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LUÍS NASSIF
O Aerus e a Varig
Recebo do secretário de Previdência Complementar,
Adacir Reis, os seguintes esclarecimentos a respeito da intervenção no Aerus, o fundo de pensão
dos funcionários da Varig.
Em 2002, o Aerus fechou o plano para ingresso de novos participantes, desenhou novo plano para os novos e definiu que a cada
ano a Varig poderia optar em
quanto iria querer contribuir.
Para os novos planos, a empresa
passou a contribuir com o mínimo para esse novo fluxo de contribuições.
Ficou o débito, os compromissos não-honrados ao longo de
anos, fruto de sucessivas repactuações da dívida.
No início de 2003, a SPC convocou a Varig e a Aerus e informou
que não mais permitiria repactuações nem atrasos de contribuições. Estava claro que o Aerus
não agira como credor em defesa
de seus interesses. A Varig assumiu o compromisso de não mais
atrasar. Em caso de novos atrasos, haveria a medida drástica da
intervenção com indisponibilização de bens dos administradores.
Houve momentos em que a Varig chegou a atrasar salários de
funcionários, mas manteve em
dia os compromissos com o Aerus, garantindo um fluxo mensal
de R$ 9 milhões, que ao menos
garantiria o cumprimento das
obrigações com os planos mais
antigos.
Em maio passado, na discussão
sobre a nova Lei de Falências, as
aéreas acabaram sendo incluídas
na última hora. No dia seguinte,
a Varig pediu a inclusão na nova
lei de recuperação judicial. Deferido o pedido, imediatamente
suspendeu os repasses ao Aerus.
A SPC ficou aguardando o plano de recuperação, muito tumultuado, com troca de gestores e os
procedimentos protelatórios da
Fundação Ruben Berta (a controladora da Varig).
No final, a própria Varig apresentou seu plano de recuperação,
e a dívida com o Aerus foi incluída na classe 2, dos credores com
garantia. Considerou-se uma vitória para o Aerus. A proposta de
reestruturação foi aprovada em
assembléia da Varig e homologada pelo juiz. Foi dada uma carência para pagamento a vários credores, como a Infraero e a BR
Distribuidora.
A partir de janeiro, a Varig entrou na obrigação corrente. Pagou janeiro e suspendeu os pagamentos posteriores. Nesse momento, a TGV (Trabalhadores do
Grupo Varig) anunciou que pretendia utilizar US$ 100 milhões
do Aerus na operação de salvamento da empresa.
O Aerus colocaria praticamente
todo o seu capital tendo como
única garantia apenas a boa vontade de recuperar a empresa. A
legislação é clara ao dizer que,
em caso de insuficiência de recursos, há que privilegiar o aposentado. A SPC colocou um observador para acompanhar as negociações. Aí começa a tomar corpo
uma operação de segregar a parte
boa da parte podre da Varig, e as
dívidas do Aerus ficariam na
parte podre.
Na sexta à noite, apareceu uma
pessoa se apresentando como novo presidente do Aerus, com ata
assinada supostamente na segunda-feira, dizendo que o Conselho Deliberativo, por maioria,
tinha destituído a direção do Aerus. Tudo precário, rudimentar,
com muitos conselheiros não sendo consultados.
A SPC percebeu, então, que a
intervenção e liquidação seria a
única maneira de impedir o saque final do fundo e resguardar
parte dos direitos dos aposentados.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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