São Paulo, terça-feira, 22 de setembro de 2009

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Concentração bancária cresce; 10 bancos têm 89% dos ativos

Com crise financeira global, bancos menores recuaram e grandes se fundiram

Antes da crise, há um ano, os dez maiores detinham 84,3% dos ativos totais; participação dos 5 maiores vai de 66,3% para 77,4%

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise econômica internacional reforçou o perfil de concentração do sistema bancário do país. O que se viu nos últimos trimestres foi a ampliação da fatia controlada pelas maiores instituições financeiras.
Os dez maiores bancos que operam no país, que em setembro de 2008 concentravam 84,3% dos ativos totais, ampliaram sua participação para 88,9% no fim do primeiro semestre deste ano. Em setembro de 2007, o percentual estava em 80,7%. O levantamento, feito pela Folha, se baseou no ranking do setor realizado pelo BC a partir de balanços apresentados por cem bancos comerciais e múltiplos.
Segundo os dados do BC, os cinco maiores bancos viram a participação saltar de 66,3% para 77,4% do total entre setembro de 2008 e junho deste ano. Neste caso, a expansão reflete mais fortemente o impacto das operações que levaram à união de Itaú e Unibanco e BB e Nossa Caixa. É que tanto Unibanco como Nossa Caixa não estavam entre as cinco maiores instituições do país e, dessa forma, incharam o topo do ranking dos bancos.
Apesar de a crise não ter levado bancos a quebrar no país, como ocorreu nos EUA e na Europa, muitas instituições menores perderam espaço nos últimos meses por encontrarem dificuldades crescentes para manter o crédito aquecido e atrair novos aplicadores.
"Os bancos de menor porte, com exceção dos que têm uma carteira de consignado forte, foram mais afetados na crise e perderam espaço no mercado de crédito. O avanço dos grandes bancos teria sido ainda mais expressivo se não tivesse havido a opção de restringir sua carteira de crédito", diz Luis Miguel Santacreu, analista financeiro da Austin Rating.
O crédito tem sido um dos principais motores da expansão dos resultados e do crescimento dos bancos. Durante a crise, ocorreram ao menos dois movimentos relevantes nessa área: de um lado, os bancos -com exceção dos gigantes públicos- emprestaram menos, especialmente a pessoas físicas, para minimizar os riscos de sofrer calote; de outro, as empresas reduziram a demanda por crédito, pois não sabiam o quanto a crise prejudicaria o crescimento econômico.
Dessa forma, com a esperada retomada futura do crédito, principalmente a partir do último trimestre de 2009, os bancos de menor porte podem retomar um pouco do espaço que perderam para os gigantes.
"Presenciamos uma concentração decorrente da conjuntura, que tende a perder fôlego à medida que os bancos médios voltem a crescer e a retomar o crédito", afirma Santacreu.

Menos concorrência
Para os consumidores, a concentração de qualquer setor não costuma ser uma boa notícia. Isso porque maior concentração significa que menos agentes (nesse caso, os bancos) detêm uma fatia mais expressiva do mercado. E, quanto menos concorrência houver, maiores são as chances de preços e custos praticados serem parecidos, enquanto ofertas e oportunidades diminuem.
A operação de compra da Nossa Caixa pelo BB e a fusão de Itaú e Unibanco, ambas anunciadas no ano passado, ilustram bem esse movimento: onde antes o cliente tinha quatro bancos para escolher qual a melhor taxa praticada, agora há apenas duas opções.
Ao menos no que se refere a fusões e aquisições, que colaboram para a concentração bancária, poucos eventos relevantes tendem a ocorrer nos próximos trimestres. Analistas avaliam que dificilmente haverá tão cedo alguma operação de grande porte, como as de 2008. As últimas especulações citavam Citibank e HSBC, que, devido às dificuldades de suas matrizes no exterior, poderiam ser vendidos por aqui. Os bancos sempre as negaram.


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