São Paulo, quinta-feira, 23 de maio de 2002

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TROCA DE COMANDO

Secretário-executivo da Camex deixa o cargo devido a divergências com o ministro Sergio Amaral

Especialista em café substituirá Giannetti

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Desenvolvimento, Sergio Amaral, confirmou ontem a saída do governo do secretário-executivo da Camex (Câmara de Comércio Exterior), Roberto Giannetti da Fonseca. Amaral aceitou o pedido de demissão de Giannetti, apresentado há duas semanas.
Robério Oliveira Silva, que trabalhou com o ministro na Organização dos Países Produtores de Café, em Londres, vai substituir Giannetti a partir do dia 6 de junho. Amaral e Giannetti admitiram que houve divergências entre os dois durante os dez meses em que trabalharam juntos, mas a alegação oficial para a saída de Giannetti foram razões pessoais.
"Temos diferenças de estilo e de tipos de experiência", disse Amaral, que reforçou que essa não foi a razão da saída de Giannetti. "Foram os anos mais ativos e de maiores realizações. Foi o período áureo da Camex e digo isso de forma insuspeita porque fui o primeiro secretário da Camex."
Indicado pelo ex-ministro do Desenvolvimento Alcides Tápias, Giannetti permaneceu no cargo durante dois anos e cinco meses.
Durante esse período enfrentou divergências com o Ministério da Fazenda e com a Receita Federal para implementar medidas para aumentar as exportações. Essas mesmas divergênciaS levaram à demissão de Tápias.
Em dezembro de 2000, um enfrentamento entre Tápias e o secretário da Receita, Everardo Maciel, por causa de uma medida sugerida por Giannetti, levou o secretário a acompanhar Tápias em sua ameaça de sair do governo.
Desta vez, porém, não foram as discordâncias com a área fiscal que causaram a ruptura, mas diferenças de estilo entre Giannetti e Amaral, segundo fontes do governo e do setor privado.
"Houve discordâncias entre nós, mas foram públicas, e as concordâncias foram em maior número", disse Giannetti. Ele admitiu que causou desconforto no ministério por ter "falado demais". "Mas minha incontinência oral foi para o bem do país e acertei em minhas previsões, portanto não causei nenhum mal."
Amaral desautorizou Giannetti em duas ocasiões. Em dezembro, quando o secretário desaconselhou exportadores a aceitarem cartas de crédito da Argentina por causa da eminência de calote, e em março, quando Giannetti disse que o setor siderúrgico pedia aumento do Imposto de Importação para aumentar os preços.
Giannetti disse que vai continuar a dar apoio ao seu sucessor durante a quarentena -período de quatro meses em que não poderá trabalhar na mesma área do setor privado por ter participado do governo.
Fontes do setor privado disseram que o secretário negocia com o grupo Votorantim. Giannetti também afirmou que vai prestar qualquer assessoria em termos de comércio exterior ao pré-candidato do governo à Presidência, José Serra. "Sou amigo dele desde que ele não era nada", afirmou.
Se eleito, Serra deverá criar um ministério voltado ao comércio externo. Giannetti não negou que possa aceitar um eventual convite de Serra, caso ele ganhe as eleições, mas disse que falar sobre o assunto seria mera especulação.



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