São Paulo, terça-feira, 22 de setembro de 2009

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Exportador deve cortar custo, diz Mantega

Para o ministro da Fazenda, taxa de câmbio apreciada é o preço que o Brasil paga pelo "sucesso" em meio à crise mundial

Representantes da indústria respondem que setor já reduziu seus gastos e enfrenta tributos elevados e estrutura de logística ruim

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

PAULA NUNES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o câmbio valorizado é "o preço do sucesso" do país, cuja economia tem apresentado melhor desempenho do que a média durante a crise mundial. Dessa forma, o Brasil atrai a atenção e os recursos de investidores estrangeiros. Mantega admitiu que a queda do dólar atrapalha os exportadores, mas afirmou que eles precisam diminuir os custos e aumentar a competitividade a fim de amenizar as perdas.
"É bom que os investidores tenham confiança no país, mas excesso de confiança mata", rebate Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). "A economia real é pequena diante da enxurrada de dólares que entram no país tendo como destino o mercado financeiro."
Ele defende que o câmbio no país continue sendo flutuante; entretanto, pede uma atuação mais firme do Banco Central nas aquisições da moeda americana para reforçar as reservas internacionais. "O BC não está comprando o suficiente. Há um excesso que derruba a taxa [de conversão entre as divisas]." Na sua opinião, o governo precisa designar a alguma de suas instâncias a função de cuidar da estabilidade cambial.
Para José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), outra iniciativa possível de se aplicar é a adoção de algum tipo de quarentena para o capital estrangeiro ou de uma tributação que incida sobre os recursos quando eles permanecem no país por um período curto demais.

Tendências
Os representantes dos exportadores também rejeitam a sugestão de Mantega para que o setor corte custos.
"Quem disse que os empresários não estão fazendo a sua parte, que a produtividade das indústrias não melhorou nos últimos anos? Foi assim que sobreviveram a uma taxa de câmbio que chegou a R$ 1,60", diz Giannetti da Fonseca. "Os gastos do governo com custeio, ao contrário, só fazem aumentar. O setor público não é nenhum exemplo nesse campo."
Ademais, continua o economista, as despesas das manufaturas são bastante oneradas pela alta carga tributária e pelas deficiências da infraestrutura logística brasileira.
Castro reforça. "Não existe mais onde cortar. As indústrias já reduziram as quantidades exportadas porque estavam sofrendo prejuízo. O próximo passo é importar insumos mais baratos, o que faria crescer o desemprego no país."
De acordo com a Fiesp, a elevação da participação das vendas externas na produção industrial do país (o chamado coeficiente de exportação) e o encolhimento da parcela do consumo do setor que é comprada de fora (o coeficiente de importação), observados no primeiro semestre deste ano, em boa medida como resultado da depreciação do real ante o dólar, não devem se sustentar nos próximos meses.
O coeficiente de exportação -que, de 20,3% no primeiro trimestre de 2009 subiu para 22,9% no segundo- deve tornar a recuar, segundo a entidade, retomando a trajetória de baixa de antes da crise.
Quanto ao de importação -que, no mesmo período caiu de 18,9% para 18,1%- espera-se novas altas. Desde 2003, esse indicador só fazia subir.


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