São Paulo, sexta-feira, 23 de abril de 2010

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Investimento estrangeiro em ações é recorde

Aplicações de estrangeiros na Bolsa e em renda fixa somam US$ 9,75 bi no 1º tri; deficit do país com exterior é o maior desde 1947

Nível dos investimentos deve melhorar no segundo semestre, prevê o BC, que espera atrair US$ 45 bi para o setor produtivo neste ano

GABRIEL BALDOCCHI
EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As aplicações de estrangeiros na Bolsa de Valores e em renda fixa bateram recorde no primeiro trimestre. Os estrangeiros aplicaram US$ 9,749 bilhões, o melhor desempenho para o primeiro trimestre do ano desde 1947, segundo dados do Banco Central. No mesmo período, os investimentos externos no setor produtivo subiram em relação a 2009, mas ainda estão abaixo do período pré-crise financeira.
O resultado mostra que os investidores internacionais aumentaram as apostas no capital de curto prazo (que traz maior risco para o país) durante os três primeiros meses do ano. Somente na Bolsa foram aplicados US$ 5,27 bilhões.
Nos primeiros 22 dias deste mês, as compras de títulos e ações em carteira, de US$ 2,26 bilhões, já superam os investimentos diretos no setor produtivo, que estão em US$ 2,1 bilhões. Os resultados próximos dos níveis de 2009, quando a crise repercutia com força na economia brasileira, reforçam as dúvidas do governo sobre as expectativas de investimento direto estrangeiro para 2010.
Os dados do BC mostram ainda que o país teve deficit de US$ 12,145 bilhões nas transações com o exterior (contas correntes) no primeiro trimestre do ano. Foi pior desempenho para o período desde 1947.
Entre janeiro e março, os investimentos estrangeiros diretos no Brasil somaram US$ 5,656 bilhões, alta de US$ 314 milhões na comparação com o mesmo período do ano passado, mas 36% menores que os do primeiro trimestre de 2008.
O Banco Central espera atrair US$ 45 bilhões do exterior para o setor produtivo neste ano, mesmo nível de 2008. No ano passado, o Brasil recebeu apenas US$ 25,9 bilhões.
"O nível dos investimentos está bom, mas deve ser melhor no segundo semestre, quando alguns anúncios e planos de investimento se concretizarem", afirmou o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes.
Para a economista Daniela Magalhães Prates, do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica da Unicamp, não será fácil alcançar a meta prevista pelo BC. "Acho que é um número difícil, mas não significa que não possa ser atingido." Segundo ela, a taxa de câmbio impede o crescimento maior do apetite estrangeiro para investir no país.
Com o câmbio apreciado, os empresários deixam de investir por temer rentabilidade menor dos produtos nacionais na competição com importados.
A cotação do real também desfavorece os investimentos no setor exportador, que enfrenta dificuldades para recuperar posições nos mercados tradicionais.
A retomada vai depender, segundo ela, da avaliação do investidor estrangeiro de que o crescimento do país compensará o desestímulo do câmbio. "Mas, para que isso ocorra, é fundamental evitar que a moeda se aprecie mais", acrescenta.
Para o estrategista-sênior do banco WestLB, Roberto Padovani, apesar da maior preferência dos investidores pelos movimentos em carteira, o Brasil não corre o risco de vivenciar uma bolha. "A valorização das ações está em linha com a relação preço/lucro das companhias. Não há descolamento."


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