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ECONOMIA GLOBAL
Sem enviar representante, Argentina deixa de assinar proposta e causa constrangimento durante reunião em Berlim
G20 acerta regras para negociação de calotes
ÉRICA FRAGA
ENVIADA ESPECIAL A BERLIM
Os governos de países credores
e devedores anunciaram ontem
um acordo que estabelece princípios gerais que nortearão futuras
negociações de calotes da dívida
pública. A notícia foi comemorada por representantes do Brasil,
pois o Banco Central, juntamente
com o do México, coordenou a
maioria das discussões e a formulação das propostas aprovadas.
O anúncio foi feito no fim da
reunião do G20, formado por ministros das finanças e presidentes
de bancos centrais de países avançados e emergentes, assim como
membros de institutos como FMI
(Fundo Monetário Internacional)
e Banco Mundial. A Argentina,
que provocou certo constrangimento entre os participantes por
não enviar nenhum representante, foi o único país do grupo que
não subscreveu a proposta.
"A aprovação desses princípios
é uma vitória importante. A existência de regras claras e definidas
faz com que a probabilidade de
problemas diminua porque diminui a probabilidade de corrida
por parte dos credores", afirmou
Henrique Meirelles, presidente
do Banco Central brasileiro.
Hoje, o IIF (Institute for International Finance), que reúne os
principais investidores privados,
deve anunciar detalhes dos "princípios para fluxos de capitais estáveis e reestruturação justa da dívida em países emergentes".
De forma geral, o acordo entre
devedores e credores institucionais e governamentais estabelece
quatro princípios que deverão ser
observados em futuras negociações: transparência, cooperação,
boa-fé e tratamento justo.
Do ponto de vista do que os credores se propõem a fazer, está a
análise da possibilidade de manutenção de linhas de crédito interbancárias e de curto prazo, em situações de insolvência de determinado país. Embora tenham
concordado com os princípios, as
instituições financeiras não são
obrigadas a colocá-los em prática.
Mas, segundo os representantes
do Brasil no G20, os credores terão mais incentivo a agir dessa
maneira porque os devedores oferecerão contrapartidas. Eles se
comprometem a agir com total
transparência -oferecendo, por
exemplo, informações detalhadas
de sua dívida- e a apresentar um
plano de ação para atacar os problemas que levaram à crise.
Ao ratificar a proposta, os devedores assumem a responsabilidade de dar tratamento igual a todos
os credores. Assim, com exceção
de organismos multilaterais que
têm prioridade nos pagamentos
em caso de calote, os demais credores teriam direito às mesmas
condições nas renegociações.
O acordo estabelece ainda que,
se um banco público nacional é
um dos credores de um governo
que tenha declarado "default",
não participará das votações dos
demais detentores de papéis da
dívida desse país.
Vitória dos devedores
Meirelles admite que não se pode prever com segurança se essas
medidas funcionarão na prática e
que esse acordo só foi possível
agora porque não há nenhuma
séria turbulência em curso.
Para ele e para o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o acordo
representa um avanço para criar
mais estabilidade internacional e
uma vitória dos países em desenvolvimento. "É um avanço importante porque tende a trazer
mais estabilidade ao sistema financeiro mundial", disse Palocci.
O G20 foi criado após as crises
de Ásia (1997) e Rússia (1998) para debater a redução de riscos de
problemas similares. Há cerca de
dois anos, depois da crise seguida
por "default" na Argentina, surgiram propostas para regular a
reestruturação de dívidas.
Alguns credores e até a vice-diretora-gerente do FMI, Anne
Krueger, sugeriram compromissos legais por parte dos devedores. O governo francês foi contra a
criação de cláusulas jurídicas. Ficou decidido que a França e o Brasil coordenariam as discussões.
Meirelles ressalta, no entanto,
que é fundamental que novas medidas sejam estabelecidas. O Brasil defende um acordo entre o
FMI e seus membros para estabelecer mecanismos que ajudem a
prevenir a ocorrência de calotes.
Os princípios acordados só valem
para problemas já detonados.
Porém, segundo o presidente
do BC, não há novidades nessas
negociações com o Fundo. O governo brasileiro sugere a criação
de linhas de financiamento contingenciais que possam ser usadas
por governos que estejam com a
economia em ordem, mas sejam
alvo de turbulências externas.
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