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Governo avalia elevar reservas a US$ 300 bi
Medida evitaria a desvalorização maior do dólar; para isso, BC teria de comprar cerca de US$ 100 bi até o ano que vem
Para atingir meta, compras teriam de ser de US$ 6,5 bi por mês; ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas diz que US$ 250 bi estaria ótimo
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Descartado o controle do fluxo de capitais, o governo retomou a ideia de aumentar as reservas internacionais para conter a desvalorização do dólar. A
Folha apurou que o Ministério
da Fazenda defende a compra
de moeda externa para elevar a
US$ 300 bilhões o estoque.
Como as reservas internacionais hoje estão em US$ 206 bilhões, significa que o Banco
Central poderia comprar cerca
de US$ 100 bilhões no mercado
cambial até o ano que vem. A
ideia é fechar este ano com pelo
menos US$ 250 bilhões na conta de reservas.
O BC, responsável pelas
compras de dólares e pela administração dos recursos, concorda que o estoque deve aumentar, mas a instituição não
tem meta nem previsão de até
onde pode chegar.
Desde 8 de maio, o Banco
Central fez leilões diários para
recomprar as divisas que sobraram no mercado -o chamado saldo líquido do fluxo cambial, ou seja, os dólares que entraram no Brasil e não foram
comprados por bancos.
Da primeira semana de maio
a 9 deste mês, a sobra de dólares no país foi de US$ 3,1 bilhões. Desde o primeiro leilão
do BC até 12 deste mês, o BC
comprou US$ 4,1 bilhões no
mercado de câmbio -US$ 1 bilhão a mais do que o saldo líquido no período. O valor extra é
próximo do saldo positivo de
abril, de US$ 1,4 bilhão.
Se o volume dos leilões feitos
desde a metade do mês passado
se mantiver constante, na casa
de US$ 4 bilhões por mês, o
Brasil chegará aos US$ 300 bilhões de reservas internacionais no começo do próximo governo. Por isso, o Ministério da
Fazenda avalia que o volume
dos leilões deveria ser maior.
A equipe econômica defende
que o volume de compras diárias de dólares volte aos níveis
de 2007, quando o Brasil comprou US$ 78,5 bilhões para aumentar as reservas- uma média mensal de US$ 6,5 bilhões.
O estoque de dólares em poder
do governo brasileiro em janeiro de 2008 era de US$ 187 bilhões. Em 2006, as reservas somavam US$ 53,8 bilhões.
O economista Carlos Thadeu
de Freitas, ex-diretor do BC,
alerta para o elevado custo de
comprar reservas. Isso porque
o Brasil vende títulos públicos
para ter dinheiro para comprar
os dólares. Dessa forma, paga a
taxa de juros interna, a terceira
maior do mundo, e aplica em títulos com remuneração menor,
como os papéis do Tesouro
norte-americano.
"O BC tem de comprar dólares para segurar a cotação. Mas
acho US$ 300 bilhões exagerado. O governo podia parar em
US$ 250 bilhões, que já é um
valor ótimo. Além disso, o BC
pode baixar os juros."
Pelo último balanço do BC de
abril, a instituição tem R$ 477
bilhões em títulos públicos que
podem ser vendidos e se transformar em reservas.
Além do argumento técnico
de segurar a cotação da moeda
americana, existe uma razão
política para manter as reservas internacionais em alta -a
eleição presidencial de 2010.
Um dos maiores temores do
presidente Lula é deixar o governo com o país ainda mergulhado na crise. Para atravessar
as eleições em águas tranquilas,
a estratégia é ter a maior blindagem possível contra a turbulência que vem de fora.
Além disso, o aumento das
reservas internacionais elevou
a confiança de investidores no
Brasil. O país se tornou credor
em moeda estrangeira (tem
mais dólares do que dívidas) e
pela primeira vez na história
teve cacife para emprestar dinheiro ao FMI.
O argumento dos técnicos do
Ministério da Fazenda é o de
que, se o Banco Central comprar mais do que as sobras do
mercado de câmbio, a cotação
do dólar em relação ao real poderá se manter na casa dos R$
2, considerada ideal pela equipe econômica para garantir
equilíbrio das contas externas e
competitividade dos exportadores brasileiros no exterior.
Na sexta-feira, a moeda americana fechou cotada a R$ 1,97.
Ontem, fechou a R$ 2,024. Sem
as intervenções do Banco Central, o dólar já poderia estar cotado em torno de R$ 1,80, avalia
a equipe econômica.
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