São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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ENERGIA

Estatal brasileira assume controle acionário da petrolífera Perez Companc, segunda maior empresa da Argentina

Petrobras paga US$ 1,125 bi por argentina

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Petrobras anunciou ontem o fechamento de acordo para a aquisição do controle acionário, da Perez Companc S.A., a segunda maior empresa da Argentina. A estatal brasileira desembolsará US$ 1,125 bilhão na compra de 58,6% do capital da companhia, que tem como principal atividade exploração e extração de petróleo e mantém negócios no setor de elétrico, área em que a Petrobras tem investido nos últimos anos.
A estatal pagará à família Perez Companc e à fundação homônima (que divide a administração da empresa) US$ 754,6 milhões em dinheiro e US$ 370,5 milhões em títulos de dívida a serem emitidos. Esses títulos, cujo garantidor será a própria fundação, terão taxa de juros anual fixada em 6% e vencimento em sete anos. O acordo preliminar precisa ser ratificado até 30 de setembro -data-limite para que a Petrobras confirme o pagamento.
A Perez Companc faz parte da extensa lista de empresas que foram empurradas à bancarrota com a mais grave crise econômica da história da Argentina. O braço do grupo que está sendo adquirida pela Petrobras acumula dívidas de US$ 1,997 bilhão. A única parte que ficará sob controle da família será a ligada ao setor agropecuário e alimentício.
Ao anunciar o acordo, o presidente da Petrobras, Francisco Gros, afirmou que a estatal não assumirá a dívida. Mesmo em crise, a Pecom mantém, segundo ele, um fluxo de caixa de US$ 550 milhões, que lhe permite ""autofinanciar" a dívida -gerar recursos para pagá-la sem que a Petrobras precise fazer desembolsos.
A estatal brasileira, que hoje produz 66 mil barris de petróleo em suas operações fora do Brasil, terá essa produção aumentada para 247 mil barris com a aquisição da companhia argentina.
Ainda de acordo com Gros, a Petrobras fará o pagamento dos US$ 754,6 milhões em espécie, com recursos que mantém no exterior e com outras fontes de financiamento -que incluiriam empréstimos e emissão de papéis. ""Não sairá um centavo do Brasil", dise Gros, sobre possível envio de dólares ao exterior. ""A Perez Companc é uma grande empresa, mas tem 10% do tamanho da Petrobras. O gasto na compra dela significa somente 15% do fluxo de caixa da Petrobras num ano. Não estamos comprando uma Shell ou uma Esso", completou.
A decisão da família Perez Compac de se desfazer da empresa teria dois motivos: primeiro porque, dada a situação de insolvência da Argentina, passou a ser impraticável a grupos locais se financiarem. O segundo refere-se à decisão de priorizar outros setores.

Galinha Morta
Minutos depois de a Petrobras e a Pecom anunciarem o pré-acordo, pela manhã, as negociações das ações do grupo argentino foram interrompidas na Bolsa de Buenos Aires. Os papéis voltaram ao pregão e fecharam com baixa de 5,5%. No Brasil, as ações preferências (sem direito a voto) da Petrobras recuaram 6,94%.
""Tenho convicção da qualidade do negócio e a oportunidade do investimento que estamos fazendo. Os investidores vão se conscientizar e os nossos papéis logo voltarão a subir", disse Gros.
Para exemplificar a oportunidade de investimento que representa a aquisição, Gros afirmou que os valores pagos agora não representam a metade do valor da Perez Companc dois anos atrás.
""Não estamos comprando uma galinha morta. Estamos comprando uma galinha poedeira e que nos dará muitos ovos. E de ouro, espero", afirmou.
Em fevereiro, a estatal havia assumido seu primeiro investimento de peso na Argentina com a aquisição de 700 postos de uma bandeira local que pertenciam à Repsol-YPF. Nas últimas semanas, iniciou as negociações para a compra de uma petroquímica.



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