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LUÍS NASSIF
À espera de 2006
A queda da Selic dará folga ao governo para compensar desatinos, mas o problema é a má qualidade dos gastos
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SEJA QUEM for o próximo presidente, o próximo ano poderá
ser decisivo para o início do
processo de crescimento brasileiro.
A avaliação otimista é compartilhada por alguns estrategistas de bancos estrangeiros.
Um dos pontos é que, mesmo com
a cabeça dura do Banco Central, os
juros irão cair inexoravelmente. O
máximo que o BC pode fazer é adiar
por algum tempo o processo.
Essa certeza decorre da arbitragem entre o custo de captação do
Brasil no exterior e as taxas internas
de juros. Hoje, o custo Brasil está por
volta de 7,5%, quando historicamente ficava em 13,5%. A Selic pode
cair tranqüilamente para 10%, sem
ficar abaixo da taxa de equilíbrio.
Nas próximas semanas, o risco
Brasil deverá cair ainda mais, em
função de medidas a serem anunciadas pelo Tesouro -possivelmente a
recompra do restante da dívida externa brasileira.
Se o Copom não baixar a Selic na
mesma proporção da queda do risco
Brasil, o ajuste virá via taxa de câmbio. Mais dólares entrarão no país,
obrigando o BC a aumentar desmedidamente as reservas cambiais para conter uma apreciação maior do
real. Portanto, além de não haver
motivo para não acelerar a queda
dos juros, a demora em derrubar os
juros trará efeitos negativos sobre as
reservas, com impacto na área fiscal.
Se as taxas caírem para 10%, não haverá maiores dificuldades para derrubar a dívida pública em até 3 pontos percentuais do PIB ao ano.
Quais os riscos? Este ano houve
aumento imprudente nas contas
públicas, não devido aos gastos sociais, mas a aumentos continuados
aos servidores públicos. Houve dois
gatilhos que dispararam esse processo. O primeiro, o enfraquecimento do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. O segundo, a sensação
do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva de que tinha sido ludibriado
por Palocci em suas avaliações sobre
gastos públicos. Segundo alta fonte
do governo, um dos estratagemas de
Palocci consistia em alocar recursos
nos ministérios em programas de
difícil implementação. Nas reuniões
ministeriais, quando os ministros se
queixavam da falta de verbas, ele
acabava mostrando que havia recursos sobrando nos seus ministérios.
Quando se deu conta de que havia
sido ludibriado, Lula passou a pressionar por mais gastos. E aí, o Ministro do Planejamento Paulo Bernardo -um super-ortodoxo, quando
sob o guarda-chuva de Palocci- cedeu em vários momentos.
O aumento dos gastos não compromete o equilíbrio macroeconômico. A redução da Selic dará folga
ao governo até para compensar os
desatinos de 2005. O problema
maior é a má qualidade dos gastos.
Para o próximo ano haverá necessidade de planejamento da aplicação
das sobras decorrentes da queda dos
juros, preferencialmente na redução da dívida e no aumento dos investimentos públicos.
Para o próximo ano, estão em
marcha preparativos em várias frentes para realocação da poupança a
ativos de risco. Vários fundos de
"private equity" estão sendo criados,
há demanda por ativos imobiliários.
O desafio consiste em acelerar providências institucionais de preparação do terreno para investimentos.
Blog: www.luisnassif.com.br
Luisnassif@uol.com.br
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