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Exportador deve cortar custo, diz Mantega
Para o ministro da Fazenda, taxa de câmbio apreciada é o preço que o Brasil paga pelo "sucesso" em meio à crise mundial
Representantes da indústria respondem que setor já reduziu seus gastos e enfrenta tributos elevados e estrutura de logística ruim
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
PAULA NUNES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o
câmbio valorizado é "o preço
do sucesso" do país, cuja economia tem apresentado melhor
desempenho do que a média
durante a crise mundial. Dessa
forma, o Brasil atrai a atenção e
os recursos de investidores estrangeiros. Mantega admitiu
que a queda do dólar atrapalha
os exportadores, mas afirmou
que eles precisam diminuir os
custos e aumentar a competitividade a fim de amenizar as
perdas.
"É bom que os investidores
tenham confiança no país, mas
excesso de confiança mata", rebate Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento
de Relações Internacionais e
Comércio Exterior da Fiesp
(Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo). "A economia real é pequena diante da
enxurrada de dólares que entram no país tendo como destino o mercado financeiro."
Ele defende que o câmbio no
país continue sendo flutuante;
entretanto, pede uma atuação
mais firme do Banco Central
nas aquisições da moeda americana para reforçar as reservas
internacionais. "O BC não está
comprando o suficiente. Há um
excesso que derruba a taxa [de
conversão entre as divisas]." Na
sua opinião, o governo precisa
designar a alguma de suas instâncias a função de cuidar da
estabilidade cambial.
Para José Augusto de Castro,
vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do
Brasil), outra iniciativa possível
de se aplicar é a adoção de algum tipo de quarentena para o
capital estrangeiro ou de uma
tributação que incida sobre os
recursos quando eles permanecem no país por um período
curto demais.
Tendências
Os representantes dos exportadores também rejeitam a
sugestão de Mantega para que o
setor corte custos.
"Quem disse que os empresários não estão fazendo a sua
parte, que a produtividade das
indústrias não melhorou nos
últimos anos? Foi assim que sobreviveram a uma taxa de câmbio que chegou a R$ 1,60", diz
Giannetti da Fonseca. "Os gastos do governo com custeio, ao
contrário, só fazem aumentar.
O setor público não é nenhum
exemplo nesse campo."
Ademais, continua o economista, as despesas das manufaturas são bastante oneradas pela alta carga tributária e pelas
deficiências da infraestrutura
logística brasileira.
Castro reforça. "Não existe
mais onde cortar. As indústrias
já reduziram as quantidades
exportadas porque estavam sofrendo prejuízo. O próximo
passo é importar insumos mais
baratos, o que faria crescer o
desemprego no país."
De acordo com a Fiesp, a elevação da participação das vendas externas na produção industrial do país (o chamado
coeficiente de exportação) e o
encolhimento da parcela do
consumo do setor que é comprada de fora (o coeficiente de
importação), observados no
primeiro semestre deste ano,
em boa medida como resultado
da depreciação do real ante o
dólar, não devem se sustentar
nos próximos meses.
O coeficiente de exportação
-que, de 20,3% no primeiro
trimestre de 2009 subiu para
22,9% no segundo- deve tornar a recuar, segundo a entidade, retomando a trajetória de
baixa de antes da crise.
Quanto ao de importação
-que, no mesmo período caiu
de 18,9% para 18,1%- espera-se novas altas. Desde 2003, esse
indicador só fazia subir.
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