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China cresce à menor taxa em sete anos
Economia do país avança 9% em 2008, abaixo dos 9,7% esperados -alta menor que 8% neste ano pode trazer desemprego
Para Nouriel Roubini, primeiro economista a alertar para a crise nos EUA, números são manipulados e China "já está em recessão"
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
A economia da China cresceu
9% em 2008, a pior taxa em sete anos. No último trimestre, o
crescimento foi de 6,8% em relação a 2007.
A terceira maior economia
do mundo, a única entre as
grandes que deve crescer em
2009, está sob uma desaceleração bem maior que a prevista
pelo governo. A estimativa oficial era que em 2008 o PIB
crescesse 9,7%, e, em 2009, 8%.
Economistas têm dito que a
China só deve crescer entre 5%
e 6% neste ano. A média de
crescimento do PIB nos últimos 30 anos foi de 9,8%.
Como a China é responsável
por 20% do crescimento mundial, a desaceleração afeta diversas economias do mundo,
como a brasileira. A China é o
segundo principal parceiro comercial do Brasil e importou no
ano passado US$ 16,4 bilhões
em produtos brasileiros.
Também há temores de que a
China "inunde" o mercado brasileiro com os produtos que ficaram sem compradores pela
recessão de EUA e Europa.
Recessão para Roubini
Para o economista Nouriel
Roubini, que ficou célebre ao
ser o primeiro a prever a crise
financeira e imobiliária nos Estados Unidos, a China já está
em recessão.
"A China está em uma recessão, independentemente do
que os altamente manipulados
números oficiais digam", escreveu o professor da Universidade de Nova York em sua página
na internet.
"Quando o crescimento está
se reduzindo de forma tão
agressiva, a maneira chinesa de
se medir o PIB pode despistar."
Diferentemente de Estados
Unidos e União Europeia, as estatísticas chinesas do PIB comparam o trimestre com o mesmo período do ano passado, e
não com o trimestre imediatamente anterior.
A comparação ano a ano não
registra a desaceleração no final de 2008 porque o crescimento foi maior em trimestres
anteriores, diz o economista.
A queda no consumo de
energia e a crise na indústria
manufatureira sugerem que a
economia está em recessão,
afirma Roubini.
Em outubro e novembro, o
consumo de energia elétrica
caiu 3% e 7%, respectivamente,
em relação a 2007. Indústrias
de alto consumo energético,
como siderúrgicas e de cimento, estiveram trabalhando em
capacidade mínima, por conta
da crise imobiliária e pela queda das exportações -que encolheram 2,8% em dezembro.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) aumentou apenas
1,2% em dezembro em relação
ao mesmo mês de 2007, depois
de subir 2,4% em novembro.
Em fevereiro, havia subido
8,7%. A média anual do IPC foi
de alta de 5,9%.
Governo otimista
Ainda que o crescimento de
6,8% no último trimestre possa
parecer vigoroso na maior parte do mundo, o governo chinês
costuma dizer que precisa de
um crescimento do PIB de 8%
ao ano para conseguir gerar
empregos para os 10 milhões de
chineses que migram anualmente do campo para as grandes cidades atrás de ocupação.
"A China está certa de que
conseguirá manter seu crescimento anual acima de 8%", disse em entrevista coletiva Ma
Jiantang, diretor do Escritório
Nacional de Estatísticas, ontem em Pequim.
Para evitar a desaceleração
mais brusca, o governo chinês
anunciou um pacote de estímulo de US$ 586 bilhões, principalmente em obras de infraestrutura, como novos portos, aeroportos, ferrovias e estradas.
O Conselho de Estado chinês
anunciou ontem que investirá
US$ 124,26 bilhões em políticas
de saúde nos próximos três
anos. Um dos motivos apontados pelo baixo consumo doméstico é que as famílias chinesas poupam muito pela inexistência de um sistema de saúde
público gratuito.
Todas as consultas e tratamentos simples são pagos nos
hospitais públicos.
Mas alguns economistas já
veem alguma reação chinesa.
"Houve mais vendas de imóveis
em dezembro, o consumo no
varejo cresceu 17% em relação
a 2007 e algumas medidas fiscais para facilitar o crédito começam a surtir efeito", escreveu o economia Stephen
Green, do Standard Chartered
Bank, em Xangai, em relatório
divulgado ontem.
Para a economista chinesa
Jing Ulrich, diretora de China
Equities do banco JP Morgan, o
futuro da economia dependerá
dos resultados do plano de estímulo e se o governo consegue
recuperar a confiança da sociedade chinesa.
"O governo chinês quer reorientar o crescimento econômico, das exportações para o
consumo doméstico, mas o
comportamento do consumidor não muda do dia para a noite", disse à Folha Ulrich. "Espero alguma recuperação só no
segundo semestre."
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