São Paulo, quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

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Mantega diz que Fed não influencia BC

VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao comemorar a decisão do Fed (banco central americano) de cortar os juros em 0,75 ponto percentual, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que a decisão não interfere na política monetária brasileira.
Segundo ele, as realidades dos dois países "são bastante diferentes". Enquanto os EUA cortaram os juros para resolver um problema de falta de crédito, Mantega disse que o Banco Central aqui segue de olho na inflação, que está "tranqüila".
Mantega fez os comentários durante o balanço de um ano do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Ao ser informado por um assessor da novidade, o ministro fez questão de anunciá-la para jornalistas e autoridades presentes ao evento, dizendo que a medida traria um "alívio para os mercados", não escondendo sua satisfação com a decisão.
"Eles sabiam que nós íamos anunciar o balanço do PAC hoje e decidiram antecipar", brincou Mantega ao comentar a decisão do Fed.
"Foi uma articulação do José Múcio [ministro das Relações Institucionais]", comentaram, rindo, outros ministros presentes. Gerente do PAC, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse que o programa "é uma vacina contra a crise externa", porque acelera o mercado interno brasileiro, compensando eventuais problemas vindos de fora.
Ao falar das diferenças do momento econômico dos dois países, Mantega disse que não via "nenhuma razão" de fazer aqui no Brasil algo parecido com a decisão do Fed, porque o país está olhando seu processo inflacionário e não tem problemas de recessão à frente.
"Os Estados Unidos estão preocupados com a desaceleração da economia, por isso estão reduzindo o custo do dinheiro para melhorar a atividade econômica", disse o ministro da Fazenda.
Já o Brasil, segundo Mantega, "não sofre dos mesmos problemas, não tem risco de recessão, e o que interessa é a inflação, que está tranqüila". Por fim, concluiu seu raciocínio dizendo que as taxas de juros no Brasil continuarão seguindo exclusivamente o "comportamento da inflação, conforme reza o sistema de metas".
O ministro da Fazenda insistiu no discurso de que o país está mais preparado para enfrentar a crise americana. "Não quero dizer que o Brasil está imune, mas nunca esteve tão preparado. Imaginem se essa crise tivesse ocorrido alguns anos atrás o que já teria acontecido com os juros, com a inflação, com o câmbio." Em seguida, disse que "nada disso está acontecendo, não há fuga de capitais, não há quebra de bancos, não há falta de liquidez, a situação é outra".
Ao anunciar a decisão do Fed durante o balanço do PAC, Mantega afirmou que a medida não irá interromper o problema de liquidez nos países desenvolvidos, principalmente nos EUA.
Na opinião do ministro, esse processo vai continuar "enquanto não houver uma absorção das perdas geradas pela crise" do mercado imobiliário norte-americano.
Ele fez questão também de dizer que a "crise ainda não chegou ao Brasil". Ressalvou, contudo, que não significa que não vá chegar, mas destacou que não há por aqui problemas de solvência como nos EUA.
Ao final do evento do PAC, Dilma Rousseff, ao dizer que ele é uma "vacina contra a crise externa", afirmou que o programa "aumenta a capacidade da economia do país de produzir aqui dentro".
Mantega também seguiu a linha de Rousseff. Para ele, se houver alguma redução nas exportações brasileiras, provocadas por uma desaceleração nos EUA, o mercado interno vai compensar essa queda e manter o estímulo para que os empresários continuem investindo.


Colaborou LETÍCIA SANDER, da Sucursal de Brasília


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