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"Não há meta para o câmbio", afirma Meirelles
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
Diante da escalada do dólar, o
Banco Central continuará intervindo no mercado para atacar "problemas específicos de
liquidez", mas não pretende alterar sua política cambial. O comentário foi feito ontem pelo
presidente do BC, Henrique
Meirelles, após participar de
um congresso sobre bancos em
Frankfurt, na Alemanha.
No dia em que a moeda norte-americana atingiu sua maior
cotação dos últimos três anos, o
presidente do BC reiterou que
o câmbio continuará flutuante
e se negou a dizer qual seria o
patamar ideal para o dólar.
"Nós não trabalhamos com meta de câmbio. Nós trabalhamos
com meta de inflação", argumentou Meirelles.
Segundo ele, desde 2004 o
Banco Central tem afirmado
que as compras de dólares
cumprem o objetivo de acumular um volume de reservas que
prepare o país para cenários internacionais turbulentos.
"O que nós dissemos na época é que nos reservávamos o direito de intervir quando notássemos distorções de preços nos
mercados criadas por problemas específicos de liquidez",
explicou Meirelles. "É o que temos feito nas últimas semanas", completou.
Para ele, um "exemplo clássico" desse tipo de intervenção
foi a criação de linhas de financiamento do BC para o comércio exterior. Isso ocorreu, disse
Meirelles, porque o aperto no
crédito dos bancos internacionais levou a uma restrição de liquidez para o financiamento
das exportações brasileiras.
Além dos empréstimos oferecidos aos exportadores, as
medidas tomadas pelo BC para
tentar conter a alta do dólar incluíram leilões de swaps (contratos de dólar) e vendas da
moeda norte-americana no
mercado à vista. No total, segundo números divulgados pelo próprio Meirelles no início
da semana, o BC já injetou US$
46,5 bilhões no mercado.
Ele insiste em afirmar que se
trata de medidas pontuais destinadas a resolver problemas de
liquidez: "Como já disse várias
vezes nos últimos anos, nós não
tentamos influenciar a tendência da taxa de câmbio".
Repatriação de dólares
Diante da surpresa demonstrada por alguns economistas
com a valorização do dólar num
momento em que a economia
norte-americana está à beira da
recessão, o presidente do BC
disse que é muito difícil emitir
um diagnóstico preciso sobre
influências no mercado de
câmbio. Mas observou que, no
caso, os fundamentos econômicos não são a explicação.
"Isso é resultado de um processo de repatriação de capitais
e de desalavancagem mundial,
que faz com que a demanda por
dólares aumente, independentemente dos fundamentos econômicos", disse.
"É assim que funcionam os
mercados de câmbio mundiais,
e exatamente por isso não existe hoje uma política bem-sucedida de controle ou fixação da
taxa de câmbio."
Momentos antes, em sua
apresentação ao congresso,
Meirelles havia dito que um
dos elementos da nova ordem
econômica mundial que a crise
produzirá poderá ser o estabelecimento de mecanismos que
reduzam as flutuações das
moedas ou mesmo "um novo
sistema global de taxas de câmbio", assim como ocorreu após
a Segunda Guerra Mundial.
Questionado sobre as empresas que apostaram na queda do
dólar e sobre o risco de quebrarem, Meirelles disse que "os
problemas que traziam maior
volatilidade" já foram resolvidos. E lembrou que a desvalorização do real traz compensações, pois tornam as exportações mais atraentes.
"De um lado, essas empresas
enfrentam perdas nos mercados de derivativos; por outro,
terão maiores receitas de exportação. Mas isso é uma questão de equacionamento financeiro dessas empresas com
seus respectivos bancos."
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