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Crédito recuou 13% devido à crise, afirma Meirelles
Na Câmara, Mantega diz que governo pode tomar "medidas fiscais adicionais"
Ministro também descarta
socorro a empresas com
perdas no câmbio; segundo
ele, "o governo não vai
cobrir nem um tostão"
GUSTAVO PATU
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O agravamento da crise nos
mercados internacionais levou
os bancos brasileiros a reduzirem em 13% a concessão de crédito no país nos primeiros oito
dias úteis de outubro, segundo
informou ontem o presidente
do Banco Central, Henrique
Meirelles. Apesar da queda, ele
argumentou que a situação não
é preocupante, pois o volume
disponibilizado pelas instituições financeiras ainda está acima do registrado em 2007.
Ainda não há números fechados pelo BC para o comportamento do crédito de setembro
para cá. O crescimento acumulado entre janeiro e setembro
estava em 18%. Nos 12 meses
fechados em agosto, houve um
aumento de 31,8%. Em valores
absolutos, o volume de crédito
fechou agosto em R$ 1,11 trilhão, equivalente a 38% do PIB
(Produto Interno Bruto).
Já o ministro Guido Mantega
(Fazenda) disse que o governo
poderá tomar "medidas fiscais
adicionais" em reação aos efeitos da crise internacional. Ao
lado de Meirelles, Mantega expôs, no plenário da Câmara, o
diagnóstico oficial do governo
sobre o alcance da crise e as
providências já adotadas para
enfrentar a escassez de crédito
e a disparada do dólar.
O ministro se defendeu das
críticas da oposição de que estaria subestimando os impactos no Brasil. "Eu não acredito
que esta crise esteja acabando.
Ainda vai nos dar muita dor de
cabeça e muito trabalho."
Rebateu, também, os ataques
do PSDB e do DEM ao aumento
dos gastos públicos. "Estamos
dando um sinal fiscal forte",
disse, em referência ao aumento promovido neste ano na meta de superávit primário (a parcela das receitas destinada ao
abatimento da dívida pública),
que passou de 3,8% para 4,3%
do PIB mesmo antes do agravamento da crise. "Se preciso for,
tomaremos medidas fiscais
adicionais", acrescentou, sem
deixar claro se mencionava a
permanência da nova meta.
Meirelles fez uma apresentação mais técnica, em que procurou demonstrar a queda da
vulnerabilidade do país -porque o setor público passou de
devedor a credor externo e tem
cerca de US$ 200 bilhões em
reservas. Desse total, recordou,
US$ 8,5 bilhões foram vendidos
ao mercado nos últimos 30
dias, fora o equivalente a US$
14,4 bilhões pagos em moeda
nacional em operações igualmente destinadas a conter a alta do dólar. "Pela primeira vez,
o Brasil tem um dos melhores
desempenhos entre os países
afetados por uma crise."
Mantega tratou de articular
também o discurso político do
governo: deu atenção especial à
afirmação de que "a crise é mais
grave do que as ocorridas nos
anos 90", ou, nas entrelinhas,
às crises ocorridas durante o
governo FHC e usadas pelos
hoje oposicionistas como justificativa para o mau desempenho econômico do período.
Como já havia feito em entrevista à Folha no domingo, o
ministro previu que, apesar da
retração do crédito e das perdas nas Bolsas, o país conseguirá uma alta do PIB "entre 4% e
4,5%" em 2009, contrariando
as projeções de analistas que
variam entre 2,5% e 3,5%.
Na sessão da Câmara, Mantega descartou a possibilidade
de socorrer as empresas com
perdas no mercado de derivativos em razão da subida do dólar. "As empresas podem acertar sua situação com os bancos
e levar sua vida adiante. O governo não vai cobrir o prejuízo,
nem um tostão."
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