São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2008

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Dólar sobe 8% na semana e tem maior valor em 3 anos

Alta ontem foi de 2,8%, com moeda a R$ 2,458; no ano, valorização chega a 38,3%

Tanto importadores como exportadores reclamam de disparada da moeda norte-americana e vêem cenário de incerteza nos negócios

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O dólar voltou a subir com força ontem, com valorização de 2,84% diante do real. A alta levou a moeda americana a R$ 2,458, a maior cotação desde 25 de julho de 2005.
Na semana, a valorização bateu em 8%. Em 2008, a alta acumulada da moeda é de 38,3%. Desde 1º de agosto, momento em que o dólar atingiu o menor valor no ano, são 57,7% de elevação; desde 15 de setembro, quando a crise se intensificou devido à falência do banco de investimentos americano Lehman Brothers, a alta é de 38%.
Até o começo deste mês, os especialistas ainda esperavam que a moeda norte-americana terminasse o ano perto de R$ 2, mas a escalada dos últimos dias mudou as previsões.
"Na melhor das hipóteses, vai ficar ao redor de R$ 2,10", diz Miriam Tavares, diretora de câmbio da corretora AGK, que acaba de revisar, para cima, as suas projeções.
No mercado futuro de dólar, na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), bancos e corretoras nacionais e estrangeiros assumiram em peso posições "compradas" -ou seja, apostam em altas adicionais do dólar diante do real, um movimento que é global, com os investidores buscando segurança nos EUA apesar de a maior economia do planeta estar no epicentro da crise global.
Mas o real, uma das moedas que mais se valorizaram nos últimos anos, está entre as que mais perdem com a crise. O peso chileno, por exemplo, acumula queda de 26,99% no ano diante do dólar; o peso mexicano, de 5,48%. O euro tem baixa acumulada de 14,06% em 2008.

Impactos na economia
Tanto importadores como exportadores se queixam da disparada do dólar. Embora se beneficie da valorização da moeda americana, o setor exportador sente a pressão dos compradores estrangeiros para conceder mais descontos. Já os importadores não conseguem formar seus preços, uma vez que as cotações oscilam muito rapidamente, segundo relatos obtidos pela Folha. "Claro que a alta do dólar aumenta o lucro do exportador. Mas, em tempos de demanda internacional fraca, os importadores dos outros países nos pressionam e pedem descontos irreais quando vêem que estamos em vantagem cambial", diz José Augusto de Castro, diretor da AEB (Associação Brasileira de Comércio Exterior).
De acordo com ele, neste momento da crise financeira internacional o poder de barganha está com os compradores. Castro diz que as negociações para o abatimento de preços variam caso a caso, mas, pela proposta dos clientes estrangeiros, às vezes chegam a anular o ganho cambial.
O setor de eletroeletrônicos, um dos maiores importadores do país, vê suas margens ficarem mais reduzidas, já que não consegue repassar o aumento de custos dos componentes importados para o produto final, relata o presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato.
"Quando se importa o produto acabado, o preço acompanha a variação cambial. O problema maior é com os produtos que têm agregação local e componentes importados. Aí, o aumento dos preços é sempre inferior." Segundo Barbato, os componentes representaram, no ano passado, 56% das importações do setor. "E, além da perda na margem, não conseguimos formar preços. Ninguém quer fechar contratos de longo prazo em reais com essa volatilidade."
Para o presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Luiz Aubert Neto, o problema da alta do dólar para o importador é imediato, enquanto as vantagens para o exportador levam alguns anos.
"Essa variação do dólar não é boa nem para o importador nem para o exportador. Isso cria muita insegurança", diz.


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