São Paulo, terça-feira, 23 de junho de 2009

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Governo avalia elevar reservas a US$ 300 bi

Medida evitaria a desvalorização maior do dólar; para isso, BC teria de comprar cerca de US$ 100 bi até o ano que vem

Para atingir meta, compras teriam de ser de US$ 6,5 bi por mês; ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas diz que US$ 250 bi estaria ótimo


JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Descartado o controle do fluxo de capitais, o governo retomou a ideia de aumentar as reservas internacionais para conter a desvalorização do dólar. A Folha apurou que o Ministério da Fazenda defende a compra de moeda externa para elevar a US$ 300 bilhões o estoque.
Como as reservas internacionais hoje estão em US$ 206 bilhões, significa que o Banco Central poderia comprar cerca de US$ 100 bilhões no mercado cambial até o ano que vem. A ideia é fechar este ano com pelo menos US$ 250 bilhões na conta de reservas.
O BC, responsável pelas compras de dólares e pela administração dos recursos, concorda que o estoque deve aumentar, mas a instituição não tem meta nem previsão de até onde pode chegar.
Desde 8 de maio, o Banco Central fez leilões diários para recomprar as divisas que sobraram no mercado -o chamado saldo líquido do fluxo cambial, ou seja, os dólares que entraram no Brasil e não foram comprados por bancos.
Da primeira semana de maio a 9 deste mês, a sobra de dólares no país foi de US$ 3,1 bilhões. Desde o primeiro leilão do BC até 12 deste mês, o BC comprou US$ 4,1 bilhões no mercado de câmbio -US$ 1 bilhão a mais do que o saldo líquido no período. O valor extra é próximo do saldo positivo de abril, de US$ 1,4 bilhão.
Se o volume dos leilões feitos desde a metade do mês passado se mantiver constante, na casa de US$ 4 bilhões por mês, o Brasil chegará aos US$ 300 bilhões de reservas internacionais no começo do próximo governo. Por isso, o Ministério da Fazenda avalia que o volume dos leilões deveria ser maior.
A equipe econômica defende que o volume de compras diárias de dólares volte aos níveis de 2007, quando o Brasil comprou US$ 78,5 bilhões para aumentar as reservas- uma média mensal de US$ 6,5 bilhões. O estoque de dólares em poder do governo brasileiro em janeiro de 2008 era de US$ 187 bilhões. Em 2006, as reservas somavam US$ 53,8 bilhões.
O economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, alerta para o elevado custo de comprar reservas. Isso porque o Brasil vende títulos públicos para ter dinheiro para comprar os dólares. Dessa forma, paga a taxa de juros interna, a terceira maior do mundo, e aplica em títulos com remuneração menor, como os papéis do Tesouro norte-americano.
"O BC tem de comprar dólares para segurar a cotação. Mas acho US$ 300 bilhões exagerado. O governo podia parar em US$ 250 bilhões, que já é um valor ótimo. Além disso, o BC pode baixar os juros."
Pelo último balanço do BC de abril, a instituição tem R$ 477 bilhões em títulos públicos que podem ser vendidos e se transformar em reservas.
Além do argumento técnico de segurar a cotação da moeda americana, existe uma razão política para manter as reservas internacionais em alta -a eleição presidencial de 2010.
Um dos maiores temores do presidente Lula é deixar o governo com o país ainda mergulhado na crise. Para atravessar as eleições em águas tranquilas, a estratégia é ter a maior blindagem possível contra a turbulência que vem de fora.
Além disso, o aumento das reservas internacionais elevou a confiança de investidores no Brasil. O país se tornou credor em moeda estrangeira (tem mais dólares do que dívidas) e pela primeira vez na história teve cacife para emprestar dinheiro ao FMI.
O argumento dos técnicos do Ministério da Fazenda é o de que, se o Banco Central comprar mais do que as sobras do mercado de câmbio, a cotação do dólar em relação ao real poderá se manter na casa dos R$ 2, considerada ideal pela equipe econômica para garantir equilíbrio das contas externas e competitividade dos exportadores brasileiros no exterior.
Na sexta-feira, a moeda americana fechou cotada a R$ 1,97. Ontem, fechou a R$ 2,024. Sem as intervenções do Banco Central, o dólar já poderia estar cotado em torno de R$ 1,80, avalia a equipe econômica.


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