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França inaugura sua superescola de economia de Paris
Escola de Economia de Paris reúne estruturas de grandes universidades, mas, como fundação, buscará independência do Estado e dos patrocinadores
ANNIE KAHN e VIRGINIE MALINGRE DO "MONDE"
A ciência econômica francesa está repleta de talentos. Mas
quem sabe disso? Era preciso
dotar os economistas franceses
de uma vitrine. O premiê Dominique de Villepin inaugurou
ontem a Escola de Economia de
Paris, que dentro de alguns
anos terá entre 250 e 300 pesquisadores e 700 alunos.
A nova instituição será abrigada num dos prédios da Escola
Normal Superior (ENS), no
Boulevard Jourdan, no 14º "arrondissement" de Paris.
Para reunir economistas de
alto nível num mesmo espaço,
o presidente da nova instituição, Roger Guesnerie, professor de Collège de France, e seu
diretor, Thomas Piketty, diretor da Escola de Altos Estudos
em Ciências Sociais (Ehess),
realizaram uma proeza.
"Foi como querer criar a Microsoft na União Soviética",
brincou Piketty. Isso porque a
escola, que já está sendo apelidada de PSE (Paris School of
Economics, numa referência à
ilustre London School of Economics, ou LSE), precisou passar por várias provações.
Entre os fundadores da PSE
estão grandes escolas francesas
(a ENS, a Ehess, a Escola Nacional de Pontes e Calçamentos, o
Instituto Nacional de Agronomia), mas também a Universidade de Paris I-Sorbonne e o
Conselho Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS).
E, no mundo do ensino e da
pesquisa francês, não se fundem facilmente instituições como essas, que têm sua história,
sua cultura e sua organização
próprias e que são visceralmente ligadas a suas identidades.
A criação da PSE provocou
reações contrárias na Paris-I.
Apesar de os estudos na PSE serem gratuitos, sua estrutura
privada não agradou a todos,
porque a nova escola tem o estatuto de fundação.
Num primeiro momento, o
Estado a está dotando de 20
milhões, aos quais se somam
4 milhões de "fundadores privados". Uma fundação dos
EUA, a American Foundation
for the PSE, contribuiu com 1
milhão. Seu presidente, Georges de Ménil, diretor de estudos da Ehess desde 1978, tem
um perfil atípico na universidade. Herdeiro da família
Schlumberger, faz parte dos
acadêmicos que trocaram a
França pelos EUA em 1981,
após a eleição do socialista
François Mitterrand.
A nova escola oferecerá formação apenas a partir do mestrado e vai selecionar seus estudantes.
Nas publicações internacionais, a PSE deve ganhar destaque. É uma questão de subir de
escalão nas classificações internacionais em matéria de
pesquisa. Hoje, quando se somam todas as publicações
científicas das seis instituições
fundadoras, a PSE supera a
londrina LSE. É uma performance que vai permitir atrair
mais estudantes estrangeiros.
Também se buscará atrair de
volta pesquisadores franceses
que se radicaram nos EUA.
Philippe Aghion (Harvard) e
Esther Duflo (MIT) tiraram licença de seis meses para tentar
a aventura da PSE.
Claudia Senik, professora na
Sorbonne e responsável pelas
relações externas da PSE, explica: "Nos EUA, todos os anos
é realizada uma "feira de trabalho" em que as universidades
do mundo inteiro recrutam
seus pesquisadores em economia. A França não podia participar dela" devido a suas restrições burocráticas e financeiras.
Apesar de ter dado apoio ao
projeto, o Estado francês teve
dificuldade em abrir mão de
sua tutela. "O Estado nem sequer participa do conselho de
administração", diz Thomas
Piketty. "Investiu dinheiro,
mas perdeu a hegemonia."
As equipes do Ministério da
Pesquisa e da direção do ensino
superior teriam preferido conservar um vínculo de dependência por meio do canal financeiro. Mas o dinheiro público
usado para a fundação da escola será bloqueado, e apenas
seus juros vão financiar o funcionamento da instituição.
"Foi a única forma de garantir nossa autonomia com relação aos parceiros privados e ao
Estado. A fundação não pode
ser uma máquina de lavar subvenções públicas", diz Piketty.
É uma pequena revolução.
Tradução de CLARA ALLAIN
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