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PAULUS MAGNUS
Markitetura da destruição
Incorporadoras se
capitalizam em pleno boom
imobiliário, mas padrão
estético segue o mesmo
SÃO PAULO está em fase de crescimento. O mercado imobiliário está em ebulição, com as
empresas incorporadoras capitalizadas após a abertura de capital na
Bolsa de Valores. Muito se constrói,
mas pouco se acrescenta aqui em
São Paulo. O salto financeiro não
trouxe um salto estético, urbanístico.
Se você quiser comprar, alugar, investir, vai encontrar sempre e muito
o que escolher entre incontáveis
lançamentos que fugiram da seara
da arquitetura e do urbanismo e se
norteiam pelo marketing.
Como explicar que a cara de São
Paulo seja uma imposição de segundos times de segundas agências de
marketing que querem fazer vender
os novos imóveis porque para isso
são pagas? Existe, sim, uma arquitetura que pode ser comercial e consciente ao mesmo tempo, e não precisamos construir uma arquitetura
desenhada exclusivamente no marketing, imprimindo uma cara de
desleixo urbano e deixando a cidade
fora do mapa da contemporaneidade global.
Um bom edifício pode vender tão
bem quanto um ruim. O que existe é
um vício, uma visão rudimentar de
estilos e de crenças sobrenaturais
sobre a elevação do status de alguém
que mora num edifício neoclássico,
que de clássico nem a referência
tem, porque não estamos construindo mais nas proporções clássicas, o
que faz seus elementos parecerem
totalmente fora de escala. Os elementos não encaixam. O consumidor escolhe o que lhe é oferecido, e
ele só deixará de ser assim após séculos de cultura que ainda estão por
chegar. Porque, se o consumidor conhecesse o que é clássico, não compraria gato por lebre. Mas qual realmente seria o sentido de construir
como se fazia 200, 400 anos atrás?
A proporção de boa arquitetura
está baixa demais. Não será para
sempre a apatia das pessoas em relação à própria cidade. Porque a era
individualista que vivemos deve ser
entendida como um exercício de liberdade individual, mas não precisa
transformar os edifícios da cidade
em experimentações particulares
de gosto bem duvidoso. Você decora
a sua casa exatamente do seu gosto,
mas o edifício em que você mora está definindo a paisagem da sua cidade.
A arquitetura que hoje só contempla o consumidor deve contemplar
também o cidadão, o individual e o
coletivo juntos. Além de bons agentes de marketing, é imprescindível
que os projetos sejam feitos por
bons arquitetos. A cidade tem vários. Vamos marcar de apresentá-los às construtoras.
Arquitetura não pode ser moda,
porque depois fica ali impressa muito tempo. Bairros inteiros com cara
da estação passada condenam São
Paulo a ser sempre a cara do que já
era, do que já deu.
Mas o pior mesmo é o que se apresenta como moderno, em sua maioria blocos insípidos revestidos de cerâmica parecendo gigantescos banheiros de rodoviária. Se isso for
moderno, prefiro a arquitetura de
bingos, que é moderna, mas assumidamente cafona. E nem deve ser
considerada, porque, como os bufês
infantis, são brinquedos estacionados em terrenos da cidade que certamente serão trocados antes da nova
temporada.
Ainda temos tempo e espaço e
empresas demolidoras suficientes
para imaginar uma cidade interessante. E o fato de construirmos tudo
de forma tão descartável vai contar a
favor quando esse momento chegar.
PAULUS MAGNUS, 42, é arquiteto formado pela FAU-USP
(Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo).
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