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Europa reluta em seguir receita americana
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
O plano americano para conter a crise foi recebido com reservas na Europa. Londres
achou a resposta adequada,
mas não deve seguir a receita.
Já a chanceler (premiê) da Alemanha, Angela Merkel, foi contundente na crítica à frouxa regulação financeira dos EUA.
Políticos de seu governo questionam o bilionário resgate de
instituições falidas com dinheiro público. E rejeitam o apelo
para adotar o mesmo remédio.
Diante do esforço feito pelos
governos europeus para manter déficits orçamentários sob
controle, é pouco provável que
o apelo do secretário do Tesouro americano, Henry Paulson,
para que outros países adotem
medidas semelhantes, seja recebido com algum entusiasmo.
"Os americanos não podem
tornar a Alemanha responsável
por seu fracasso e sua arrogância", disse Joachim Poss, vice-líder do Partido Social-Democrata, que integra o governo.
"Um pacote de resgate semelhante não é planejado nem necessário na Alemanha."
Na sexta-feira, quando o
mundo ficou sabendo do plano
americano, as Bolsas européias
tiveram altas recordes, após
uma semana de pânico. Alistair
Darling, o ministro das Finanças do Reino Unido, descartou
a adoção de um pacote parecido. Mas elogiou a iniciativa do
governo americano, com a qual
várias instituições britânicas
em apuros contam para escapar da degola.
O premiê Gordon Brown disse que tenta convencer governo
americano a enviar de volta
US$ 8 bilhões transferidos da
unidade britânica do Lehman
Brothers para Nova York, pouco antes do colapso do banco
americano na segunda-feira. A
preocupação, segundo Brown,
é com o pagamento de salários.
"Não de altos financistas, mas
de faxineiros e operadores de
computadores". Os administradores europeus do banco,
com 4.500 funcionários em
Londres, entraram na Justiça
para recuperar o dinheiro.
No sábado, a chanceler Angela Merkel reiterou suas críticas
à frouxidão regulatória nos
EUA. Para ela, os mercados não
podem operar sem supervisão.
"Isso não tem como funcionar
em nível internacional", disse.
Merkel queixou-se da pouca
atenção que recebeu ao advertir para a necessidade de mais
transparência e regulação durante uma conferência no ano
passado do G8, o grupo de países mais industrializados. Há
um bloqueio dos mercados financeiros à introdução de regras "com o apoio dos EUA e do
Reino Unido", disse.
Ontem, depois do pronunciamento de Paulson, as críticas
aumentaram na Alemanha.
"Tenho dúvidas de que esse é
realmente o método mais inteligente", disse Michael Meister,
vice-líder do Partido Democrata Cristão, de Merkel. Para ele,
os US$ 700 bilhões que o plano
custará aos cofres públicos seriam melhor usados para prevenir a próxima crise.
Depois dos recordes da sexta-feira, as Bolsas européias devem voltar à tensão hoje, diante
da incerteza sobre o tamanho
do guarda-chuva a ser aberto
pelo Tesouro americano. Há
grande expectativa de que instituições européias afetadas
pela crise do "subprime" e que
mantêm grandes operações
nos EUA, como o suíço UBS, tenham acesso ao resgate.
O UBS foi um dos mais atingidos pela explosão da bolha
americana, com perdas de mais
de US$ 40 bilhões. As autoridades dos EUA já afirmaram que a
cobertura oferecida pelo pacote será estendida ao outro lado
do Atlântico, o que banqueiros
europeus consideram fundamental para restaurar a confiança dos mercados e assegurar a reputação do sistema bancário dos EUA.
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