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Dólar sobe 8% na semana e tem maior valor em 3 anos
Alta ontem foi de 2,8%, com moeda a R$ 2,458; no ano, valorização chega a 38,3%
Tanto importadores como exportadores reclamam de disparada da moeda norte-americana e vêem cenário de incerteza nos negócios
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O dólar voltou a subir com
força ontem, com valorização
de 2,84% diante do real. A alta
levou a moeda americana a
R$ 2,458, a maior cotação desde 25 de julho de 2005.
Na semana, a valorização bateu em 8%. Em 2008, a alta acumulada da moeda é de 38,3%.
Desde 1º de agosto, momento
em que o dólar atingiu o menor
valor no ano, são 57,7% de elevação; desde 15 de setembro,
quando a crise se intensificou
devido à falência do banco de
investimentos americano Lehman Brothers, a alta é de 38%.
Até o começo deste mês, os
especialistas ainda esperavam
que a moeda norte-americana
terminasse o ano perto de R$ 2,
mas a escalada dos últimos dias
mudou as previsões.
"Na melhor das hipóteses, vai
ficar ao redor de R$ 2,10", diz
Miriam Tavares, diretora de
câmbio da corretora AGK, que
acaba de revisar, para cima, as
suas projeções.
No mercado futuro de dólar,
na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros), bancos e corretoras nacionais e estrangeiros
assumiram em peso posições
"compradas" -ou seja, apostam em altas adicionais do dólar diante do real, um movimento que é global, com os investidores buscando segurança
nos EUA apesar de a maior economia do planeta estar no epicentro da crise global.
Mas o real, uma das moedas
que mais se valorizaram nos últimos anos, está entre as que
mais perdem com a crise. O peso chileno, por exemplo, acumula queda de 26,99% no ano
diante do dólar; o peso mexicano, de 5,48%. O euro tem baixa
acumulada de 14,06% em 2008.
Impactos na economia
Tanto importadores como
exportadores se queixam da
disparada do dólar. Embora se
beneficie da valorização da
moeda americana, o setor exportador sente a pressão dos
compradores estrangeiros para
conceder mais descontos. Já os
importadores não conseguem
formar seus preços, uma vez
que as cotações oscilam muito
rapidamente, segundo relatos
obtidos pela Folha. "Claro que
a alta do dólar aumenta o lucro
do exportador. Mas, em tempos de demanda internacional
fraca, os importadores dos outros países nos pressionam e
pedem descontos irreais quando vêem que estamos em vantagem cambial", diz José Augusto de Castro, diretor da AEB
(Associação Brasileira de Comércio Exterior).
De acordo com ele, neste
momento da crise financeira
internacional o poder de barganha está com os compradores.
Castro diz que as negociações
para o abatimento de preços
variam caso a caso, mas, pela
proposta dos clientes estrangeiros, às vezes chegam a anular o ganho cambial.
O setor de eletroeletrônicos,
um dos maiores importadores
do país, vê suas margens ficarem mais reduzidas, já que não
consegue repassar o aumento
de custos dos componentes importados para o produto final,
relata o presidente da Abinee
(Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica),
Humberto Barbato.
"Quando se importa o produto acabado, o preço acompanha a variação cambial. O problema maior é com os produtos
que têm agregação local e componentes importados. Aí, o aumento dos preços é sempre inferior." Segundo Barbato, os
componentes representaram,
no ano passado, 56% das importações do setor. "E, além da
perda na margem, não conseguimos formar preços. Ninguém quer fechar contratos de
longo prazo em reais com essa
volatilidade."
Para o presidente da Abimaq
(Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Luiz Aubert Neto, o
problema da alta do dólar para
o importador é imediato, enquanto as vantagens para o exportador levam alguns anos.
"Essa variação do dólar não é
boa nem para o importador
nem para o exportador. Isso
cria muita insegurança", diz.
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