes, o
consenso mudou de forma notável. A China tem de desaquecer
rápida e gradualmente a economia, ao mesmo tempo em que
mantém e impulsiona os importantes ganhos passados. Entretanto, medidas de política monetária tradicionais, tais como aumentos nas taxas de juros, não parecem ser o suficiente. A política
fiscal deve ser utilizada também,
uma vez que desestimula o crescimento da economia. Felizmente,
com uma das mais baixas proporções de receita para o PIB no
mundo, existe espaço considerável para manobras. Reformas estruturais mais profundas -principalmente aquelas que impulsionam a competição na economia,
reduzem barreiras enfrentadas
pelos empreendedores começando novos negócios e aumentam a
transparência e o ambiente regulatório- ajudarão a fazer a economia chinesa mais flexível e
aprimorará sua reposta a mudanças nas políticas.
A China é atualmente um pivô
da economia global, crucial para
impulsionar o crescimento asiático. Por isso, o gerenciamento de
uma aterrissagem suave possivelmente terá repercussões benéficas, não só para a própria China
mas também para muitos outros
cuja prosperidade depende da
performance de seu crescimento.
4) Um parceiro global - Os
muitos desafios -sejam eles econômicos ou políticos- exigem
uma cooperação internacional
sincronizada. A globalização gradualmente corroeu a habilidade
de Estados soberanos para lidar
independentemente com problemas, fazendo questões serem
abordadas de forma internacional. O papel da China nesse processo será primordial em razão de
sua enorme população e por estar
emergindo como um dos poucos
pesos-pesados internacionais da
economia.
Augusto Lopez-Claros é economista-chefe e diretor-executivo do Programa
de Competitividade Global do Fórum
Econômico Mundial.
Hoje, excepcionalmente, a coluna
de Antonio Barros de Castro
não é publicada.
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