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Venda direta cresce 15% mesmo com a crise
Alta do faturamento no 4º tri se deve ao fato de setor operar com pagamento à vista e não sofrer com escassez de crédito
Quase 90% da receita vem de
itens de cuidado pessoal; para especialista, durante crise, cliente busca autoestima e cuida mais da aparência
TATIANA RESENDE
DA REDAÇÃO
Nem o reflexo da crise internacional no Brasil, com o corte
de quase 800 mil postos de trabalho desde novembro, afetou
o faturamento das vendas diretas no país, calcadas principalmente em produtos de cuidados pessoais, que respondem
por 88% da receita. Segundo a
associação do setor, houve um
aumento de 15,1% no quarto
trimestre em relação ao mesmo
período do ano anterior, alta
superior à média anual (14,1%).
Em 2008, esse mercado movimentou R$ 18,5 bilhões, segundo a ABEVD (Associação
Brasileira de Vendas Diretas).
Para o presidente, Lírio Cipriani, um dos motivos de o setor
ainda não ter sido afetado é o
fato de operar com pagamento
à vista, logo não teve o impacto
da escassez de crédito.
"A experiência mostra que,
em tempos de crise, as pessoas
buscam maneiras de se autoafirmar e o cuidado com a aparência é uma das formas mais
eloquentes de autoestima que,
aliás, vem com um plus: tem valor no mercado de trabalho.
Afinal, a boa aparência é um
quesito que ajuda a conquistar
e a manter empregos", afirma
João Carlos Basilio, presidente
da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene
Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). Os números ainda não estão fechados, mas "o quarto trimestre surpreendeu positivamente" e a estimativa é a de
que, em 2008, o crescimento do
setor tenha sido de 10,4%.
Edenilza Morais, 27, é um
dos 2 milhões de revendedores
que atuam no país -7,2% a
mais do que em 2007- e vem
comprovando essa teoria. Em
dezembro, faturou 15% acima
do mesmo mês de 2007 com os
produtos da Avon. Segundo ela,
as clientes não apenas não diminuíram os pedidos como, em
alguns casos, até se permitiram
levar cosméticos mais caros
desde o agravamento da crise.
Para Cipriani, em parte para
compensar a frustração de não
poder trocar bens duráveis, como a TV ou o carro, ou pelo
adiamento de uma viagem. Para as consumidoras mais fiéis,
Edenilza parcela as compras
em cinco vezes, embora tenha
que pagar à vista à empresa.
Referência em vendas diretas, a Avon teve um crescimento de 15% no faturamento do
quarto trimestre no país ante o
mesmo período do ano anterior, contra uma retração de 2%
no mundo. "O impacto da crise
foi menor no Brasil", avalia
Luis Felipe Miranda, presidente local da multinacional.
A empresa anunciou um corte que pode chegar a 3.000 postos de trabalho em quatro anos,
mas ainda não definiu, de acordo com o executivo, qual será a
redução em cada país. Segundo
Miranda, está mantido o investimento de US$ 150 milhões
para a construção do maior
centro de distribuição da Avon
no mundo, em Cabreúva (SP),
com inauguração prevista para
o final do próximo ano.
Outra grande empresa do setor, a Natura teve aumento de
22,2% na receita líquida no último trimestre e de 17,7% no
ano, ante igual período anterior. O lucro líquido cresceu,
respectivamente, 20% e 17,3%.
José Vicente Marino, vice-presidente de negócios da empresa brasileira, comenta que o
bom desempenho é reflexo da
crise interna da companhia,
que adotou um plano estratégico desde o início de 2008 para
melhorar os resultados. "Estamos confiantes e entusiasmados com 2009, mas vigilantes
dos efeitos da crise." A participação das operações internacionais na receita da Natura representa 5,9% do total, ante
4,7% do ano anterior. O foco
agora é ampliar a presença nos
países onde já atua, principalmente na América Latina.
A Abihpec estima que, no ano
passado, o Brasil tenha mantido, com faturamento de US$ 25
bilhões, o terceiro lugar no
mercado mundial de cosméticos, fragrâncias e produtos de
higiene pessoal, atrás apenas de
Estados Unidos e Japão.
As vendas diretas respondem
por quase 30% do faturamento
desse setor. "Historicamente,
em ano de crise, cresce o número de consultoras porque, diante de dificuldades financeiras, a
tendência das mulheres brasileiras é começar a vender cosméticos para complementar a
renda", destaca o presidente da
associação.
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