São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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Europa reluta em seguir receita americana

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

O plano americano para conter a crise foi recebido com reservas na Europa. Londres achou a resposta adequada, mas não deve seguir a receita. Já a chanceler (premiê) da Alemanha, Angela Merkel, foi contundente na crítica à frouxa regulação financeira dos EUA. Políticos de seu governo questionam o bilionário resgate de instituições falidas com dinheiro público. E rejeitam o apelo para adotar o mesmo remédio.
Diante do esforço feito pelos governos europeus para manter déficits orçamentários sob controle, é pouco provável que o apelo do secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, para que outros países adotem medidas semelhantes, seja recebido com algum entusiasmo.
"Os americanos não podem tornar a Alemanha responsável por seu fracasso e sua arrogância", disse Joachim Poss, vice-líder do Partido Social-Democrata, que integra o governo. "Um pacote de resgate semelhante não é planejado nem necessário na Alemanha."
Na sexta-feira, quando o mundo ficou sabendo do plano americano, as Bolsas européias tiveram altas recordes, após uma semana de pânico. Alistair Darling, o ministro das Finanças do Reino Unido, descartou a adoção de um pacote parecido. Mas elogiou a iniciativa do governo americano, com a qual várias instituições britânicas em apuros contam para escapar da degola.
O premiê Gordon Brown disse que tenta convencer governo americano a enviar de volta US$ 8 bilhões transferidos da unidade britânica do Lehman Brothers para Nova York, pouco antes do colapso do banco americano na segunda-feira. A preocupação, segundo Brown, é com o pagamento de salários. "Não de altos financistas, mas de faxineiros e operadores de computadores". Os administradores europeus do banco, com 4.500 funcionários em Londres, entraram na Justiça para recuperar o dinheiro.
No sábado, a chanceler Angela Merkel reiterou suas críticas à frouxidão regulatória nos EUA. Para ela, os mercados não podem operar sem supervisão. "Isso não tem como funcionar em nível internacional", disse.
Merkel queixou-se da pouca atenção que recebeu ao advertir para a necessidade de mais transparência e regulação durante uma conferência no ano passado do G8, o grupo de países mais industrializados. Há um bloqueio dos mercados financeiros à introdução de regras "com o apoio dos EUA e do Reino Unido", disse.
Ontem, depois do pronunciamento de Paulson, as críticas aumentaram na Alemanha. "Tenho dúvidas de que esse é realmente o método mais inteligente", disse Michael Meister, vice-líder do Partido Democrata Cristão, de Merkel. Para ele, os US$ 700 bilhões que o plano custará aos cofres públicos seriam melhor usados para prevenir a próxima crise.
Depois dos recordes da sexta-feira, as Bolsas européias devem voltar à tensão hoje, diante da incerteza sobre o tamanho do guarda-chuva a ser aberto pelo Tesouro americano. Há grande expectativa de que instituições européias afetadas pela crise do "subprime" e que mantêm grandes operações nos EUA, como o suíço UBS, tenham acesso ao resgate.
O UBS foi um dos mais atingidos pela explosão da bolha americana, com perdas de mais de US$ 40 bilhões. As autoridades dos EUA já afirmaram que a cobertura oferecida pelo pacote será estendida ao outro lado do Atlântico, o que banqueiros europeus consideram fundamental para restaurar a confiança dos mercados e assegurar a reputação do sistema bancário dos EUA.


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