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INTEGRAÇÃO
Ministro das Relações Exteriores critica proposta agrícola da União Européia e diz que acordo não será "a qualquer custo"
"Quiseram nos fazer de bobos", diz Amorim
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reagiu ontem duramente à proposta da
União Européia para um acordo
agrícola com o Mercosul: "Quiseram nos fazer de bobos", disse ele,
numa conversa informal.
"Que ninguém pense que nós
estamos desesperados por um
acordo. Nós queremos um acordo, sim, mas não a qualquer custo", disse o ministro, durante o
cafezinho depois de um almoço
no Itamaraty em homenagem ao
chanceler da Espanha, Miguel
Ángel Moratinos -a quem o Brasil pediu apoio nas negociações
com a UE. Depois, em entrevista
coletiva, Amorim falou sobre a
decisão de interromper as negociações em Bruxelas: "Nós não fizemos nenhum gesto teatral. Não
havia mais o que falar".
Amorim disse que pretende
aproveitar uma reunião da OMC
(Organização Mundial do Comércio), na semana que vem, em
Genebra, para uma conversa com
o comissário europeu de comércio, Pascal Lamy. Será uma espécie de conversa preparatória para
a nova reunião dos coordenadores dos dois blocos, prevista para
9 de agosto, em Brasília.
O Brasil, portanto, considera
que as negociações vão continuar:
"Com relação à conclusão do
acordo, eu continuo trabalhando
com a hipótese de terminarmos
até outubro. Mas é preciso o mínimo de equilíbrio entre os benefícios mensuráveis de curto prazo.
Nós achamos que isso não existe",
disse o chanceler brasileiro.
Na opinião tanto de Amorim
quanto do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan
(que também participou do almoço), negociações comerciais
seguem esse "rumo natural":
"Quando chega a hora de os técnicos negociarem, sempre empaca", disse Furlan. "Ele [Furlan]
tem razão", aquiesceu Amorim.
É por isso que Furlan já anunciou que estará presente, "como
ouvinte, sem dar opinião", na
reunião dos coordenadores em
Brasília. Uma presença política,
segundo ele, tem uma espécie de
efeito moral sobre as negociações.
Ele também disse que, a partir de
agora, todas as propostas serão
apresentadas por escrito. Antes,
eram apenas verbais.
Amorim usou o exemplo da
carne para ilustrar o incômodo do
Brasil com a oferta dos europeus
de parcelar em dez anos as cotas
de exportação de produtos agropecuários com taxas mais flexíveis. Segundo ele, o Mercosul teria
direito a exportar apenas 6.000 toneladas no primeiro ano. A parte
brasileira seria, então, de 2.400 toneladas. "Isso é só um caminhão.
É ridículo", disse, em seguida.
Ele, porém, acha que não há nenhuma relação entre o endurecimento da UE e o atual fracasso
nas negociações do Mercosul para a instalação da Alca (Área de
Livre Comércio das Américas).
Ao discordar da hipótese de os
europeus estarem aumentando os
obstáculos porque a Alca deixou
de ser uma alternativa imediata
para os produtos do Mercosul, o
ministro disse: "Não acho. Nesse
caso, seria ao contrário: eles deveriam aproveitar as dificuldades da
Alca para facilitar e fechar logo o
acordo com o Mercosul".
O ministro comentou, ainda, o
afastamento do embaixador em
Bruxelas, José Alfredo Graça Lima, do comando das negociações
com a UE: "Não entendi por que
esse estardalhaço. A coisa mais
natural do mundo é o embaixador do país não comandar a delegação brasileira. Sempre tem sido
assim", disse ele. O assunto, porém, é tratado com constrangimento por embaixadores e demais diplomatas no Itamaraty.
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