São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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Congresso discute criação "humana" do gado

JOSÉ SERGIO OSSE
ENVIADO A UBERABA (MG)

Rediscutir as formas da produção nacional de carne bovina é um dos objetivos do 5º Congresso Brasileiro das Raças Zebuínas, iniciado no domingo. Os debates visam conscientizar os produtores da necessidade de incluir no processo de criação conceitos de manejo cada vez mais exigidos no exterior, como, por exemplo, o bem-estar animal.
Esses conceitos levam em conta desde o impacto ambiental da produção até o tratamento dispensado ao animal. Baseiam-se em padrões de conduta rígidos e que, se seguidos à risca, garantem uma criação mais saudável, "humana" e sem agressão ambiental.
Além de ser uma exigência crescente para a exportação, esses conceitos podem ser bastantes lucrativos para o produtor. Essas práticas não apenas melhoram a qualidade da carne como também otimizam a produção nacional e tornam mais eficiente.
Segundo Luiz António Josahkian, diretor da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu) e um dos organizadores do congresso, a otimização do processo produtivo pode melhorar em até 30% algumas etapas da criação. Para ele, há um gargalo de qualidade no cuidado dos animais entre a desmama e o abate.
A adoção de técnicas diferenciadas pode fazer essa etapa da produção mais eficiente. Assim, os animais ficariam prontos para o abate mais cedo e, para ele, o abate nacional anual poderia aumentar 50%, passando de 20 milhões de cabeças por ano para 30 milhões de cabeças anuais.
A idéia do evento é despertar nos produtores a consciência de que alterar a forma de produção não é só uma maneira de atender o mercado importador mas também de reduzir custos no longo prazo e aumentar os lucros.
Os sucessivos palestrantes apresentarão, segundo Josahkian, diferentes formas eficientes de manejo diferenciado que atendem as exigências internacionais e elevam o lucro do produtor. Ele afirma, porém, que nem tudo vale para todos, que cada região deve adotar só as práticas que trarão algum benefício para o produtor.
"Não existe solução única para todo o Brasil. É preciso regionalizar as práticas e técnicas, de forma a atender as demandas e necessidades particulares de cada região produtora", diz. "Dos cerca de 900 participantes, acredito que apenas uns 10% vão colocar realmente em prática algo que aprenderam aqui. Mas o bom é que essa discussão vai despertar interesses pontuais nos produtores, que irão, mais tarde, atrás das práticas que sejam importantes para eles."
De acordo com Josahkian, hoje até mesmo as faculdades de zootecnia e veterinária estão começando a dar relevância aos novos métodos e conceitos de manejo e criação, exigidos pelo mercado. A explicação disso é que, de certa forma, os pecuaristas já acreditam que essas exigências são uma tendência irreversível do mercado.


O jornalista José Sergio Osse viajou a Uberaba a convite da ABCZ

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