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EUA liquidam bancos e avaliam estatização
No mês, extinção de instituições é a maior desde 1993; ações de grandes grupos despencam com risco de serem tomadas pelo Estado
Ganha força no país a opção de o governo assumir controle de grandes bancos, como Citi e Bank of America, para serem saneados e depois vendidos
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Os EUA liquidaram nos primeiros 40 dias deste ano o
equivalente a mais da metade
dos bancos fechados em 2008
inteiro, quando foram extintas
25 instituições, um recorde recente. Sete bancos foram fechados só na primeira semana de
fevereiro, o maior número em
um mês desde 1993.
Aos acionistas desses bancos,
13 médios e pequenos, foram
impostas perdas totais, e suas
agências, distribuídas entre os
concorrentes, assim como as
contas dos clientes. A expectativa é que até 1.000 dos 8.348
bancos dos EUA sejam liquidados nos próximos três anos pela FDIC, a agência federal que
supervisiona o sistema.
Na semana passada, as ações
dos quatro principais bancos
dos EUA (Citigroup, Bank of
America, JPMorgan Chase e
Wells Fargo) derreteram na
Bolsa de Valores de Nova York.
O Citi vale hoje 10% do que
valia há um ano, e suas ações
despencaram 44% na semana.
Por trás da fuga dos investidores está o temor crescente de
que algumas dessas instituições, especialmente Citi e Bank
of America (BofA), sejam estatizadas. Se isso ocorrer, os acionistas perdem tudo.
O próprio presidente do Fed
(o banco central dos EUA), Ben
Bernanke, e o ex-presidente da
instituição, Alan Greenspan, já
consideraram abertamente a
opção, pois o governo vai ficando sem alternativa para lidar
com a virtual falência desses
bancos, vistos como "grandes
demais para cair". "Qualquer
que seja a decisão, há um forte
compromisso dessa administração de manter os bancos privados e de devolvê-los ao setor
privado o mais rapidamente
possível", declarou Bernanke.
Na sexta-feira, o presidente
do Comitê de Bancos do Senado, o democrata Cristopher
Dodd, disse que a estatização
"não seria bem vinda". "Mas
minha preocupação é que talvez sejamos obrigados a isso
[estatizar], pelo menos por um
período curto", afirmou.
Entre os republicanos, o senador Lindsey Graham afirmou que a opção de estatizar
"deve estar sobre a mesa".
Na sexta, enquanto as ações
dos bancos despencavam em
Nova York, o porta-voz da Casa
Branca, Robert Gibbs, procurou acalmar os ânimos dizendo
que o governo de Barack Obama "acredita fortemente que o
modo de irmos adiante é com
um sistema bancário privado e
suficientemente regulado".
Mesmo assim, as ações do
conjunto de bancos listados na
Bolsa de Nova York caíram 7%.
As do Citigroup e Bank of America (BofA), cerca de 10%.
Citi, BofA, JPMorganChase e
Wells Fargo já receberam US$
140 bilhões em injeções de dinheiro público desde outubro
(o maior acionista do BofA já é
o governo dos EUA, com 6%).
Apesar desses aportes, o valor
de mercado dos quatro bancos
encolheu em US$ 402 bilhões
(um terço do PIB do Brasil)
desde então.
Esses bancos concentram o
grosso dos chamados ativos
"tóxicos", que travaram o sistema financeiro americano e que
são a causa da atual crise, considerada a maior desde os anos
1930. Os títulos "tóxicos" são
resultado de empréstimos feitos pelos bancos sem garantias
reais suficientes e largamente
lastreados pelo setor imobiliário, onde os preços das casas estão em queda livre há dois anos.
Em alguns casos, um único dólar em garantia real dada ao
banco chegou a financiar outros US$ 35 em empréstimos.
Para voltarem à atividade
normal, esses bancos precisam
ser limpos desses ativos. O
principal problema é que o governo não chegou ainda à conclusão de quanto pagar pelos títulos "tóxicos" e como proteger
o contribuinte das perdas. Por
isso, a opção pela estatização
ganha força no país.
Se adotada, o governo não
precisa "precificar" os ativos
"tóxicos". Além disso, imporia
perdas totais aos acionistas que
fizeram apostas arriscadas,
afastaria os dirigentes e poderia mais à frente, depois de limpo, revender o banco.
O maior temor dos EUA é
que o país mergulhe em uma
espiral recessiva parecida com
a do Japão nos anos 1990. No
país asiático, isso ocorreu justamente porque o governo demorou anos para atacar uma
crise bancária de proporções
mais modestas, mas parecida
com a atual nos EUA. Outro
exemplo mais ou menos da
mesma época foi a Suécia, que
resolveu estatizar bancos com
problemas rapidamente, o que
acelerou a saída da crise.
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