São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2007

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CVM investiga 26 investidores da Ipiranga

Fundo com sede nos EUA e que pode ter atuado para brasileiros teve seu ganho com compra e venda de ações bloqueado

Ministério Público quer cobrar indenização de investidor que supostamente teve informação privilegiada sobre venda do grupo


ELVIRA LOBATO
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

As investigações preliminares da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) indicam que 26 investidores, entre pessoas físicas e jurídicas, podem ter feito uso de informação privilegiada para negociar ações de empresas do grupo Ipiranga.
A autarquia conseguiu bloquear os ganhos de dois desses investidores com uma ação cautelar em parceria com o Ministério Público Federal, para evitar que o dinheiro trocasse de mãos ou saísse do país. As identidades dos investidores não foram reveladas.
Segundo o presidente da CVM, Marcelo Trindade, um deles é um fundo de investimentos estrangeiro com sede em Delaware (EUA), e o outro, uma pessoa física, supostamente do Rio. A autarquia vai contatar a SEC (a CVM dos EUA) para obter informações.
Foram bloqueados R$ 3,3 milhões entre lucros e investimentos do fundo estrangeiro. Caso a operação tivesse sido concluída, ele teria lucrado 40%. Foram bloqueados também R$ 970 mil em ativos do investidor pessoa física, que teria lucrado 69%.
A autarquia conseguiu identificar e bloquear os recursos dos dois investidores porque eles compraram um volume significativo de papéis na semana passada e venderam as ações na segunda-feira, após a divulgação da venda do grupo Ipiranga para Petrobras, Braskem e o grupo Ultra. A compra de volumes maiores de ações e a rápida realização de lucros é sinal típico de uso de informação privilegiada, disse a CVM.
Até o dia 15, a média diária de negócios com ações do grupo Ipiranga era de R$ 1,2 milhão. Na sexta-feira, 16, o volume saltou para mais de R$ 13 milhões nos papéis da Refinaria Ipiranga. As ações da Distribuidora Ipiranga, de menor liquidez, passaram de uma média de R$ 30 mil por dia para mais de R$ 350 mil na sexta.
Além dos dois que tiveram os ganhos bloqueados, a CVM investiga 23 investidores que negociaram ações da Refinaria Ipiranga e mais um que operou com papéis da Distribuidora Ipiranga. Há indícios também de que investidores venderam papéis preferenciais e compraram ações ordinárias (com direito a voto) antes do anúncio.

Indenização
O Ministério Público Federal pretende entrar com ação civil pública de indenização ao mercado de capitais em até 30 dias. Assim, será possível ressarcir o investidor que vendeu ações antes do anúncio da venda da Ipiranga. "Se eu tivesse vendido ações na última sexta, teria sido roubado", disse Trindade.
Essa é a primeira vez que a CVM atua em parceria com a Procuradoria da República para abortar uma operação supostamente ilegal. Em novembro passado, foi criado um grupo específico de procuradores para acompanhar o mercado de capitais. Esse grupo estava reunido em Brasília, na terça-feira, quando foi acionado pela CVM.
Trindade destacou que a parceria vai ajudar a coibir as práticas irregulares no mercado. "Essa parceria vai servir como um alerta para as pessoas que insistem em viver no passado e acham que o mercado de capitais brasileiro permite esse tipo de atuação."
Segundo ele, nos últimos anos, mais de 25% das operações de fusões e aquisições tiveram suspeita de uso de informação privilegiada. A investigação sobre o caso Ipiranga deve ser concluída em 90 dias. Depois, a CVM pode abrir inquérito administrativo.
Mais de cem pessoas estavam a par da operação de venda do grupo Ipiranga, entre executivos, banqueiros, consultores, advogados e auditores.
A CVM solicitou às empresas envolvidas a relação dos nomes de pessoas que sabiam da operação e pediu à Bovespa a lista de nomes de investidores que negociaram ações de empresas do grupo Ipiranga. A investigação vai cruzar esses dados. Alguns investidores podem ter lançado mão de intermediários ou de fundos estrangeiros para encobrir a transação.


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