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CVM investiga 26 investidores da Ipiranga
Fundo com sede nos EUA e que pode ter atuado para brasileiros teve seu ganho com compra e venda de ações bloqueado
Ministério Público quer cobrar indenização de investidor que supostamente teve informação privilegiada sobre venda do grupo
ELVIRA LOBATO
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
As investigações preliminares da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) indicam que
26 investidores, entre pessoas
físicas e jurídicas, podem ter
feito uso de informação privilegiada para negociar ações de
empresas do grupo Ipiranga.
A autarquia conseguiu bloquear os ganhos de dois desses
investidores com uma ação
cautelar em parceria com o Ministério Público Federal, para
evitar que o dinheiro trocasse
de mãos ou saísse do país. As
identidades dos investidores
não foram reveladas.
Segundo o presidente da
CVM, Marcelo Trindade, um
deles é um fundo de investimentos estrangeiro com sede
em Delaware (EUA), e o outro,
uma pessoa física, supostamente do Rio. A autarquia vai
contatar a SEC (a CVM dos
EUA) para obter informações.
Foram bloqueados R$ 3,3
milhões entre lucros e investimentos do fundo estrangeiro.
Caso a operação tivesse sido
concluída, ele teria lucrado
40%. Foram bloqueados também R$ 970 mil em ativos do
investidor pessoa física, que teria lucrado 69%.
A autarquia conseguiu identificar e bloquear os recursos
dos dois investidores porque
eles compraram um volume
significativo de papéis na semana passada e venderam as ações
na segunda-feira, após a divulgação da venda do grupo Ipiranga para Petrobras, Braskem
e o grupo Ultra. A compra de
volumes maiores de ações e a
rápida realização de lucros é sinal típico de uso de informação
privilegiada, disse a CVM.
Até o dia 15, a média diária de
negócios com ações do grupo
Ipiranga era de R$ 1,2 milhão.
Na sexta-feira, 16, o volume saltou para mais de R$ 13 milhões
nos papéis da Refinaria Ipiranga. As ações da Distribuidora
Ipiranga, de menor liquidez,
passaram de uma média de R$
30 mil por dia para mais de R$
350 mil na sexta.
Além dos dois que tiveram os
ganhos bloqueados, a CVM investiga 23 investidores que negociaram ações da Refinaria
Ipiranga e mais um que operou
com papéis da Distribuidora
Ipiranga. Há indícios também
de que investidores venderam
papéis preferenciais e compraram ações ordinárias (com direito a voto) antes do anúncio.
Indenização
O Ministério Público Federal
pretende entrar com ação civil
pública de indenização ao mercado de capitais em até 30 dias.
Assim, será possível ressarcir o
investidor que vendeu ações
antes do anúncio da venda da
Ipiranga. "Se eu tivesse vendido ações na última sexta, teria
sido roubado", disse Trindade.
Essa é a primeira vez que a
CVM atua em parceria com a
Procuradoria da República para abortar uma operação supostamente ilegal. Em novembro passado, foi criado um grupo específico de procuradores
para acompanhar o mercado de
capitais. Esse grupo estava reunido em Brasília, na terça-feira,
quando foi acionado pela CVM.
Trindade destacou que a parceria vai ajudar a coibir as práticas irregulares no mercado.
"Essa parceria vai servir como
um alerta para as pessoas que
insistem em viver no passado e
acham que o mercado de capitais brasileiro permite esse tipo
de atuação."
Segundo ele, nos últimos
anos, mais de 25% das operações de fusões e aquisições tiveram suspeita de uso de informação privilegiada. A investigação sobre o caso Ipiranga deve ser concluída em 90 dias.
Depois, a CVM pode abrir inquérito administrativo.
Mais de cem pessoas estavam a par da operação de venda
do grupo Ipiranga, entre executivos, banqueiros, consultores,
advogados e auditores.
A CVM solicitou às empresas
envolvidas a relação dos nomes
de pessoas que sabiam da operação e pediu à Bovespa a lista
de nomes de investidores que
negociaram ações de empresas
do grupo Ipiranga. A investigação vai cruzar esses dados. Alguns investidores podem ter
lançado mão de intermediários
ou de fundos estrangeiros para
encobrir a transação.
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