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São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 2003

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ENTREVISTA

Para o presidente da Amcham, industriais não levam bloco a sério

Não adianta ficar "bravinho" pela Alca, afirma Haberfeld

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O recém-eleito presidente da Amcham (Câmara Americana de Comércio) de São Paulo, Sérgio Haberfeld, 59, não considerou uma ofensa a proposta feita pelos EUA para a Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
Para Haberfeld, "em negociação, nada é ofensivo. Não precisa ficar bravinho". O Brasil precisa, diz, negociar de uma forma dura com os EUA para que os dois países saiam ganhando. Haberfeld pretende convocar os empresários para um mutirão de ajuda ao governo na negociação da Alca.
Segundo o empresário, que preside o conselho de administração da empresa de embalagens Dixie Toga e é membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem o perfil ideal para negociar a Alca com os EUA. "É um homem simpático, sabe se posicionar e bate duro", afirmou.
Haberfeld, que foi um dos primeiros empresários a manifestar apoio à candidatura de Lula, não deixou de fazer críticas ao governo FHC na negociação da Alca. "O problema é que o governo Fernando Henrique promoveu uma política ideal para um país desenvolvido, que não é o nosso caso."
 
Folha - O que o sr. achou da proposta americana para a Alca?
Sérgio Haberfeld -
Quando os americanos jogaram a oferta na mesa, que fez com que todo mundo no Brasil ficasse nervosinho, o que eles estão fazendo é apenas iniciando a negociação. Na hora que fazem uma proposta de negociação, a gente não precisa ficar bravinho, nem ofendido. Nós temos é que contrapropor. Em negociação, nada é ofensivo. Temos uma tendência a nos ofender e a achar que uma proposta como aquela é o fim do mundo. Numa negociação, posso propor qualquer coisa. Você quer vender o seu carro por R$ 10 mil e eu ofereço R$ 1. Você pode me mandar para aquele lugar, mas aí você seria um idiota. Faça-me uma contraproposta. Na hora que o americano diz que o Brasil deveria negociar na Antártida, nós deveríamos mandar ele negociar no Iraque. O problema é que os americanos estão muito bem preparados para a negociação.

Folha - E o Brasil?
Haberfeld -
O Itamaraty, para mim, é um dos órgãos mais bem preparados teórica e intelectualmente para a negociação da Alca. O que está faltando? O que falta é os empresários, principalmente do setor industrial, abastecerem o Itamaraty de informações. A agricultura já está preparada. Os empresários ligados à agricultura já estão se preparando há mais tempo. Os industriais ainda estão longe de levar a sério a Alca e têm tomado uma posição que me irrita muito, que é de simplesmente achar que irão morrer com a Alca. É aquela mesma teoria idiota de, em vez de estudar, o estudante pede à professora para adiar a prova.

Folha - O que o sr. pretende fazer na Câmara Americana?
Haberfeld -
A Câmara Americana pode servir como um elo de ligação dos americanos com os brasileiros. Nós podemos construir uma ponte para ligar os EUA na questão da Alca. Hoje, os dois lados estão ligados apenas por uma corda. Com a construção dessa ponte, é possível imaginar que americanos e brasileiros saiam ganhando. Essa ponte tem que envolver também Argentina, Paraguai e Uruguai, além de Canadá e México. A Câmara Americana pode facilitar isso.

Folha - Como?
Haberfeld -
Em primeiro lugar, por intermédio das empresas americanas no Brasil e do acesso que nós temos aos EUA. Podemos conseguir apoio desse pessoal para a abertura do mercado americano. Ao mesmo tempo, temos condição de fazer um trabalho no governo brasileiro, para, em contrapartida, liberar alguns setores brasileiros para a importação.



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