São Paulo, quarta, 23 de julho de 1997.



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POLÍTICA MONETÁRIA
Na avaliação de Alan Greenspan, economia em desaceleração não precisa de freio por enquanto
Fed descarta elevação dos juros nos EUA

das agências internacionais

O presidente do banco central dos Estados Unidos, Alan Greenspan, afastou ontem a possibilidade de alta dos juros, o que estimulou o mercado acionário no mundo todo, Brasil inclusive.
A declaração de Greenspan, dada no Congresso dos Estados Unidos, foi de que o crescimento econômico do país está desacelerando e, portanto, seria desnecessário elevar os juros no momento.
"Parece ter havido moderação no crescimento da demanda", afirmou, emendando que algum dia a política monetária do país precisará sofrer mudanças.
O mercado, no entanto, só "ouviu" o que ele tinha a dizer sobre o curto prazo. Assim que o texto de seu discurso foi divulgado, a Bolsa de Nova York reagiu, fechando com alta de quase 2%.
Os juros também recuaram. A taxa oferecida nos títulos do Tesouro de 30 anos -considerada um parâmetro do mercado norte-americano- recuou para 6,44% ao ano, a mais baixa desde o início de dezembro passado.
A economia norte-americana iniciou o ano num ritmo acelerado, o que levou analistas a prever pressões inflacionárias que, até o momento, não se concretizaram.
O próprio Greenspan apresentou duas razões para o bom comportamento dos preços.
Primeiro, o dólar teve forte valorização, o que barateou as importações, benefício que, devido à concorrência, acabou sendo repassado aos consumidores.
Segundo, os salários não subiram muito, apesar de o índice de desemprego estar declinando e ter caído abaixo dos 5% da força de trabalho, nível em que passaria a representar pressão inflacionária.
Mesmo acreditando na influência desses dois fatores, Greenspan decidiu, em março, elevar os juros em 0,25 ponto percentual, para garantir que o aquecimento econômico não ficasse acima do desejável pela autoridade monetária.
Na avaliação de Greenspan, a economia voltou a entrar nos trilhos desde então, tanto que nova alta nos juros foi descartada.
Alguns analistas argumentam que os dois fatores que seguraram os preços -câmbio e mercado de trabalho- não continuarão a ter a mesma influência.
Greenspan concorda, mas afirma que, a partir de agora, a manutenção da inflação sob controle dependerá mais do efeito dos ganhos de produtividade, o que é resultado de anos de altos investimentos em novas tecnologias.
O banco central dos EUA (conhecido como Fed, abreviação de Federal Reserve) trabalha com expectativa de inflação entre 2,25% e 2,50% para este ano. Para o próximo, a projeção é de até 3%.
Devido à sua opinião sobre a importância dos ganhos de produtividade, Alan Greenspan está sendo chamado de arauto da Nova Economia, caracterizada pela combinação, até então tida como insustentável, entre expansão vigorosa e inflação controlada.
Greenspan, 71, que daqui a três semanas completa dez anos na presidência do Fed, é tido como moderado na condução da política monetária.
Em reuniões decisivas com a diretoria do órgão, ele fez valer sua opinião contra uma quase unanimidade que defendia a necessidade de elevação dos juros.
A revista norte-americana "Business Week", especializada em economia, conta como na reunião de maio, por exemplo, ele convenceu os diretores do Fed a ignorar os indicadores convencionais que sugeriam a necessidade de alta imediata dos juros.



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