São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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Dona das Havaianas deve comprar a rival Dupé por R$ 49,5 milhões

Alpargatas, que fabrica as sandálias, aguarda auditoria para adquirir a empresa

Leo Caldas/Agência Titular
Linha de produção da fábrica da Dupé na cidade de Carpina (PE)


DENISE BRITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO

A São Paulo Alpargatas, empresa brasileira de calçados e artigos esportivos que detém a marca Havaianas, vai adquirir 100% do capital da CBS (Companhia Brasileira de Sandálias), dona da marca Dupé, por R$ 49,5 milhões. O negócio só será concretizado após o processo de "due diligence" (auditoria) que deve ser concluído até o final de outubro.
O presidente da Alpargatas, Marcio Luiz Simões Utsch, adiantou que vai manter a marca Dupé e a única fábrica da CBS, em Carpina (PE), que tem cerca de 1.000 funcionários e capacidade para produzir 30 milhões de pares de sandálias por ano. Em 2006, o faturamento da empresa foi de cerca de R$ 90 milhões. No primeiro semestre, foram vendidos 12 milhões de pares, dos quais 3,6 milhões foram exportados.
A Havaianas também só tem uma fábrica, localizada em Campina Grande (PB), que produziu 162 milhões de pares em 2006. Cerca de 45% da receita bruta anual de vendas da Alpargatas -R$ 1,5 bilhão em 2006- vem da marca, que já é exportada para 70 países.
"O foco é abrir e atingir outros canais de distribuição, em cidades onde a Dupé é mais forte, principalmente no Nordeste", disse Utsch, que prefere dar mais detalhes sobre a aquisição só após a auditoria.
Assim como já tinha feito com os ativos do setor sucroalcooleiro neste ano, o Grupo Tavares de Melo, dono da CBS, decidiu vender a empresa calçadista. As empresas discutiam a transação há mais de cinco anos, mas a última negociação não durou mais de três meses. Segundo Romildo Tavares de Melo, diretor-presidente da CBS, a decisão "faz parte do processo de reposicionamento estratégico" do grupo.
De acordo com a CBS, a Dupé responde por 6% das vendas nacionais de sandálias de borracha de dedo. A Alpargatas contabiliza que as Havaianas têm entre 35% e 40% do segmento de sandálias de dedo. A Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) não tem dados de participação de mercado.

Setor
Em meio às queixas do setor calçadista de perda de competitividade, essas sandálias se mantém como exceção, seguindo com resultados otimistas. "Por ser um produto de baixo valor unitário, os custos de importação funcionam como uma barreira importante à concorrência dos importados. Além disso, sandálias são um produto muito movido a moda e o Brasil é um importante definidor de tendências, enquanto a indústria chinesa não tem a mesma criatividade nem condições de atender a velocidade de mudança de gosto da brasileira", afirmou Milton Cardoso, presidente da Abicalçados.
A Grendene, outra concorrente de peso, acumula crescimento nas exportações nos últimos nove trimestres, segundo a gerente de Relações com Investidores, Doris Wilhelm. No primeiro semestre foram 19,5 milhões de pares exportados ante 16,6 milhões em igual período de 2006 - alta de 17,5%.
"Esperamos que, neste segundo semestre, com campanhas [publicitárias] mais fortes, tenhamos destaque no mercado interno e internacional." Segundo ela, as empresas calçadistas que tiveram problemas mais sérios com a valorização do real e a concorrência dos produtos chineses foram as muito dependentes do mercado internacional ou fornecedoras para marcas de terceiros, pois os produtos chineses, imbatíveis em preço e fracos em design, têm como alvo justamente o segmento sem marca. "Nós estamos no caminho inverso: menos focados em exportação e agregando valor via design e ganhos de produtividade por meio de conquistas tecnológicas."
Considerando o setor calçadista em geral, parte do efeito do desaquecimento verificado entre julho de 2006 e maio de 2007 pôde ser dimensionado pela demissão de 124 mil trabalhadores no período. No primeiro semestre, as exportações apresentaram queda de 4% no volume comparado ao mesmo período de 2006.
O Brasil é o terceiro maior fabricante de calçados do mundo, mas das 4.000 empresas que compõem o parque industrial cerca de uma dezena apenas possui escala de produção. No caso de sandálias de dedo, a produção mínima para obter rentabilidade é estimada em 5 milhões de pares por ano.


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