|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A tijolada global
Sempre que ocorrem, essas
mudanças pegam no contrapé
grandes investidores, que precisam zerar suas posições
A TIJOLADA foi global. A mudança de humores na economia dos EUA balançou a Turquia e a África do Sul, obrigou a Índia a fechar sua Bolsa e chegou ao
México. O prêmio de risco dos
emergentes explodiu, e o risco Brasil, que estava dias atrás em 230
pontos, saltou para 280. Houve
uma corrida para títulos públicos
dos EUA. As taxas longas, que estavam pagando 4,5% no início de
março, chegaram a bater em 5,2%.
Sempre que ocorrem, essas mudanças de preços relativos pegam
no contrapé grandes investidores,
que precisam zerar suas posições.
O investidor vende posição em
um mercado para cobrir em outro.
Ao proceder assim, ele mexe nos
preços relativos do mercado em
que vendeu posição, deixando outros vendedores a descoberto.
A opinião de alguns analistas
mais atilados é que o mercado brasileiro está menos vulnerável que
em outras crises por conta do diferencial de juros interno e externo,
ainda elevado. Quando o Brasil pagava 13% lá fora e a taxa Selic estava
em 17%, qualquer subida no risco
Brasil deflagrava ondas de venda
que aumentavam o risco-país e/ou
desvalorizavam o real. Agora, esse
diferencial está razoavelmente
aberto. O Brasil está pagando 7,4%,
contra a Selic de 15,75%. O que deve
ter motivado um efeito maior sobre
as Bolsas brasileiras foi o processo
de aquecimento dos últimos meses.
A crise internacional foi provocada, em parte, por indicadores desfavoráveis dos EUA, mas muito mais
porque o novo presidente do Fed,
Ben Bernanke, piscou recentemente na comunicação com o mercado.
Mesmo assim, na avaliação de alguns supereconomistas, como Arthur Candal, ainda falta muito tempo para o propalado ajuste da economia norte-americana.
Por suas análises, a economia
americana terá de alterar o curso de
sua evolução externa antes de dez
anos. Isso implica custos que nem
os EUA nem o resto do mundo parecem dispostos a arcar agora.
A volta do equilíbrio mundial teria que se dar através dos seguintes
passos sincronizados:
1) Os EUA teriam de reduzir o
crescimento de demanda interna
para ritmo inferior ao do PIB, reduzindo o consumo, as importações e
liberando capacidade exportadora;
2) O resto do mundo terá de fazer
o contrário: acelerar o ritmo de
crescimento de sua demanda interna para acima do ritmo do PIB, e reduzindo as suas exportações e aumentando as suas importações;
3) Como contrapartida, os EUA
aumentarão sua poupança interna
líquida (mais poupança pública),
até o limite de seu déficit em conta
corrente, e o resto do mundo ou aumentará o seu investimento ou reduzirá a sua poupança.
Conseqüências que nenhum governo parece disposto a bancar:
1) Redução do bem-estar nos
EUA, já que o seu consumo privado
cairá ou crescerá menos, e
2) menor crescimento econômico no resto do mundo, que hoje sustenta o crescimento nos estímulos
fornecidos pelos déficits (comercial
e em conta corrente) dos EUA.
@ - Luisnassif uol.com.br
Texto Anterior: Governo minimiza tensão do dia e diz que país resiste mais a choques hoje Próximo Texto: Mantega fecha equipe com crítico do BC Índice
|