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Lula dá broncas e desconfia de propostas de sua equipe
Área econômica é pressionada a manter desoneração
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado
bastante claro para a equipe
econômica ao se recusar a reduzir as desonerações tributárias em estudo para cobrir o aumento do salário mínimo: não
está mais disposto a fazer sacrifícios para colher frutos incertos no futuro.
Segundo a Folha apurou, depois das sucessivas promessas
feitas pelo ex-ministro Antonio
Palocci (Fazenda) de que o desgaste com medidas de arrocho
fiscal seria mais do que compensado por maiores taxas de
crescimento no ano seguinte,
Lula agora desconfia de todas
as propostas colocadas em discussão pela área econômica.
Se o presidente não quer ouvir falar de restrições, os ministros -ainda não garantidos nos
cargos- evitam contrariá-lo
diretamente. Ninguém quer
"arcar com o custo" de dizer
"não" para Lula, nas palavras
de um interlocutor do governo.
O problema é que essa atitude tem dificultado a elaboração
do programa fiscal de longo
prazo e derrubado as tentativas
de controle de alta das despesas correntes da União. Com isso, aos poucos, a promessa de
austeridade para 2007, feita
pelos principais integrantes da
equipe econômica logo após as
eleições, está ruindo.
Nas reuniões, Lula pressiona
por soluções, e é difícil alguém
sair do Palácio sem um puxão
de orelhas, segundo relato de
pessoas que participam desses
debates. Numa das últimas discussões, sobrou uma bronca
até para a PGFN (Procuradoria
Geral da Fazenda Nacional),
responsável pela cobrança de
devedores de impostos da
União. O presidente chamou
de "lero-lero" repetido há quatro anos as promessas de recuperação de créditos antigos para reforçar o caixa da União.
O resultado é que a área econômica não consegue montar
um plano fiscal que consiga
abrir espaço para os novos investimentos exigidos por Lula.
As medidas apresentadas foram consideradas "inconsistentes" e a situação ficou mais
complicada depois da decisão
de elevar o mínimo a R$ 380.
Na reunião que teve com Lula na quarta para discutir como
cobrir o gasto extra de R$ 850
milhões com essa elevação do
mínimo, Mantega apresentou
como solução uma redução nas
desonerações que serão dadas
ao setor da construção civil.
A idéia esbarrou imediatamente nas demandas do ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento). Lula ficou irritado e mandou que a equipe
econômica achasse outra maneira de cobrir a despesa.
Ontem, em entrevista na Fazenda, Mantega confirmou que
os recursos estão sendo procurados em outras áreas do governo, mas não deu detalhes.
A atitude mais agressiva de
Lula em relação aos gastos do
governo no ano que vem adiou
qualquer plano de austeridade
em 2007. As medidas de contenção de gastos que o governo
promete implementar valerão
mesmo a partir de 2008. É o caso da regra de reajuste do mínimo e muito provavelmente da
correção do salário dos servidores públicos, que depende de
aprovação de uma lei complementar pelo Congresso.
"Se tem uma coisa de que esse governo não pode ser acusado, é de ter aberto mão do controle das despesas", disse o ministro Paulo Bernardo (Planejamento).
(SHEILA D'AMORIM)
Colaborou LEANDRA PERES, da Sucursal de Brasília
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