São Paulo, segunda-feira, 23 de maio de 2005

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FOLHAINVEST

DINHEIRO VERDE

Papéis criados por nova lei diversificam financiamento ao setor agrícola e podem compor carteira de fundos

Novo título injeta crédito no agronegócio

SILVANA MAUTONE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Neste ano, um novo tipo de papel passou a poder compor as carteiras dos fundos de investimento e de previdência: os títulos lastreados no agronegócio, criados pela Lei 11.076, de 30/12/2004. O objetivo do governo, ao autorizar a emissão desses papéis, foi reduzir a dependência dos produtores do crédito oficial.
A lei prevê a criação de vários papéis. Até agora, o único que foi lançado é a LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), lastreada em CPRs (Cédulas de Produto Rural), que existem no mercado desde 1994.
A CPR é um título usado pelo produtor para financiar os custos de desenvolvimento da sua lavoura ou criação, as quais oferece como garantia. Dessa forma, ele obtém crédito a taxas inferiores às cobradas no mercado.
Apenas os bancos podem emitir LCAs, que funcionam como um tipo de "CDB do agronegócio". O Banco do Brasil, principal financiador do setor rural no país, foi o pioneiro. Em 1º de março, ele realizou o primeiro leilão, ofertando R$ 10 milhões em LCAs. Até o final de abril, somando os resultados dos cinco primeiros leilões, a captação foi de R$ 56,5 milhões.
Os papéis podem ser comprados diretamente por pessoas físicas, além de investidores institucionais, como "assets managements" e tesourarias de bancos e empresas. O valor dos lotes mínimos do BB, porém, ainda são altos para o pequeno investidor: R$ 100 mil. O valor máximo chega a R$ 5 milhões. Os prazos de vencimento variam de três a seis meses.
Segundo José Carlos Vaz, gerente-executivo de Agronegócios do BB, neste primeiro semestre os leilões de LCAs estão servindo para testar o mercado e verificar a receptividade e a demanda desses papéis. A partir de julho, os prazos devem ser mais diversificados, assim como o valor dos lotes. "Devemos oferecer títulos com prazos a partir de 30 dias, podendo talvez chegar a 240 dias, período mais próximo do ciclo da agricultura, que é de nove meses", afirma Vaz.
Em julho, devem ser ofertados lotes a partir de R$ 10 mil, possibilitando, assim, que o pequeno investidor tenha acesso diretamente a esse mercado. Os clientes pessoa física do BB poderão comprar essas LCAs na própria rede de agências ou pelo serviço de Internet Banking, enquanto os demais investidores poderão fazê-lo por meio de leilões em Bolsas.
As LCAs do BB são lastreadas em CPRs que fazem parte da carteira do banco, emitidas por clientes que são produtores rurais. Da forma que esses títulos foram estruturados pela instituição, o risco de crédito das LCAs é o do próprio Banco do Brasil. Do ponto de vista do investidor, o BB é o devedor que assume honrar o pagamento no dia do vencimento.
De acordo com Vaz, a rentabilidade média das LCAs para o investidor tem sido de 100,8% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que é a média dos juros praticados nos empréstimos entre os bancos.
Além do BB, apenas o Banco Fibra lançou até agora LCAs no mercado. Elas também são lastreadas em CPRs. No caso do Fibra, que é um banco menor e não é um tradicional financiador do setor de agronegócios, a exemplo do BB, cada operação de LCA tem sido montada com base em emissões de CPR fechadas com um único produtor rural. São as chamadas "operações estruturadas", elaboradas caso a caso.
A primeira negociação desses papéis, feita no mercado de balcão, via Cetip (Câmara de Custódia e Liquidação), aconteceu na segunda semana de abril, no valor de R$ 5 milhões, lastreada em CPRs de uma empresa de gado de corte de Goiânia (GO).
O prazo é de seis meses o vencimento é em outubro. "A rentabilidade é de cerca de 105% do CDI", diz Moacir Teixeira, diretor de Agronegócios do Fibra. Mais da metade dos títulos foi comprada por um banco estrangeiro.
A próxima operação será lastreada em CPRs de açúcar, no valor de R$ 9 milhões. "Como o prazo dos títulos é mais longo, de um a três anos, a rentabilidade deve ficar em cerca de 110% do CDI", diz Teixeira. As LCAs do Fibra, têm a garantia de um seguro.


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