São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008

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BC americano vai ajudar empresas com US$ 540 bi

Recursos financiarão rolagem de dívidas que estiverem vencendo em até três meses

Fed também pretende injetar dinheiro em fundos de investimento, onde estão recursos dos aplicadores mais conservadores

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Em mais uma medida bilionária para destravar o mercado de crédito, o Fed (banco central dos EUA) anunciou ontem que vai financiar com até US$ 540 bilhões a rolagem de dívidas de bancos e empresas que estiverem vencendo em até três meses ou menos.
Comunicou também que pretende injetar dinheiro diretamente em fundos de investimento, onde aplicadores mais conservadores costumam investir no país.
O novo reforço para crédito não foi suficiente, porém, para sustentar o otimismo nos EUA ontem. Os principais índices da Bolsa de Valores de Nova York fecharam em baixa, desta vez refletindo resultados ruins do balanço de empresas.
Após o anúncio de ganhos menores da Caterpillar e da DuPont, entre outras, o índice Dow Jones fechou em baixa de 2,50%, o S&P 500, de 3,08%. Já a Bolsa eletrônica Nasdaq caiu expressivos 4,14%.
Os EUA também divulgaram que o nível de desemprego em setembro ficou inalterado em relação a agosto, em 6,1%. Mas, no ano, o desemprego cresceu em 47 Estados (dos 50) e no Distrito de Columbia, onde fica a capital, Washington. Em setembro de 2007, a taxa era de 4,7%. Dez Estados no país também já registram níveis de desemprego superiores a 7%.
A nova ação do Fed tem por objetivo injetar liquidez (dinheiro) nos chamados fundos mútuos de investimento, onde tradicionalmente os norte-americanos colocam parte de suas economias. Esses fundos normalmente investem o dinheiro aplicado pelos investidores em títulos de empresas e de bancos.
Os títulos de companhias e bancos (os "comercial papers" e "certificates of deposit") nos fundos mútuos de investimento sempre foram considerados aplicações de baixo risco, voltados a investidores conservadores, que priorizam a segurança ao rendimento.
Com a atual crise, alguns bancos e empresas têm encontrado dificuldade para rolar dívidas e manter a remuneração dos fundos. Já os próprios fundos não conseguem se desfazer de seus papéis no mercado como antes para honrar eventuais resgates de investidores.
Com a nova medida, o Fed pretende comprar diretamente também os papéis desses fundos para capitalizá-los.
"Os mercados de dívidas de curto prazo têm estado sobre considerável pressão nas semanas recentes, o que tem dificultado aos fundos mútuos honrar pedidos de retiradas", afirmou o Fed em comunicado. Desde agosto, os investidores sacaram cerca de US$ 500 bilhões desses fundos.
Os fundos mútuos de investimento nos EUA controlam ativos superiores a US$ 3,3 trilhões, e carregam em suas carteiras 63% de todos os títulos de empresas emitidos no país sem garantias reais por trás. Já entre os títulos garantidos, os fundos têm cerca de 40% dos papéis emitidos nos EUA.
Esses "comercial papers" normalmente têm prazo de vencimento de até 270 dias. Por isso precisam ser "rolados" periodicamente no mercado pelas companhias que os emitem, e que usam o dinheiro para financiar salários, aluguéis e outras despesas do dia-a-dia.
Os US$ 540 bilhões não fazem parte do pacote de US$ 700 bilhões aprovados pelo Congresso para que o Tesouro dos EUA compre participações diretas em alguns bancos. A ajuda se soma ainda a US$ 200 bilhões para as empresas de hipotecas estatizadas Freddie Mac e Fannie Mae e a US$ 85 bilhões para a seguradora AIG.
O Congresso dos EUA, de maioria democrata, também estuda um pacote de estímulo direto às famílias e ao consumo, no valor de US$ 300 bilhões. Somadas, todas as medidas já anunciadas ou pretendidas alcançam cerca de US$ 1,9 trilhão, mais de uma vez e meia o tamanho do PIB brasileiro.
Os democratas estudam incluir no pacote cerca de US$ 30 bilhões a serem destinados a projetos de infra-estrutura em várias partes do país.


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