São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2008

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"Não há meta para o câmbio", afirma Meirelles

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT

Diante da escalada do dólar, o Banco Central continuará intervindo no mercado para atacar "problemas específicos de liquidez", mas não pretende alterar sua política cambial. O comentário foi feito ontem pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, após participar de um congresso sobre bancos em Frankfurt, na Alemanha.
No dia em que a moeda norte-americana atingiu sua maior cotação dos últimos três anos, o presidente do BC reiterou que o câmbio continuará flutuante e se negou a dizer qual seria o patamar ideal para o dólar. "Nós não trabalhamos com meta de câmbio. Nós trabalhamos com meta de inflação", argumentou Meirelles.
Segundo ele, desde 2004 o Banco Central tem afirmado que as compras de dólares cumprem o objetivo de acumular um volume de reservas que prepare o país para cenários internacionais turbulentos.
"O que nós dissemos na época é que nos reservávamos o direito de intervir quando notássemos distorções de preços nos mercados criadas por problemas específicos de liquidez", explicou Meirelles. "É o que temos feito nas últimas semanas", completou.
Para ele, um "exemplo clássico" desse tipo de intervenção foi a criação de linhas de financiamento do BC para o comércio exterior. Isso ocorreu, disse Meirelles, porque o aperto no crédito dos bancos internacionais levou a uma restrição de liquidez para o financiamento das exportações brasileiras.
Além dos empréstimos oferecidos aos exportadores, as medidas tomadas pelo BC para tentar conter a alta do dólar incluíram leilões de swaps (contratos de dólar) e vendas da moeda norte-americana no mercado à vista. No total, segundo números divulgados pelo próprio Meirelles no início da semana, o BC já injetou US$ 46,5 bilhões no mercado.
Ele insiste em afirmar que se trata de medidas pontuais destinadas a resolver problemas de liquidez: "Como já disse várias vezes nos últimos anos, nós não tentamos influenciar a tendência da taxa de câmbio".

Repatriação de dólares
Diante da surpresa demonstrada por alguns economistas com a valorização do dólar num momento em que a economia norte-americana está à beira da recessão, o presidente do BC disse que é muito difícil emitir um diagnóstico preciso sobre influências no mercado de câmbio. Mas observou que, no caso, os fundamentos econômicos não são a explicação.
"Isso é resultado de um processo de repatriação de capitais e de desalavancagem mundial, que faz com que a demanda por dólares aumente, independentemente dos fundamentos econômicos", disse.
"É assim que funcionam os mercados de câmbio mundiais, e exatamente por isso não existe hoje uma política bem-sucedida de controle ou fixação da taxa de câmbio."
Momentos antes, em sua apresentação ao congresso, Meirelles havia dito que um dos elementos da nova ordem econômica mundial que a crise produzirá poderá ser o estabelecimento de mecanismos que reduzam as flutuações das moedas ou mesmo "um novo sistema global de taxas de câmbio", assim como ocorreu após a Segunda Guerra Mundial.
Questionado sobre as empresas que apostaram na queda do dólar e sobre o risco de quebrarem, Meirelles disse que "os problemas que traziam maior volatilidade" já foram resolvidos. E lembrou que a desvalorização do real traz compensações, pois tornam as exportações mais atraentes.
"De um lado, essas empresas enfrentam perdas nos mercados de derivativos; por outro, terão maiores receitas de exportação. Mas isso é uma questão de equacionamento financeiro dessas empresas com seus respectivos bancos."


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