São Paulo, terça-feira, 23 de maio de 2006

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Mantega descarta mudança "exótica" no câmbio e diz que medidas serão restritas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As medidas de ajuste na política cambial em estudo na equipe econômica serão mais restritas do que esperam empresários e analistas. O que o governo estuda é um instrumento alternativo que beneficiaria só algumas empresas.
Ontem, ao descartar mudança "exótica" como a adoção de um prazo mínimo para aplicações estrangeiras no país (quarentena) ou uma taxa de câmbio artificial para um setor determinado, o ministro Guido Mantega (Fazenda) disse que não pretende acabar de vez com a exigência de os exportadores trazerem para o país os dólares recebidos pelas vendas externas dentro de um prazo máximo de 210 dias, a chamada cobertura cambial.
"O que estou propondo é uma medida mista: você mantém a cobertura cambial, mas abre a possibilidade de que algumas empresas que possuem um intercâmbio grande de moeda forte -que exportam, mas importam também- possam manter uma parte das operações fora do Brasil."
Na avaliação dele, o projeto sobre o assunto em tramitação no Congresso Nacional, que foi encampado pelo empresariado por meio da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), é "amplo demais, declara o fim da cobertura cambial" e "abre muito a economia" ao permitir, por exemplo, conta em dólar em bancos brasileiros.
"Sou contra. Teremos que entrar com outro projeto de lei ou uma MP [medida provisória]. Primeiro vamos ver exatamente o conteúdo para, depois, a forma de encaminhá-lo", argumentou o ministro, ao destacar que a permissão para abertura de contas em dólares criaria "dois regimes monetários" e dificultaria o controle por parte do Banco Central. Mantega disse ainda que aumentar simplesmente o prazo atual para o ingresso dos recursos recebidos com exportações não resolveria o problema.
O governo está preocupado com o que considera uma excessiva valorização do real por causa do forte ingresso de moeda estrangeira, conseqüência dos sucessivos recordes de exportações. A intenção da equipe econômica é encontrar formas alternativas para atenuar esse impacto, já que as compras de dólares pelo BC e pelo Tesouro têm tido efeito limitado.
O fim da cobertura cambial tem sido apontado como um instrumento importante nesse sentido, segundo os empresários. No entanto, há divergências sobre isso até dentro do governo. Para técnicos da área econômica, a medida seria eficiente para reduzir custos das grandes empresas que exportam e também importam grandes quantias.
Isso porque, hoje, elas são obrigadas a trazer os recursos para o Brasil e depois remetê-los novamente para pagar as importações.
"O governo não cogita de forma nenhuma mexer no câmbio flutuante. Sempre fui crítico de políticas exóticas em relação ao câmbio e continuo com a mesma visão."
Para o ministro, a volatilidade no mercado cambial nos últimos dias é fruto de ajuste no cenário norte-americano.


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