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Mercado quer regra para agência de risco
Demora em apontar problemas de bancos nos EUA ressuscita discussão sobre credibilidade das empresas de rating
Para especialistas, principal norma deve impedir que companhias analisadas paguem elas mesmas pelos serviços de avaliação
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio às notícias sobre as
sérias dificuldades enfrentadas
pelas instituições financeiras
americanas, o papel e as responsabilidades das agências de
classificação de risco voltaram
a ser objeto de debate pela sua
demora em apontar os problemas de liquidez que os bancos
vinham enfrentando.
Especialistas pedem que se
submetam a uma regulação
mais rígida, mas ressaltam que
não deve haver uma demonização de tais empresas. "Os gestores não podem se esquivar da
sua responsabilidade em estudar ativos nos quais colocam
recursos, e os investidores precisam entender que as análises
das agências não devem ser sua
única fonte de informação a
respeito de uma empresa", diz
Marcelo Cheyne, sócio da Principal Investimentos.
A Fitch Ratings, por exemplo, rebaixou a avaliação do
Lehman Brothers na segunda-feira passada, logo após a tradicional instituição financeira
americana pedir concordata.
O quesito "probabilidade de
inadimplência do emissor no
longo prazo" recebeu nota D,
no último nível da escala, indicando que a empresa não tem
condições de cumprir com as
obrigações. Antes dessa medida, porém, ele estava com nota
A+, de qualidade de crédito alta.
No documento em que anuncia a ação, lista motivos que,
àquela altura, já eram óbvios
para o público em geral. E é só o
que a agência se dispõe a dizer a
respeito -questionada pela
Folha, limitou-se a indicar, por
meio da assessoria de imprensa, tais relatórios publicados no
seu website. "É irreal, claro, um
banco não quebra de um dia para o outro", comenta Cheyne.
É a mesma resposta da
Moody's Investors Service, que
também rebaixou há um semana o rating sênior do Lehman
Brothers de A2 (baixo risco de
crédito) para B3 (alto risco),
ainda três degraus acima do patamar de calote. A Standard &
Poor's diminuiu o rating do
banco de A+ para A em junho e
continuou abaixando até que,
na última terça-feira, chegasse
a D, que indica a falta de pagamento de compromissos.
"Nós conduzimos inspeções
consistentes das entidades que
classificamos", afirmou, por e-mail, o porta-voz Jeff Sexton.
Alguns críticos afirmam que
as agências de classificação de
risco não têm acesso completo
aos dados das companhias, o
que dificulta o seu trabalho.
Isenção
Para os analistas, um projeto
de regulação das agências (idéia
defendida pela Comissão Européia) deve acabar principalmente com o conflito de interesse que faz parte do seu modelo de negócio: o serviço que
prestam é remunerado pelas
próprias companhias avaliadas.
"Não se sabe como, mas tal incongruência tem que mudar",
afirma Paul Moxey, diretor de
governança corporativa e administração de risco da ACCA,
associação mundial de contadores. "Essa é apenas parte da
solução. É muito necessária
mais educação a respeito dos
ratings, do que eles de fato exprimem. As notas não são uma
garantia de segurança."
Na opinião de Moxey, o melhor processo para definir padrões para as agências é reunir
todas as partes envolvidas -as
próprias empresas de ratings,
autoridades, representantes do
mercado financeiro- e discutir
o assunto. "Com regulações é
sempre preciso ter cuidado para não criar novos problemas
resolvendo os já existentes."
Assim como as propostas de
maior controle sobre o sistema
bancário americano, esse deve
ser um tema sobre o qual o próximo presidente dos Estados
Unidos vai se debruçar.
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