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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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PÚBLICO E PRIVADO

Empresas americanas disputam fatia na reconstrução do país, um negócio que deve chegar a US$ 100 bi

Começa lobby para contratos no Iraque

JOSHUA CHAFFIN
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON

Mesmo antes que o estrondo das armas diminua no Iraque, um novo ruído provavelmente surgirá no deserto -o do comércio. Com sua própria economia vacilante, as empresas americanas já estão de olho nas oportunidades de negócios no Iraque pós-Saddam Hussein.
Dentro de alguns dias o governo americano deverá conceder uma série de contratos que poderão chegar a US$ 1,5 bilhão para reabilitação de estradas e outras infra-estruturas e para administrar os portos e aeroportos do Iraque. Cinco grandes companhias de engenharia e construção dos EUA, incluindo a Bechtel e a Halliburton, foram solicitadas a apresentar propostas para a tarefa no mês passado.
O trabalho poderá ser muito mais lucrativo se oferecer um atalho para desenvolver a indústria de petróleo iraquiana. Alguns empreiteiros sondaram os lobistas em Washington pedindo conselhos para entrar no negócio. Um amplo leque de companhias desejará fornecer de tudo, de telefones celulares e livros escolares a banheiros portáteis, num projeto de reconstrução que poderá se equiparar ao Plano Marshall.
"Não é preciso cavar muito fundo para ver quanto dinheiro está envolvido", disse um lobista de Washington.
O setor de petróleo do Iraque exigirá US$ 5 bilhões em investimentos durante três anos para voltar aos níveis de produção anteriores a 1991, segundo um estudo do Instituto Baker da Universidade Rice. Seriam necessários US$ 15 bilhões para se atingir os níveis plenos de produção.
"Existe uma necessidade imediata de reparar essa infra-estrutura", disse Edward Djerejian, diretor do Instituto Baker. "Serão contratos importantes."
As empresas envolvidas na licitação estão relutantes em comentar o assuntos. Dizem que é impossível estimar quão lucrativo será o trabalho de reparo sem conhecer a extensão dos danos.

Miragem
É possível que o Iraque venha a ser apenas uma miragem para os empresários americanos. O Kuait não satisfez as expectativas depois da Guerra do Golfo de 1991.
Na época os custos de reconstrução foram estimados em até US$ 100 bilhões. Os líderes do país prometeram dar prioridade às empresas americanas. O Departamento de Comércio montou um escritório de ligação especial para ajudar empresas americanas a entrar no negócio. O ex-secretário de Estado James Baker e outras altas autoridades voltaram ao deserto para fazer lobby em nome de companhias como a Enron.
Anos depois, os projetos chegaram a apenas US$ 25 bilhões, e os EUA ficaram com menos da metade disso. A maior parte foi para empresas que já tinham ligações na região. Desta vez os contratos iniciais deverão ir para companhias americanas, porque a maior parte da reconstrução será paga pelo governo dos EUA.
Existem outros motivos para otimismo entre os executivos americanos. O Iraque provavelmente será coberto por um grande contingente de tropas aliadas, eliminando a grande dor de cabeça relativa à segurança.
Ao contrário do Afeganistão, o Iraque também poderá ter um robusto mercado de consumo. Mais importante, os poços de petróleo deverão dar um fluxo de caixa estável para pagar os contratos.
"Não há gente querendo se envolver no Afeganistão ou na Bósnia", disse outro lobista. "Lá não há recompensa em longo prazo. As pessoas estão muito mais animadas sobre o Iraque."
Embora possam estar animadas, elas estão tentando conter seu entusiasmo, pelo menos em público. Isso é particularmente verdadeiro diante da ampla suspeita de que Bush está conduzindo a guerra para ajudar seus velhos amigos do setor de petróleo.
O Centro para Política Responsável disse que cinco construtoras da primeira lista para contratos de reconstrução doaram US$ 2,8 milhões durante as duas últimas eleições. O vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, é ex-diretor da Halliburton, e há ligações entre o establishment da defesa e o setor privado.
A verdadeira blitz virá agora que o tiroteio começou. O presidente vai enviar ao Congresso um pedido de verbas suplementares, e os lobistas correrão aos deputados. O governo indicou que pedirá até US$ 100 bilhões imediatamente. "Muita gente vai ganhar dinheiro", concluiu um lobista.


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