São Paulo, terça-feira, 23 de janeiro de 2007

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PAC / ANÁLISE

Medidas não levam a crescimento de 5%

Maioria dos economistas considera pacote insuficiente; ex-presidente do Banco Central diz que impacto será "quase nulo"

Capacidade de investir do setor público continua limitada e, para críticos, programa não ataca problemas estruturais

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O PAC vai na direção correta na avaliação de alguns economistas. Outros acreditam que o programa do governo é equivocado em vários pontos. Mas a maioria concorda em pelo menos um ponto: corretas ou não, as medidas não são suficientes para fazer a economia brasileira crescer os 5% almejados pelo governo Lula.
"Se crescermos 3,5% tem que soltar rojão", alfineta Samuel Pessôa, economista da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Para ele, o pacote muda pouco o potencial de crescimento da economia brasileira. "Há investimentos meritórios, como saneamento básico e construção de casas populares, mas que não têm impacto muito forte na taxa de crescimento", argumenta o economista.
Crítico da gestão econômica do governo Lula, Pessôa diz avaliar que a qualidade da política econômica piorou na gestão do presidente, motivo pelo qual, mesmo com o cenário internacional muito mais favorável, o crescimento médio foi igual ao do último mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. "A única explicação para crescer a mesma coisa, com a mesma taxa real de juros mas com cenário melhor é uma política econômica pior", diz.
Gustavo Loyola, da Tendências Consultoria, afirma que o Brasil pode até crescer 4% ou mais neste ano, mas que pouco disso seria explicado pelas medidas anunciadas ontem, que têm "impacto praticamente nulo ou muito pequeno".
O crescimento adicional em relação a 2006 -ano para o qual as projeções apontam expansão de menos de 3%- viria do cenário internacional extremamente favorável, diz o ex-presidente do Banco Central.
Loyola ressalta que a capacidade de investimento do governo "é muito limitada", insuficiente, portanto, para elevar a taxa de investimento aos 25% do PIB (Produto Interno Bruto) que, avalia a maior parte dos economistas, seria necessária para o país crescer 5%.
"O PAC falha em não atacar questões estruturais importantes", diz Vladimir Caramaschi, economista-chefe da Fator Corretora. Em sua opinião, o PAC não tem o combustível necessário para o crescimento de 5%. "As reformas da Previdência, a trabalhista, as questões estruturais não foram nem mencionadas".
Menos crítico, Carlos Langoni, economista do Centro de Economia Mundial da FGV, avalia que o pacote vai na direção correta, mas que é apenas o primeiro passo para um patamar mais elevado e sustentável de crescimento.
"É lógico que é preciso avançar nas reformas estruturais", ressalva Langoni, que não arrisca estimar o crescimento adicional gerado pelas medidas. "Crescimento não é um parâmetro que você pode controlar com precisão".
Já João Sicsú, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que o cenário e as medidas são compatíveis com crescimento de 4,5% neste ano. Mas ressalta que "o pacote não é suficiente, ele trata apenas de medidas fiscais". Para ele, atingir a meta de crescimento depende da coordenação das expectativas por parte do governo, com o PAC sendo complementado com redução de juros de forma mais acentuada.
Mais: com juros menores, o governo deveria comprar mais reservas, impedindo valorização do câmbio, "para não termos problemas externos em 2008, gerados pela alta das importações", diz. "Câmbio valorizado e crescimento elevado são uma combinação explosiva para as importações."


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