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OPINIÃO ECONÔMICA
Envelheçam, rápida
e urgentemente!
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
No brasil , a política monetária tem sido conduzida,
em grande medida, por economistas acadêmicos treinados nos
EUA, relativamente jovens e com
pouca experiência prática.
Certa vez, perguntaram a Nelson Rodrigues que conselho ele
daria às novas gerações. Resposta: "Envelheçam, rápida e urgentemente!". Para ele, o jovem tinha
todos os defeitos do ser humano e
mais este: a imaturidade. Agora,
que já cheguei aos 50, estou
achando esse conselho de uma sabedoria total.
Dei essa pequena volta para falar um pouco do presidente do
banco central dos EUA, Alan
Greenspan, 79 anos, que deixará
o cargo em janeiro próximo. Como quase tudo em economia, o
seu desempenho nos 18 anos em
que ocupou o cargo é objeto de
controvérsias. O célebre economista Paul Krugman, por exemplo, é um crítico bastante severo.
Já Alan Blinder, outro conhecido
economista americano, tem uma
avaliação geral muito positiva. A
opinião predominante é basicamente favorável.
Seja como for, vale a pena examinar a atuação de Greenspan,
pois ela contrasta flagrantemente
com princípios e teorias ensinados, não raro com certo dogmatismo, nos departamentos de economia das universidades norte-americanas. Vários dos nossos jovens economistas formam-se lá e
voltam encantados e seduzidos,
prontos para fazer o "dever de casa". Alguns entram para a diretoria do Banco Central, poucos
anos depois, e aplicam com o fervor dos neófitos as regras e os modelos que aprenderam nos bancos
escolares norte-americanos ou no
FMI.
Os resultados vêm sendo bisonhos, como se sabe. Metas exageradas de redução da inflação, as
taxas de juro mais altas do mundo, sobrevalorização cambial,
crescimento econômico modesto,
desemprego elevado, pesada carga de juros para o governo e concentração da renda nacional.
Os nossos jovens banqueiros
centrais teriam se beneficiado de
um estágio com Greenspan. A
marca da sua gestão é a flexibilidade. O presidente do BC americano é um empirista e um pragmático. Não segue regras formais
nem confia cegamente em modelos, teorias e previsões quantitativas. Recusou, por exemplo, insistentes recomendações de que o
BC americano adotasse o modelo
monetário da moda em certos
meios: o regime de metas para a
inflação (aplicado no Brasil desde
1999).
Até meados dos anos 90, o "consenso" acadêmico nos EUA era
razoavelmente pessimista sobre o
potencial de crescimento da economia. Muitos estimavam a taxa
"natural" de desemprego nos
EUA (a taxa de desemprego compatível com a não-aceleração da
inflação) em torno de 6%. Se
Greenspan tivesse aceito acriticamente esses cálculos, ele teria sufocado o crescimento da economia com juros altos. Pragmaticamente, o BC examinou com cuidado um amplo conjunto de informações, foi testando a temperatura da água e descobriu aos
poucos que a economia poderia
crescer, sem risco de inflação,
muito mais do que imaginavam
os acadêmicos.
Greenspan tem sido um fiel seguidor do mandato do BC. De
acordo com o "Federal Reserve
Act", a política monetária deve
promover "os objetivos de emprego máximo, preços estáveis e taxas de juro moderadas de longo
prazo". Diferentemente do que
ocorre em outros países, o BC
americano não pode concentrar-se exclusivamente no combate à
inflação. Durante a longa gestão
Greenspan, houve apenas duas
recessões brandas e o BC atuou
diversas vezes para conter processos recessivos e estimular a atividade econômica.
Agora que Greenspan vai se
aposentar do Fed, ele bem que poderia vir ao Brasil dar alguma
orientação ao nosso BC. Posso
imaginar a cena. Como visitante
bem-educado, ele faria, em entrevistas, elogios generosos à política
monetária brasileira. Portas fechadas, Greenspan perguntaria
aos neófitos do BC: "What kind of
a show are you putting on here?"
(Que circo é esse que vocês estão
armando aqui?).
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail -
pnbjr@attglobal.net
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