São Paulo, quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS

Fed corta juros para socorrer mercados

Redução emergencial de 0,75 ponto na taxa reduz perdas acumuladas, mas tensão permanece; Bovespa sobe 4,45%

Ação do BC dos EUA sinaliza que crise pode ser ainda mais grave; Bolsa de NY fecha em queda de 1%, e Londres sobe 2,9%

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia depois de uma das maiores derrocadas dos mercados nesta década, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) surpreendeu com uma reunião extraordinária na qual definiu um corte agressivo de 0,75 ponto percentual nos juros, uma decisão que só era esperada para o dia 30, a próxima reunião agendada. A última vez que o Fed fez reunião extra para intervir na taxa básica foi pouco após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Desde ontem, os juros dos "Fed Funds" (taxa básica dos EUA) recuaram de 4,25% para 3,50% ao ano mesmo sob o risco de aceleração da inflação ao consumidor, que ficou em 4,1% em 2007, a maior em 17 anos.
Embora vista como insuficiente por alguns analistas, a ação do Fed foi bem recebida pelos mercados. As principais Bolsas fecharam em alta ou reduziram suas perdas ao longo do dia. Mas a turbulência deve prosseguir, dizem analistas.
Na Europa, a Bolsa de Londres subiu 2,9%, e a de Paris, 2,07%, enquanto Frankfurt teve baixa de 0,31%. A exceção aconteceu nas Bolsas americanas, que estavam fechadas na segunda-feira e tiveram ontem de se ajustar à baixa global da véspera. A Bolsa de Nova York retornou do feriado prolongado com baixa de 1,06% no índice Dow Jones e de 1,11% no Standard & Poor's 500. A Nasdaq teve baixa de 2,04%.
As Bolsas asiáticas, que ontem registraram fortes baixas por terem fechado antes do anúncio do Fed, abriram hoje com altas expressivas. Por volta das 23h10 (horário de Brasília), o índice Nikkei, o principal da Bolsa de Tóquio, subia 3,57%, o mercado da Coréia do Sul se expandia em 2,4%, e o de Taiwan, em 1,37%. Na Oceania, a Bolsa australiana registrava valorização de 4,94%.
Na América Latina, a Bolsa de Buenos Aires teve alta de 3,55%, e a da Cidade do México, de 6,36%. A Bovespa, que teve perdas de 6,6% na segunda, subiu ontem 4,45% e voltou aos 56.097 pontos. A alta não foi suficiente para apagar da memória os prejuízos do dia anterior. Investidores afirmaram que parte da valorização ontem veio das ações da Petrobras, que anunciou uma nova descoberta de reserva de gás. As ações PN da estatal subiram 9,76%. "Foi uma alta muito ligada a fatores internos das empresas, como a Petrobras", disse Ricardo Almeida, economista do Ibmec-SP.
Para alguns economistas, o fator surpresa denota que a crise pode ser muito maior do que se imaginava e que o Fed teria perdido o controle da situação."O Fed pode estar tentando passar a imagem de que está alerta e de que combaterá agressivamente qualquer tendência contracionista, mas é possível que acabe conseguindo o oposto. Pode sinalizar que as coisas estão piores do que se esperava", disse Fernando Cardim, economista da UFRJ.
"É mais honesto dizer que não sabe o tamanho da crise, mas está alerta e pronto a agir, do que deixar a impressão de que está tudo sob controle. Ninguém sabe o tamanho. Se [o corte no juro] vai resolver, não sei. Talvez atenue", disse Alkimar Moura, ex-diretor do Banco Central brasileiro.
A ação do Fed reacendeu também a preocupação com o "moral hazard" (risco moral): o socorro a investidores que tomaram riscos excessivos pode sinalizar que as autoridades sempre estarão prontas a ajudá-los quando suas apostas fracassarem.
Para Octavio de Barros, diretor de Pesquisas do Bradesco, é cedo para dizer que tudo se acalmará em breve. "A volatilidade deve permanecer por muito tempo. Muita gente caiu nessa armadilha de fazer revisões de cenário logo depois da primeira hecatombe. A crise está sendo sobredimensionada. O maior risco está na duração da desaceleração [da economia global]."


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