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LUÍS NASSIF
A Lei de Nizan e Fischer
Zeca pagodinho foi
transformado no Gerson
dos anos 2000. Ambos são ídolos, com toda carga de simbologia que carregam. Gerson, o
grande comandante do tricampeonato, o guerreiro que venceu
o estigma de amarelar; Pagodinho, a ressurreição do samba, o
bom malandro que escorrega,
mas sempre volta "para a minha patroa".
O primeiro virou símbolo de
oportunismo, o inspirador da
"Lei de Gerson"; o segundo
ameaça virar símbolo de traição. Ambos foram sacrificados
no altar de uma propaganda
inescrupulosa, e o que se vê agora é uma rodada de hipocrisia
sem paralelo, a ponto de a própria Abap (Associação Brasileira de Agências de Propaganda)
fazer um veemente protesto
contra Pagodinho, acusando-o
de denegrir a propaganda brasileira -como se o publicitário
fosse ele, e não Nizan Guanaes
(que o tirou do concorrente)
nem Eduardo Fischer (que o
acusou de "traíra" em uma
campanha nacional).
Zeca Pagodinho é uma vítima da cerveja, uma pessoa simples, com problemas de alcoolismo, que corre sérios riscos de
saúde se não parar de beber. É
contratado por um cachê milionário para vender uma cerveja
-a Nova Schin. No mesmo período, os controladores da AmBev vendem a empresa e se tornam sócios da compradora -a
Interbrew. Seu horizonte, agora, é o mundo, e seus concorrentes, a Miller e a Molsen, não
uma pequena cervejaria brasileira, a Schincariol, que cresceu
sob suspeita de praticar sonegação pesada. A operação levanta
ruídos no mundo inteiro.
Trinta dias antes do anúncio
de venda, a AmBev decide pela
campanha inusitada de tirar o
garoto-propaganda do concorrente. A operação é de alto risco,
por expor cruamente o poder de
um monopólio e por colocar em
xeque, sem nenhum prurido, a
imagem de um ídolo popular. E
ainda atropela todo o seu planejamento de marketing -que
era não permitir a comparação
da Schincariol com a Brahma,
mas com a Antarctica.
Deflagrada a operação, toda
a celeuma relevante -da venda da AmBev- é substituída
pela crucificação de Zeca Pagodinho. A agência concorrente,
Fischer América, em uma campanha para o Brasil inteiro,
acusa-o de "traíra". Não há nenhum gesto da AmBev e de Nizan de impetrar ao menos uma
liminar para proteger seu contratado. Porque o que interessava era mesmo deixar esse país
de botocudos discutir a "traição" do Zeca, e não o episódio
da venda da AmBev, o fim do
sonho da multinacional brasileira.
Não existe "Lei de Gerson",
assim como não existe "Pagodinho traíra". Existe a "Lei de Nizan", para quem não vê limites
para a esperteza; e a "Lei de Fischer", para quem bate no mensageiro, para não ter que enfrentar seu chefe.
Até os ídolos populares estão
sendo subtraídos desse país.
Aonde se irá parar nessa escalada?
Pauta fiscal
Escreve-me um distribuidor
de cervejas para explicar que,
nesse mercado, a sonegação
pesada acontece via "NFs Plásticas" -que vão e voltam com
o caminhão. Na venda sem nota fiscal, o fabricante embolsa o
IPI, o ICMS substituto, o PIS/
Cofins e o IR; e o distribuidor
embolsa o PIS/Cofins e o IR.
Com a "pauta fiscal" (tributar
pelo volume, não pelo valor) e
com o medidor de vazão, ele
considera que o quadro poderá
ser eliminado.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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