São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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Investimento externo deve bater recorde da privatização

Em 2007, volume cresce 161% e já supera em 41% o registrado em todo o ano passado

BC eleva expectativa de entrada de recursos no ano para US$ 32 bi; para analistas, tendência é superar recorde de 2000

FERNANDO NAKAGAWA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil nunca recebeu tanto capital externo como hoje. Dados do Banco Central sinalizam que o volume de investimento não-financeiro destinado à produção e serviços deve encerrar o ano em patamar superior ao dos recordes do fim dos anos 90, período das privatizações. Analistas dizem que o dinheiro vem ao país de olho na expansão da economia e também pela expectativa de o país obter o "grau de investimento".
De janeiro a agosto, o investimento estrangeiro direto somou US$ 26,488 bilhões. O valor é 161% maior que o visto em igual período de 2006 e já é 41% superior a todo o volume do ano passado. Diante desse desempenho expressivo, o BC refez as contas e passou a apostar que o ano deve terminar com a entrada de US$ 32 bilhões, ante US$ 25 bilhões da previsão anterior. "E não será surpresa se o número for ainda maior", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Silvio Campos Neto, economista-chefe do Banco Schahin, classifica a nova projeção como "conservadora". Para ele, é provável que o número ultrapasse o recorde de US$ 32,779 bilhões, registrado em 2000, ano da venda do Banespa e período em que o país recebia pesados investimentos em telecomunicações -setor privatizado dois anos antes, em 1998.
A explicação para a entrada de tantos dólares está no cenário de médio e longo prazo da economia brasileira. Com a expectativa de que o país passe a apresentar taxas mais robustas de crescimento, multinacionais têm destinado recursos para filiais brasileiras de olho no mercado interno. Há, ainda, a perspectiva de tornar o Brasil base exportadora para região.
Além dos motivos internos, o presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), Luís Afonso Lima, observa que o Brasil tem sido beneficiado pela nova dinâmica dos investimentos globais. "Sem a expectativa de crescimento de mercado nos EUA e na Europa, empresas vêm procurando países emergentes que ainda têm muitos segmentos virgens, e o Brasil tem papel de destaque como destino desses recursos."
Lima avalia também que a expectativa de que o Brasil receba o "grau de investimento" -reconhecimento das agências de classificação de risco de que há segurança de que o país honrará suas dívidas- deve acelerar a entrada de dólares nos próximos anos. Estudo da Sobeet revela que o fluxo de investimentos aumenta, na média, 20% no biênio anterior à elevação da nota. Nos dois anos seguintes, a entrada de dólares salta muito mais, 238%. Analistas esperam essa melhora da nota para o Brasil em 2008 ou 2009. "Portanto, o fluxo deve crescer mais", diz Lima.

Setores
O segmento de serviços é o preferido dos investidores. Conforme dados do BC, 47,3% dos dólares que entraram no Brasil foram alocados nesse ramo. No segmento, chama a atenção o aumento do interesse pelo setor de serviços a empresas -como limpeza e manutenção, que recebeu 9,7% dos recursos. A participação é quase o dobro da registrada em 2006 -4,8%. A presença da construção civil também tem forte salto e passou de 1,4% para 4% entre 2006 e 2007.
Na indústria, a metalurgia básica e a fabricação de petróleo e álcool lideram. Os segmentos receberam, respectivamente, 15,5% e 4% dos recursos de janeiro a agosto. A participação é superior à observada em 2006, quando os ramos foram alvo de 7,7% e 1,2% dos dólares.


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