São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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Mercado quer regra para agência de risco

Demora em apontar problemas de bancos nos EUA ressuscita discussão sobre credibilidade das empresas de rating

Para especialistas, principal norma deve impedir que companhias analisadas paguem elas mesmas pelos serviços de avaliação

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio às notícias sobre as sérias dificuldades enfrentadas pelas instituições financeiras americanas, o papel e as responsabilidades das agências de classificação de risco voltaram a ser objeto de debate pela sua demora em apontar os problemas de liquidez que os bancos vinham enfrentando.
Especialistas pedem que se submetam a uma regulação mais rígida, mas ressaltam que não deve haver uma demonização de tais empresas. "Os gestores não podem se esquivar da sua responsabilidade em estudar ativos nos quais colocam recursos, e os investidores precisam entender que as análises das agências não devem ser sua única fonte de informação a respeito de uma empresa", diz Marcelo Cheyne, sócio da Principal Investimentos.
A Fitch Ratings, por exemplo, rebaixou a avaliação do Lehman Brothers na segunda-feira passada, logo após a tradicional instituição financeira americana pedir concordata.
O quesito "probabilidade de inadimplência do emissor no longo prazo" recebeu nota D, no último nível da escala, indicando que a empresa não tem condições de cumprir com as obrigações. Antes dessa medida, porém, ele estava com nota A+, de qualidade de crédito alta.
No documento em que anuncia a ação, lista motivos que, àquela altura, já eram óbvios para o público em geral. E é só o que a agência se dispõe a dizer a respeito -questionada pela Folha, limitou-se a indicar, por meio da assessoria de imprensa, tais relatórios publicados no seu website. "É irreal, claro, um banco não quebra de um dia para o outro", comenta Cheyne.
É a mesma resposta da Moody's Investors Service, que também rebaixou há um semana o rating sênior do Lehman Brothers de A2 (baixo risco de crédito) para B3 (alto risco), ainda três degraus acima do patamar de calote. A Standard & Poor's diminuiu o rating do banco de A+ para A em junho e continuou abaixando até que, na última terça-feira, chegasse a D, que indica a falta de pagamento de compromissos.
"Nós conduzimos inspeções consistentes das entidades que classificamos", afirmou, por e-mail, o porta-voz Jeff Sexton.
Alguns críticos afirmam que as agências de classificação de risco não têm acesso completo aos dados das companhias, o que dificulta o seu trabalho.

Isenção
Para os analistas, um projeto de regulação das agências (idéia defendida pela Comissão Européia) deve acabar principalmente com o conflito de interesse que faz parte do seu modelo de negócio: o serviço que prestam é remunerado pelas próprias companhias avaliadas. "Não se sabe como, mas tal incongruência tem que mudar", afirma Paul Moxey, diretor de governança corporativa e administração de risco da ACCA, associação mundial de contadores. "Essa é apenas parte da solução. É muito necessária mais educação a respeito dos ratings, do que eles de fato exprimem. As notas não são uma garantia de segurança."
Na opinião de Moxey, o melhor processo para definir padrões para as agências é reunir todas as partes envolvidas -as próprias empresas de ratings, autoridades, representantes do mercado financeiro- e discutir o assunto. "Com regulações é sempre preciso ter cuidado para não criar novos problemas resolvendo os já existentes." Assim como as propostas de maior controle sobre o sistema bancário americano, esse deve ser um tema sobre o qual o próximo presidente dos Estados Unidos vai se debruçar.


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