São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008

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Dólar sobe 5% mesmo com leilão para exportadores

Mercado não gostou da operação e pressiona Banco Central por mais vendas à vista

Bancos também temem emprestar para empresas de comércio exterior pela perspectiva de queda de receita com recessão global

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Descontentes com as condições estabelecidas pelo Banco Central para as novas linhas de financiamento às exportações, que foram oferecidas em leilão pela primeira vez anteontem, bancos e investidores voltaram a desafiar a instituição ontem, puxando para cima as cotações do dólar comercial.
A moeda americana subiu em um dia quase R$ 0,10, ou 4,98%, terminando o dia de ontem vendida a R$ 2,231. Os atores do mercado cambial querem pressionar o BC a vender mais divisas no mercado à vista.
O mercado não gostou do compromisso de repassar em dez dias úteis para seus clientes as linhas de crédito à exportação obtidas no leilão e não tinham muitos "global bonds" para oferecer em garantia.
Além disso, diante das dúvidas a respeito do tamanho e da duração da desaceleração global, que deve diminuir a demanda pelos produtos nacionais, as instituições financeiras mostram menor disposição para emprestar dinheiro para as companhias que vendem para outros países. Assim, a falta de crédito para o setor permanece.
As linhas de financiamento leiloadas chegaram a US$ 1,62 bilhão. Segundo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já foram gastos US$ 3,2 bilhões das reservas internacionais para garantir a disponibilidade de moeda e tentar conter a alta do dólar.
Ontem, realizaram-se dois leilões de divisas à vista em menos de uma hora e foi vendido mais um lote de contratos de "swap" cambial -papéis que protegem contra a variação cambial em determinado período e, em troca deles, os compradores pagam juros- no montante de US$ 500,1 milhões. No total, desde o início da crise, foram US$ 12,8 bilhões de "swap" e a não-renovação de US$ 1,5 bilhão em "swap" reverso, que é a operação oposta.
As intervenções do BC no câmbio não estão funcionando por causa da especulação em torno das cotações e da estocagem de divisas realizada pelas tesourarias de bancos. Isso exacerbou, ontem, no Brasil, a valorização que a moeda americana apresentou em relação a quase todas as divisas -a exceção mais notável foi o iene.
Ainda são ouvidos rumores de que mais empresas deverão vir a público anunciar prejuízos com derivativos cambiais e outras transações, deixando o mercado ressabiado.
"Também houve uma grande saída de recursos. É final de mês... Quem pôde adiar o pagamento de compromissos no exterior o fez, mas não dá para fugir dos vencimentos por muito tempo", afirma Mauro Araújo, diretor da corretora Vision.

Procurando direção
Apesar do salto ontem, os especialistas estão aumentando suas apostas em uma tendência de queda do dólar. "Continua muito difícil fazer previsões para a moeda devido às incertezas no cenário externo, as quais podem causar muita volatilidade. Acho, no entanto, que a cotação deve rumar para os R$ 2 e se estabilizar nesse patamar no final do ano", de acordo com Marcos Trabbold, gerente de câmbio da corretora B&T.
Neste ano, a elevação acumulada é de 25,5%.


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