São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Crédito tributário infla lucro da Caixa

Dos R$ 2,5 bi do ganho obtido pelo banco estatal em 2007, R$ 1,4 bi veio desse instrumento contábil

Sem o uso dos créditos, lucro do ano passado teria ficado abaixo dos R$ 2,4 bi de 2006; banco vai repassar R$ 1,1 bi em dividendos ao Tesouro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao contrário do que ocorreu com os bancos privados que atuam no país, a Caixa Econômica Federal viu seu lucro de 2007 ficar praticamente estável em relação a 2006. Os ganhos da estatal ficaram em R$ 2,5 bilhões, valor próximo dos R$ 2,4 bilhões do ano anterior.
Além disso, o resultado teria sido pior se não fosse a utilização de um instrumento contábil que aumentou em R$ 1,4 bilhão o lucro apurado pelo banco no ano passado. Esse ganho se refere à utilização de créditos tributários, uma espécie de compensação tributária dada a empresas que tenham tido prejuízos em exercícios anteriores.
Ainda assim, a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, considerou positivo o resultado anunciado e disse que não é razoável comparar o lucro da estatal com o de bancos privados. "O desempenho dos bancos privados, a nosso ver, é diferente. A Caixa é um banco público, que implementa políticas públicas e atua em regiões em que os outros bancos não atuam", disse, ao anunciar os números ontem.
O Bradesco, maior banco privado do país, teve lucro de R$ 8,010 bilhões em 2007. O Itaú, segundo maior privado, teve ganhos de R$ 8,474 bilhões -o maior resultado já alcançado por uma instituição financeira no país. O Banco do Brasil, outra instituição controlada pelo governo federal, deve divulgar o balanço na semana que vem.
O uso de créditos tributários é comum entre os bancos. Em 2006, o CMN (Conselho Monetário Nacional) aumentou de cinco para dez anos o prazo de validade desses créditos, fazendo com que muitas instituições financeiras conseguissem maiores benefícios com a utilização do mecanismo. Ainda em 2006, o BB, por exemplo, inflou seu resultado com R$ 1,9 bilhão em créditos tributários.
Segundo Marcos Vasconcelos, vice-presidente de Controle e Risco, a Caixa levou mais tempo para avaliar seu estoque de créditos tributários e só no ano passado pôde se beneficiar da mudança na regra do CMN.
Se desconsiderado o uso do crédito tributário, o lucro obtido pela Caixa em 2007 teria sido menor do que o de 2006. Isso decorre, principalmente, pelo impacto que as turbulências enfrentadas pelo mercado financeiro no final do ano passado tiveram sobre a carteira de títulos públicos do banco.
A crise, que foi desencadeada por problemas no setor imobiliário norte-americano, fez com que muitos investidores estrangeiros reduzissem suas aplicações em países emergentes como o Brasil. O resultado foi uma desvalorização dos títulos emitidos pelo governo brasileiro -com isso, a Caixa teve perdas de R$ 1,4 bilhão no quarto trimestre de 2007.
Do lucro apurado em 2007, a Caixa irá repassar R$ 1,1 bilhão em dividendos ao Tesouro Nacional. Deste valor, porém, R$ 500 milhões já haviam sido adiantados ao governo ainda no ano passado. A data de pagamento do valor restante ainda não foi definida pelo banco.


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