São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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China cresce à menor taxa em sete anos

Economia do país avança 9% em 2008, abaixo dos 9,7% esperados -alta menor que 8% neste ano pode trazer desemprego

Para Nouriel Roubini, primeiro economista a alertar para a crise nos EUA, números são manipulados e China "já está em recessão"

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A economia da China cresceu 9% em 2008, a pior taxa em sete anos. No último trimestre, o crescimento foi de 6,8% em relação a 2007.
A terceira maior economia do mundo, a única entre as grandes que deve crescer em 2009, está sob uma desaceleração bem maior que a prevista pelo governo. A estimativa oficial era que em 2008 o PIB crescesse 9,7%, e, em 2009, 8%.
Economistas têm dito que a China só deve crescer entre 5% e 6% neste ano. A média de crescimento do PIB nos últimos 30 anos foi de 9,8%.
Como a China é responsável por 20% do crescimento mundial, a desaceleração afeta diversas economias do mundo, como a brasileira. A China é o segundo principal parceiro comercial do Brasil e importou no ano passado US$ 16,4 bilhões em produtos brasileiros.
Também há temores de que a China "inunde" o mercado brasileiro com os produtos que ficaram sem compradores pela recessão de EUA e Europa.

Recessão para Roubini
Para o economista Nouriel Roubini, que ficou célebre ao ser o primeiro a prever a crise financeira e imobiliária nos Estados Unidos, a China já está em recessão.
"A China está em uma recessão, independentemente do que os altamente manipulados números oficiais digam", escreveu o professor da Universidade de Nova York em sua página na internet.
"Quando o crescimento está se reduzindo de forma tão agressiva, a maneira chinesa de se medir o PIB pode despistar."
Diferentemente de Estados Unidos e União Europeia, as estatísticas chinesas do PIB comparam o trimestre com o mesmo período do ano passado, e não com o trimestre imediatamente anterior.
A comparação ano a ano não registra a desaceleração no final de 2008 porque o crescimento foi maior em trimestres anteriores, diz o economista.
A queda no consumo de energia e a crise na indústria manufatureira sugerem que a economia está em recessão, afirma Roubini.
Em outubro e novembro, o consumo de energia elétrica caiu 3% e 7%, respectivamente, em relação a 2007. Indústrias de alto consumo energético, como siderúrgicas e de cimento, estiveram trabalhando em capacidade mínima, por conta da crise imobiliária e pela queda das exportações -que encolheram 2,8% em dezembro.
O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) aumentou apenas 1,2% em dezembro em relação ao mesmo mês de 2007, depois de subir 2,4% em novembro. Em fevereiro, havia subido 8,7%. A média anual do IPC foi de alta de 5,9%.

Governo otimista
Ainda que o crescimento de 6,8% no último trimestre possa parecer vigoroso na maior parte do mundo, o governo chinês costuma dizer que precisa de um crescimento do PIB de 8% ao ano para conseguir gerar empregos para os 10 milhões de chineses que migram anualmente do campo para as grandes cidades atrás de ocupação.
"A China está certa de que conseguirá manter seu crescimento anual acima de 8%", disse em entrevista coletiva Ma Jiantang, diretor do Escritório Nacional de Estatísticas, ontem em Pequim.
Para evitar a desaceleração mais brusca, o governo chinês anunciou um pacote de estímulo de US$ 586 bilhões, principalmente em obras de infraestrutura, como novos portos, aeroportos, ferrovias e estradas.
O Conselho de Estado chinês anunciou ontem que investirá US$ 124,26 bilhões em políticas de saúde nos próximos três anos. Um dos motivos apontados pelo baixo consumo doméstico é que as famílias chinesas poupam muito pela inexistência de um sistema de saúde público gratuito.
Todas as consultas e tratamentos simples são pagos nos hospitais públicos.
Mas alguns economistas já veem alguma reação chinesa. "Houve mais vendas de imóveis em dezembro, o consumo no varejo cresceu 17% em relação a 2007 e algumas medidas fiscais para facilitar o crédito começam a surtir efeito", escreveu o economia Stephen Green, do Standard Chartered Bank, em Xangai, em relatório divulgado ontem.
Para a economista chinesa Jing Ulrich, diretora de China Equities do banco JP Morgan, o futuro da economia dependerá dos resultados do plano de estímulo e se o governo consegue recuperar a confiança da sociedade chinesa.
"O governo chinês quer reorientar o crescimento econômico, das exportações para o consumo doméstico, mas o comportamento do consumidor não muda do dia para a noite", disse à Folha Ulrich. "Espero alguma recuperação só no segundo semestre."


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