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Com piora da crise, Lula já fala em cortar o Orçamento
Ele diz que, se arrecadação for menor, não haverá dinheiro "para todo mundo'
"Imagina visitar no hospital companheiro em fase terminal e falar: Ó, ontem morreu um cara igualzinho", diz, ao explicar otimismo
Sebastião Moreira/Efe
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Presidente Lula na SBPC
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que poderá reduzir o Orçamento dos
ministérios se a crise financeira
mundial atingir o Brasil.
A afirmação foi feita a cientistas na comemoração dos 60
anos da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência) após ser questionado
se a crise afetaria a destinação
de recursos para a ciência.
Lula respondeu que, para
não vender ilusões, não poderia
"assumir o compromisso com
vocês de que, se houver uma
crise econômica que abale o
Brasil, a gente vai manter todo
o dinheiro de todos os ministérios como está". "Até porque, se
a União arrecadar menos, vai
ter menos dinheiro para todo
mundo", afirmou.
Desde o agravamento da crise global, em setembro, Lula vinha dizendo que o Brasil sofreria pouco: "Ela [crise] é lá [EUA]
um tsunami, e aqui vai chegar
uma marolinha, que não vai dar
nem para esquiar", disse ele no
início deste mês.
Mas, desde então, o dólar
mantém alta firme em relação
ao real (ontem subiu 5%), grandes empresas revelam perdas
significativas com o câmbio e
suspendem investimentos. Já a
confiança dos industriais despencou, apontou pesquisa da
CNI divulgada ontem.
Aos cientistas, Lula ressaltou
que não há ministério "menos
importante" e comparou o governo a uma casa em que os
pais têm quatro ou cinco filhos.
"Quando chega o fim do ano
um quer um tênis, um quer
uma calça. E o dinheiro não dá.
Você vai ter que, em vez de dar
uma calça, dar uma bermuda
mais barata para um e, em vez
de dar uma meia que venha até
o joelho, dar uma meia pequenininha. É sempre um cobertor
que não dá para cobrir o pé e a
cabeça", afirmou.
O presidente disse que a crise
financeira mundial resgatou "o
gostinho pelo papel do Estado".
"Até o [presidente dos EUA,
George W.] Bush está falando
em comprar ações de bancos
privados. Isso é muito importante porque o coração do regime capitalista começa a tomar
gostinho pelo papel do Estado,
que esteve desmoralizado nos
últimos 30 anos", afirmou.
E, em outra comparação "caseira", Lula chamou o mercado
de filho adolescente. "Quando o
filho adolescente vem atrás do
pai? Quando está sem dinheiro
ou doente (...). O mercado que
ditou regras quando precisa recorre ao paizão que é o Estado",
disse o presidente.
Otimismo
Apesar da ressalva de poder
ter que retirar recursos dos ministérios em caso de crise, o
tom do discurso do presidente
aos cientistas foi, no geral, otimista.
"É importante que a gente tenha em conta que essa crise pode chegar muito mais leve do
que ela chegou nos países de
origem, sem nos esquecermos
de que é a primeira crise que
acontece primeiro nos países
ricos para depois ir para a periferia", disse. "E quem está dando solidez para a economia
mundial são exatamente esses
países periféricos, como Brasil,
China, Índia, África do Sul, México e outros."
Ele ponderou que o país pode, no entanto, sofrer as conseqüências de uma recessão no
mundo desenvolvido -o que
causaria "um certo problema
nas exportações de todos os
países do mundo, inclusive do
Brasil".
Porém, até esse reflexo ele
opina que pode não ser tão severo. "Acho que o Brasil sofrerá
menos porque diversificou
muito sua parceria comercial.
Há dez anos nós tínhamos praticamente 27% da nossa balança comercial com os EUA. Hoje
nós temos pouco mais de 14%."
Sobre seu otimismo, ele disse
que não poderia agir diferente.
"Imagina visitar no hospital
um companheiro que está em
fase terminal, sentar na beira
da cama e falar: "Ó, ontem morreu um cara igualzinho'".
(AFRA BALAZINA)
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