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PREÇOS
Indústria já prepara remarcação de até 20%; "não temos como fazer mágica", afirma Furlan, da Sadia
Dólar a R$ 2 desencadeia reajustes
FÁTIMA FERNANDES
LUCIA REGGIANI
da Reportagem Local
O dólar na casa dos R$ 2 está desencadeando reajustes de preços
em diversos setores da indústria,
de alimentos a farmacêutica.
As empresas dizem ter chegado
no limite da absorção dos aumentos de custos, acumulados com a
desvalorização do real.
Da mudança no câmbio, em janeiro, até ontem, o dólar subiu
64,6%, encarecendo as matérias-primas importadas e aumentando o peso das dívidas em dólar.
"O dólar a R$ 2 tem impacto direto nos preços dos insumos importados. Além disso, muitas empresas, para se modernizar, tomaram empréstimos em dólar, e isso
significa aumento de custo", diz
Clarice Seibel, diretora da Fiesp,
federação das indústrias de São
Paulo). Ontem, o dólar bateu em
R$ 2 e fechou a R$ 1,992.
O resultado são reajustes de
preços de até 20% a partir de agora até o final do ano. A remarcação já começou.
A Seara, do grupo Bunge, reajustou em 10% os preços dos derivados de frango e suínos que produz e prepara aumento de mais
10% até o final do ano.
"A alta do dólar provocou aumento no preço do farelo de soja e
do milho, que têm cotação internacional, e no das embalagens. O
impacto sobre os nossos custos
foi de 20%", afirma Sérgio Waldrich, vice-presidente da Seara.
A concorrente Sadia também
vai aumentar preços. Luiz Fernando Furlan, presidente do conselho administrativo da Sadia, até
ironiza o pedido de contenção de
preços feito anteontem aos empresários pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Quando ouço declarações desse tipo, lembro-me do dito popular "Faça o que eu digo, mas não
faça o que eu faço". Todos os índices de inflação sobem porque os
preços controlados pelo governo
os motivaram a subir", afirmou
Furlan, que recebeu ontem o Prêmio Excelência 99, em São Paulo.
Para Furlan, as empresas não
podem incorporar custos e ficar
no prejuízo. "Leis do mercado devem valer na alegria e na tristeza,
não temos como fazer mágica."
Entre os produtos da empresa
que terão maior variação de preços está a linha de peixes, que é totalmente importada, e produtos
cujo insumo é o milho, que este
ano também foi importado.
"Com esses produtos, o espaço de
negociação é zero."
A Socma Alimentos, fabricante
de massas alimentícias das marcas Adria, Isabela e Basilar, vai aumentar seus preços de 10% a 12%
a partir de novembro. "Estamos
brigando com os supermercados
para reajustar", diz Dácio Pozzi,
presidente da Socma. Neste ano,
os preços do macarrão já subiram
14%, em média.
A indústria farmacêutica está
estudando os aumentos de custos
decorrentes da desvalorização do
real e vai levá-los ao conhecimento do governo. "O setor é muito
dependente de insumos importados", afirma Serafim Branco Neto, secretário-executivo da Abifarma (Associação Brasileira da
Indústria Farmacêutica).
Na indústria eletroeletrônica,
também dependente de componentes importados, o reajuste de
preços é necessário, mas não tem
data para acontecer.
"Não dá para repassar aumento
de custos já porque a queda de demanda não está deixando", diz
Antônio Corrêa de Lacerda, diretor da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica). Mas a tentativa é constante
e já cria, segundo ele, impasse nas
negociações entre indústrias, fornecedores e redes de varejo.
Tudo porque os empresários
previam que dólar ficaria, na média, na casa de R$ 1,70, o que seria
o suficiente para dar equilíbrio às
exportações e às importações.
"O dólar a R$ 2 é um alerta para
a pressão inflacionária. E isso é
generalizado pelos vários setores.
Qual é hoje a indústria que prescinde de insumos importados?",
questiona Clarice Seibel.
Para ela, se a cotação do dólar
recuar, mesmo que seja aos poucos, será um sinal positivo. Mas o
impacto sobre os custos e a margem de lucro já terá acontecido.
"Embora seja natural para o
mercado financeiro, a oscilação
do dólar é ruim para o setor produtivo, que tem de tomar decisões
de longo prazo", afirma Lacerda.
Na avaliação dos empresários
ouvidos pela Folha, o que pode
impedir grandes remarcações é a
retração do consumidor.
Colaborou Rui da Silva Santos, da Reportagem Local
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