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Gastos públicos cresceram 10% até agosto
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar da insistência do
governo de que os gastos públicos crescem menos que o
aumento do PIB (Produto
Interno Bruto), as despesas
estão maiores neste ano. Os
gastos de custeio, excluídos
os investimentos já realizados, tiveram aumento de
10% de janeiro a agosto.
A comparação feita pelo
Tesouro Nacional e pelo presidente Luiz Inácio Lula da
Silva para demonstrar que
houve queda nos gastos usa
como base a previsão de
crescimento do PIB nominal, de 12,6%. O PIB nominal
é calculado pelo crescimento
da economia, mais o aumento de preços medido pelo IBGE, um índice conhecido como deflator do PIB. É unânime entre os economistas que
a apresentação de um resultado real desconta só a inflação do período, medida pelo
IPCA ou pelo IGP. O IPCA de
janeiro a agosto foi de 4,48%.
Os gastos federais somaram R$ 306,8 bilhões nos oito primeiros meses deste
ano. Os dados de setembro
ainda não foram divulgados.
A maior despesa do Poder
Executivo é com a folha de
salários dos servidores, de
R$ 82,1 bilhões até agosto. Os
investimentos também cresceram, em ritmo mais acelerado que as outras despesas,
mas partiram de uma base de
comparação menor. No acumulado deste ano, os investimentos públicos federais somam R$ 15,9 bilhões, 42% a
mais que no mesmo período
do ano passado.
Corte de gastos
O especialista em finanças
públicas Amir Kair lembra
que o corte de gastos nesse
momento em que o país começa a entrar em desaceleração pode não ser a melhor
escolha. Ele acredita que o
governo federal deveria
manter as despesas para evitar uma queda ainda maior
do PIB. Isso porque o setor
público, ao gastar mais, também injeta mais dinheiro na
economia.
"Eu concordo com o prêmio Nobel. Se o governo não
gastar, vai acabar prejudicando a todos. Mas é importante ver que tipo de gasto
será feito. Tem que ser uma
despesa que ativa a economia, como investimentos.
Fazer um gasto ruim pode
ser pior", afirma Kair, citando o conselho do prêmio Nobel de economia Paul Krugman.
Em artigo publicado no
"New York Times" e reproduzido na Folha no sábado
passado, Krugman diz que
"aumentar os gastos públicos é a decisão acertada a ser
tomada pelo governo dos Estados Unidos".
Kair afirma que o governo
poderá fazer cortes nas despesas de custeio ao bloquear
verbas do Orçamento. Com
isso, alguns projetos que até
agora não foram colocados
em prática ficariam definitivamente na gaveta.
Outra possibilidade é melhorar a gestão do Orçamento, o que inclui renegociação
com empresas terceirizadas
e a busca por serviços mais
baratos. O especialista diz
que não será fácil fazer uma
mudança estrutural nos gastos porque a maioria das despesas estão engessadas, como a folha de salários.
Além dos gastos com os
servidores, os ministérios
que recebem a maior verba
do governo para despesas
não-obrigatórias são Saúde,
Educação e Desenvolvimento Social e Combate à Fome,
responsável pelo programa
Bolsa Família.
(JULIANA ROCHA)
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