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CRISE NOS MERCADOS
Fed corta juros para socorrer mercados
Redução emergencial de 0,75 ponto na taxa reduz perdas acumuladas, mas tensão permanece; Bovespa sobe 4,45%
Ação do BC dos EUA sinaliza que crise pode ser ainda
mais grave; Bolsa de NY fecha em queda de 1%,
e Londres sobe 2,9%
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia depois de uma das
maiores derrocadas dos mercados nesta década, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos
Estados Unidos) surpreendeu
com uma reunião extraordinária na qual definiu um corte
agressivo de 0,75 ponto percentual nos juros, uma decisão que
só era esperada para o dia 30, a
próxima reunião agendada. A
última vez que o Fed fez reunião extra para intervir na taxa
básica foi pouco após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Desde ontem, os juros dos
"Fed Funds" (taxa básica dos
EUA) recuaram de 4,25% para
3,50% ao ano mesmo sob o risco de aceleração da inflação ao
consumidor, que ficou em 4,1%
em 2007, a maior em 17 anos.
Embora vista como insuficiente por alguns analistas, a
ação do Fed foi bem recebida
pelos mercados. As principais
Bolsas fecharam em alta ou reduziram suas perdas ao longo
do dia. Mas a turbulência deve
prosseguir, dizem analistas.
Na Europa, a Bolsa de Londres subiu 2,9%, e a de Paris,
2,07%, enquanto Frankfurt teve baixa de 0,31%. A exceção
aconteceu nas Bolsas americanas, que estavam fechadas na
segunda-feira e tiveram ontem
de se ajustar à baixa global da
véspera. A Bolsa de Nova York
retornou do feriado prolongado com baixa de 1,06% no índice Dow Jones e de 1,11% no
Standard & Poor's 500. A Nasdaq teve baixa de 2,04%.
As Bolsas asiáticas, que ontem registraram fortes baixas
por terem fechado antes do
anúncio do Fed, abriram hoje
com altas expressivas. Por volta
das 23h10 (horário de Brasília),
o índice Nikkei, o principal da
Bolsa de Tóquio, subia 3,57%, o
mercado da Coréia do Sul se expandia em 2,4%, e o de Taiwan,
em 1,37%. Na Oceania, a Bolsa
australiana registrava valorização de 4,94%.
Na América Latina, a Bolsa
de Buenos Aires teve alta de
3,55%, e a da Cidade do México,
de 6,36%. A Bovespa, que teve
perdas de 6,6% na segunda, subiu ontem 4,45% e voltou aos
56.097 pontos. A alta não foi
suficiente para apagar da memória os prejuízos do dia anterior. Investidores afirmaram
que parte da valorização ontem
veio das ações da Petrobras,
que anunciou uma nova descoberta de reserva de gás. As
ações PN da estatal subiram
9,76%. "Foi uma alta muito ligada a fatores internos das empresas, como a Petrobras", disse Ricardo Almeida, economista do Ibmec-SP.
Para alguns economistas, o
fator surpresa denota que a crise pode ser muito maior do que
se imaginava e que o Fed teria
perdido o controle da situação."O Fed pode estar tentando
passar a imagem de que está
alerta e de que combaterá
agressivamente qualquer tendência contracionista, mas é
possível que acabe conseguindo o oposto. Pode sinalizar que
as coisas estão piores do que se
esperava", disse Fernando Cardim, economista da UFRJ.
"É mais honesto dizer que
não sabe o tamanho da crise,
mas está alerta e pronto a agir,
do que deixar a impressão de
que está tudo sob controle.
Ninguém sabe o tamanho. Se [o
corte no juro] vai resolver, não
sei. Talvez atenue", disse Alkimar Moura, ex-diretor do Banco Central brasileiro.
A ação do Fed reacendeu
também a preocupação com o
"moral hazard" (risco moral): o
socorro a investidores que tomaram riscos excessivos pode
sinalizar que as autoridades
sempre estarão prontas a ajudá-los quando suas apostas fracassarem.
Para Octavio de Barros, diretor de Pesquisas do Bradesco, é
cedo para dizer que tudo se
acalmará em breve. "A volatilidade deve permanecer por
muito tempo. Muita gente caiu
nessa armadilha de fazer revisões de cenário logo depois da
primeira hecatombe. A crise está sendo sobredimensionada. O
maior risco está na duração da
desaceleração [da economia
global]."
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