São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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PAULUS MAGNUS

Markitetura da destruição

Incorporadoras se capitalizam em pleno boom imobiliário, mas padrão estético segue o mesmo

SÃO PAULO está em fase de crescimento. O mercado imobiliário está em ebulição, com as empresas incorporadoras capitalizadas após a abertura de capital na Bolsa de Valores. Muito se constrói, mas pouco se acrescenta aqui em São Paulo. O salto financeiro não trouxe um salto estético, urbanístico.
Se você quiser comprar, alugar, investir, vai encontrar sempre e muito o que escolher entre incontáveis lançamentos que fugiram da seara da arquitetura e do urbanismo e se norteiam pelo marketing.
Como explicar que a cara de São Paulo seja uma imposição de segundos times de segundas agências de marketing que querem fazer vender os novos imóveis porque para isso são pagas? Existe, sim, uma arquitetura que pode ser comercial e consciente ao mesmo tempo, e não precisamos construir uma arquitetura desenhada exclusivamente no marketing, imprimindo uma cara de desleixo urbano e deixando a cidade fora do mapa da contemporaneidade global.
Um bom edifício pode vender tão bem quanto um ruim. O que existe é um vício, uma visão rudimentar de estilos e de crenças sobrenaturais sobre a elevação do status de alguém que mora num edifício neoclássico, que de clássico nem a referência tem, porque não estamos construindo mais nas proporções clássicas, o que faz seus elementos parecerem totalmente fora de escala. Os elementos não encaixam. O consumidor escolhe o que lhe é oferecido, e ele só deixará de ser assim após séculos de cultura que ainda estão por chegar. Porque, se o consumidor conhecesse o que é clássico, não compraria gato por lebre. Mas qual realmente seria o sentido de construir como se fazia 200, 400 anos atrás?
A proporção de boa arquitetura está baixa demais. Não será para sempre a apatia das pessoas em relação à própria cidade. Porque a era individualista que vivemos deve ser entendida como um exercício de liberdade individual, mas não precisa transformar os edifícios da cidade em experimentações particulares de gosto bem duvidoso. Você decora a sua casa exatamente do seu gosto, mas o edifício em que você mora está definindo a paisagem da sua cidade.
A arquitetura que hoje só contempla o consumidor deve contemplar também o cidadão, o individual e o coletivo juntos. Além de bons agentes de marketing, é imprescindível que os projetos sejam feitos por bons arquitetos. A cidade tem vários. Vamos marcar de apresentá-los às construtoras. Arquitetura não pode ser moda, porque depois fica ali impressa muito tempo. Bairros inteiros com cara da estação passada condenam São Paulo a ser sempre a cara do que já era, do que já deu.
Mas o pior mesmo é o que se apresenta como moderno, em sua maioria blocos insípidos revestidos de cerâmica parecendo gigantescos banheiros de rodoviária. Se isso for moderno, prefiro a arquitetura de bingos, que é moderna, mas assumidamente cafona. E nem deve ser considerada, porque, como os bufês infantis, são brinquedos estacionados em terrenos da cidade que certamente serão trocados antes da nova temporada.
Ainda temos tempo e espaço e empresas demolidoras suficientes para imaginar uma cidade interessante. E o fato de construirmos tudo de forma tão descartável vai contar a favor quando esse momento chegar.


PAULUS MAGNUS, 42, é arquiteto formado pela FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo).


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