|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
RECEITA ORTODOXA
Plano inclui prorrogar CPMF e diminuir alíquota até 2013, flexibilizar Orçamento e reduzir gasto com juro
Governo prepara ajuste fiscal de longo prazo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A equipe econômica apresentará ao presidente Luiz Inácio Lula
da Silva na próxima semana um
plano de ajuste fiscal de longo
prazo a ser discutido com a oposição. É uma agenda econômica comum, acima do atual clima de
guerra entre PT e oposição que
ameaça se estender até 2006.
Politicamente, o objetivo é evitar que no ano de sucessão presidencial (2006) o Brasil volte a sofrer a turbulência eleitoral pela
qual passou em 2002, quando o
risco-país e a inflação subiram.
Economicamente, a meta é dar
sustentação financeira a dois futuros presidentes independentemente do partido.
O ministro Paulo Bernardo
(Planejamento) diz que o plano
prevê um ajuste fiscal de "longo
prazo, de cinco a oito anos". As
principais medidas do plano são
prorrogar a CPMF (Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira) até 2009 com a alíquota atual de 0,38%, passar a diminuir ano a ano esse percentual
até que atinja, em 2013, 0,08% e
diminuir gradativamente a fatia
do Orçamento da União que tem
destinação obrigatória por lei.
Para ter maior liberdade de gastos, a intenção é elevar a parcela
do Orçamento federal que o governo pode gastar sem carimbo.
Hoje, a DRU (Desvinculação de
Receitas da União) diz que 20%
do Orçamento não precisa obedecer às vinculações constitucionais. O plano prevê 35%.
"Se o Lula se reeleger, vai dizer
ao Congresso que precisa renovar
a CPMF e aumentar o percentual
da DRU. Se um adversário ganhar, vai fazer a mesma coisa. É
uma agenda que interessa a governo e oposição, que deve estar
acima da crise política e que vai
evitar tensão econômica em 2006
por causa da eleição", diz Bernardo, que discutiu o plano com o
deputado federal Delfim Netto
(PMDB-SP), um dos pais da idéia.
A CPMF e a DRU atuais têm validade até dezembro de 2007. O
futuro governo deverá dedicar
2006 a renovar esses mecanismos,
fundamentais para a União fechar
sua contas. Ambas são emendas
constitucionais, o que exige quórum alto e rito mais complicado
para que sejam aprovadas no
Congresso -três quintos da Câmara e do Senado em dois turnos.
Bernardo diz que já há forte
consenso entre governo e oposição sobre pilares da política econômica, como o fiscal: "Se a gente
resolver isso, podemos começar
2007 discutindo outras reformas,
como a política, a do Orçamento e
a continuidade das mudanças microeconômicas, que avançaram
muito no governo Lula".
Segundo Bernardo, o plano é
"uma proposta de diminuição do
tamanho do Estado de forma responsável, que abrirá espaço para
uma taxa de juros menor e para a
queda da carga tributária". Ele
disse que os colegas Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Dilma
Rousseff (Casa Civil) viram com
"simpatia" a idéia. Lula vem cobrando da equipe econômica alternativas para sair do rigor fiscal
e monetário. O presidente disse a
auxiliares que discutirá o plano de
ajuste fiscal de longo prazo na
próxima semana.
Bernardo afirma que o plano
deve ter uma "meta" de alcançar
déficit nominal zero -ter receita
suficiente para pagar também as
despesas com os juros da dívida
pública-, mas não uma previsão
legal obrigatória. Hoje, esse déficit
é de 3% do PIB (Produto Interno
Bruto). Era de 10% em 2002.
A intenção do plano é limitar as
chamadas despesas correntes
(custeio, previdência, servidores
etc.) a 17,5% do PIB e tentar reduzi-las anualmente em 0,01% do
PIB (cerca de R$ 2 bilhões).
Se o plano for aprovado por Lula e negociado com a oposição,
Bernardo crê que o Brasil terá
condição de dobrar no período de
cinco anos os recursos que destina para investimentos (gastos novos), fundamentais para estimular o crescimento da economia.
Hoje, o governo prevê cerca de
R$ 14 bilhões para investimentos,
mas dificilmente o executa na íntegra. Haverá resistência a vencer
dos setores que defendem que sejam mantidos os patamares de
vinculação para as áreas de saúde
e educação.
Texto Anterior: Petróleo: Estatal tomará campos de estrangeiras Próximo Texto: Palocci quer mudar o modelo de gasto social Índice
|