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NÓ COMERCIAL
Em seminário no Congresso, embaixadores americano e brasileiro mantêm divergências sobre as negociações
EUA dizem que Alca pode sair sem Brasil
ANDRÉ SOLIANI
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Alca (Área de Livre Comércio
das Américas) existirá com ou
sem o Brasil. O recado foi dado
ontem em Brasília pelo embaixador norte-americano Peter Allgeier, que divide com o embaixador brasileiro Adhemar Bahadian
a presidência das negociações.
Questionado pela Folha se seria
possível a criação da Alca, caso o
Brasil decidisse não assinar o
acordo em 2005, Allgeier respondeu: "Essa é uma questão independente de cada país. Esperamos que os 34 países assinem,
mas, se um decidir que não, eu
não vejo por que impedir que os
demais sigam adiante".
As divergências entre o Brasil e
os Estados Unidos foram reafirmadas por várias declarações de
Allgeier e Bahadian, que participaram de seminário no Congresso brasileiro sobre "O Papel dos
Legisladores na Alca". Ambos os
países fizeram questão de mostrar
que seus países, ao menos por enquanto, não estão preparados para mudar suas propostas.
O seminário, aberto na noite de
segunda-feira, foi encerrado ontem com a participação do presidente da Câmara dos Deputados,
João Paulo Cunha (PT-SP), e do
secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães.
A paralisia das negociações, na
opinião de Bahadian, se deve a
"uma atitude inadequada de algumas partes envolvidas [leia-se
EUA] que combinam a falta de
realismo para avaliar o difícil quadro atual de negociação e um excessivo maximalismo na busca de
resultados que já se mostraram irrealizáveis na prática".
A estratégia defendida pelo Itamaraty e pelo Mercosul na Alca é
costurar acordos comerciais bilaterais com os demais sócios do futuro bloco. O objetivo é retirar da
mesa temas sensíveis para o país,
como compras governamentais,
propriedade intelectual e investimentos, pontos que os americanos insistem em discutir na Alca.
Allgeier, por sua vez, foi enfático
ao dizer que seu país não pretende
construir a Alca a partir de um
emaranhado de acordos bilaterais. Os EUA querem um único
acordo entre os 34 países da Alca,
no qual estariam os temas que o
Brasil pretende excluir. Além disso, a posição americana deixa de
fora o que interessa ao governo
Lula: subsídios à agricultura e defesa comercial (antidumping).
As declarações das autoridades
brasileiras, além de duras, refletem a proposta do Mercosul apresentada na reunião ministerial
dos negociadores em Trinidad e
Tobago, criticada por Allgeier.
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