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São Paulo, quarta-feira, 23 de abril de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Alimentos e produtos oligopolizados puxam elevação do custo de vida para 0,84%; Fipe esperava menos de 0,81%

Inflação retoma trajetória de alta em SP

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

A inflação continua surpreendendo e confundindo os analistas. Mais uma vez voltou a subir em São Paulo. As previsões eram de uma taxa inferior ao 0,81% registrado na primeira quadrissemana deste mês, mas a taxa subiu para 0,84% nos últimos 30 dias terminados no dia 14. A alta fez a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) rever a previsão de taxa de abril de 0,4% para 0,6%.
Dois itens ainda caminham na contramão, segundo análise de Heron do Carmo, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor: alimentos e preços oligopolizados. Ambos tiveram grande participação do dólar nessa tendência de alta. Nas estimativas do economista da Fipe, esses itens já deveriam estar com pressões menores, o que não está ocorrendo.
Os alimentos, que tradicionalmente sobem em janeiro, mas caem a partir de fevereiro devido à safra, continuam em alta desde o início do ano. O aumento médio foi de 1,53% nos últimos 30 dias e atingiu todos os setores da alimentação.
Até os produtos "in natura", que ensaiaram um recuo na pesquisa anterior, voltaram a subir (4,62%). A maior pressão continua vindo do tomate, que ficou 64% mais caro nos últimos 30 dias e gerou inflação de 0,11%.
Os alimentos semi-elaborados, em que estão incluídos os cereais e as carnes, voltaram a subir. Após queda nominal de 0,2% em março, os preços subiram 0,4% na primeira quadrissemana deste mês e 0,81% na segunda.
"Todo mês a inflação tem um vilão, e os produtos oligopolizados são os candidatos deste mês", diz o economista da Fipe. Os produtos de limpeza subiram 2,62%, com destaque para sabão em pó (3,2%), sabão em barra (3,5%) e amaciante (5,31%). Alguns desses produtos, como o sabão em barra, já somam alta de 20% no ano.

Efeito dólar
Assim como a alta do dólar no ano passado empurrou a inflação para cima -e o repique da taxa cambial no início deste ano ainda impede uma queda maior dos preços para os consumidores-, o recuo atual da moeda norte-americana vai facilitar a queda da taxa de inflação.
A queda do dólar pode dar um novo cenário para a inflação, mas só terá efeito sobre os preços ao consumidor em dois meses. Nesse período, no entanto, deverão começar as pressões das tarifas públicas, o que poderá eliminar os efeitos da queda do dólar.
"O câmbio é um estabilizador de inflação. Se o dólar ficar em R$ 3,00, vai contribuir para a redução no ritmo da taxa, mas esse efeito não é imediato", diz Heron. "O que não pode ocorrer são oscilações bruscas na taxa, como as ocorridas no final de 2002 e no início de 2003", diz.
O chamado núcleo da inflação -basicamente composto pelos preços livres e por serviços- preocupa, diz Heron. Ele mede uma taxa de inflação de 1,04% para a segunda quadrissemana, quando a inflação média de todos os itens que compõem o índice da Fipe é de 0,84%. "A demora na queda do núcleo se deve aos produtos industrializados, que estão com aumentos não justificados para esse período do ano."
Heron do Carmo, crê, no entanto, em uma redução do núcleo inflacionário nas próximas semanas. Esse otimismo está baseado em um novo índice que a Fipe passa a divulgar a partir desta semana: o ponta a ponta do núcleo.
Esse novo índice -que contém a variação de preços dos aluguéis, vestuário, produtos industrializados e serviços privados- já mostra tendência de queda no núcleo.
O ponta a ponta divulgado ontem, que compara os preços médios da segunda semana deste mês com os da segunda de março, mostrou taxa de 0,5%. Já a variação quadrissemanal do núcleo, que compara a média de preços das últimas quatro semanas com as quatro anteriores, subiu 1,04%.


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