São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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ARTIGO

Wal-Mart merece o Prêmio Nobel

JOHN TIERNEY
COLUNISTA DO "NEW YORK TIMES"

NÃO PRETENDO reclamar do Prêmio Nobel da Paz concedido na semana passada ao Grameen Bank e a seu fundador, Muhammad Yunus. Considero-o totalmente merecido. O Grameen Bank fez mais que o Banco Mundial para ajudar os pobres e Yunus ajudou muito mais que Jimmy Carter, Bono Vox ou qualquer filantropo.
Mas será que ele fez mais que alguém que jamais recebeu o prêmio, Sam Walton? Será que qualquer outra organização do mundo tirou mais pessoas da pobreza do que o Wal-Mart?
O Grameen Bank é tanto uma inspiração como uma lição sobre limitações inerentes. Comparado aos empreendimentos de caridade, é uma instituição notável em termos de escala. Os microempréstimos concedidos ajudaram milhares de camponeses a criar microempresas ou a iniciar negócios de venda de ovos ou leite.
Mas existe um limite para os montantes que camponeses podem movimentar vendendo ovos uns aos outros -um teto de palha, como diz Michael Strong. Strong, diretor da Flow, organização que promove o espírito empresarial, é fã do Grameen Bank, mas considera que os camponeses poderiam escapar à pobreza mais rápido com empregos em fábricas.
A melhor maneira para que as aldeias do Terceiro Mundo explorem "a vasta disponibilidade de riqueza nos países desenvolvidos", argumenta, seria vender seus produtos à maior rede de varejo do mundo, o Wal-Mart. Strong desafiou qualquer um a indicar uma organização que tenha feito mais do que o Wal-Mart para reduzir a pobreza no Terceiro Mundo.
Até agora, obteve só respostas indignadas dos críticos da empresa, mas ninguém ofereceu indicação convincente para o posto de mais efetiva organização de combate à pobreza.
Produzir sapatos ou brinquedos para o Wal-Mart na América Latina ou na China pode parecer um inferno para universitários dos EUA, e certas fábricas deveriam tratar os operários melhor, como Strong reconhece. Mas existem bons motivos para que aldeões optem por se mudar para cidades distantes centenas de quilômetros em busca de emprego.
A maior parte dos empregos "exploratórios", mesmo aqueles que pagam só US$ 2 ao dia, oferece renda suficiente para tirar o trabalhador da pobreza e muitas vezes elevá-lo bem acima desse patamar, segundo estudo dos economistas Benjamin Powell e David Skarbek em dez países asiáticos e latino-americanos.
Nos EUA, o debate econômico sobre o Wal-Mart gira quase exclusivamente em torno dos efeitos para os trabalhadores norte-americanos.
As indicações mais confiáveis são de que, embora a concorrência imposta pelo Wal-Mart possa (ou não) deprimir os salários de certos trabalhadores, em termos médios os norte-americanos se beneficiam da tendência, porque economizam muito ao comprar nas lojas do grupo.
Alguns críticos argumentam que a economia não justifica os deslocamentos sociais causados pelo esforço do Wal-Mart para reduzir custos. Eles prefeririam que o Wal-Mart e outras redes pagassem salários maiores a seus funcionários e vendessem mais produtos fabricados por norte-americanos.
Mas esse argumento só faz sentido moral se sua preocupação é preservar empregos e proteger salários dos trabalhadores dos EUA. Se você acredita na visão de Bono Vox e quer "transformar a pobreza em história", será que sua opinião não deveria ser menos tacanha?
Alguns dos aldeões preferem trabalhar na lavoura ou operar pequenas empresas e têm sorte de contar com empréstimos do Grameen Bank. Mas outros prefeririam ganhar mais trabalhando em fábricas. Se você quer ajudá-los, lembre-se do novo slogan de Strong: "Aja localmente, pense globalmente: compre no Wal-Mart".


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