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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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NÓ COMERCIAL

Em seminário no Congresso, embaixadores americano e brasileiro mantêm divergências sobre as negociações

EUA dizem que Alca pode sair sem Brasil

ANDRÉ SOLIANI
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Alca (Área de Livre Comércio das Américas) existirá com ou sem o Brasil. O recado foi dado ontem em Brasília pelo embaixador norte-americano Peter Allgeier, que divide com o embaixador brasileiro Adhemar Bahadian a presidência das negociações.
Questionado pela Folha se seria possível a criação da Alca, caso o Brasil decidisse não assinar o acordo em 2005, Allgeier respondeu: "Essa é uma questão independente de cada país. Esperamos que os 34 países assinem, mas, se um decidir que não, eu não vejo por que impedir que os demais sigam adiante".
As divergências entre o Brasil e os Estados Unidos foram reafirmadas por várias declarações de Allgeier e Bahadian, que participaram de seminário no Congresso brasileiro sobre "O Papel dos Legisladores na Alca". Ambos os países fizeram questão de mostrar que seus países, ao menos por enquanto, não estão preparados para mudar suas propostas.
O seminário, aberto na noite de segunda-feira, foi encerrado ontem com a participação do presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), e do secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães.
A paralisia das negociações, na opinião de Bahadian, se deve a "uma atitude inadequada de algumas partes envolvidas [leia-se EUA] que combinam a falta de realismo para avaliar o difícil quadro atual de negociação e um excessivo maximalismo na busca de resultados que já se mostraram irrealizáveis na prática".
A estratégia defendida pelo Itamaraty e pelo Mercosul na Alca é costurar acordos comerciais bilaterais com os demais sócios do futuro bloco. O objetivo é retirar da mesa temas sensíveis para o país, como compras governamentais, propriedade intelectual e investimentos, pontos que os americanos insistem em discutir na Alca.
Allgeier, por sua vez, foi enfático ao dizer que seu país não pretende construir a Alca a partir de um emaranhado de acordos bilaterais. Os EUA querem um único acordo entre os 34 países da Alca, no qual estariam os temas que o Brasil pretende excluir. Além disso, a posição americana deixa de fora o que interessa ao governo Lula: subsídios à agricultura e defesa comercial (antidumping).
As declarações das autoridades brasileiras, além de duras, refletem a proposta do Mercosul apresentada na reunião ministerial dos negociadores em Trinidad e Tobago, criticada por Allgeier.


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