São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

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Para ex-presidente do BC, investimento influenciou mais que o câmbio no PIB

DA SUCURSAL DO RIO

Para o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, o baixo investimento limita o crescimento da economia brasileira, que não sustenta PIB de 4% por mais de três anos. Ele disse ainda que o efeito do câmbio valorizado sobre o crescimento foi nulo. (PS)  

FOLHA - Como o sr. vê o desempenho da economia no 1º semestre? Poderia ter sido melhor?
GUSTAVO FRANCO
- Acho satisfatório o desempenho da economia, tendo em vista que a formação de capital [investimento], o mais importante determinante do crescimento, permanece na faixa de 20% do PIB, como nos últimos anos, e com isso é matematicamente difícil crescer mais que 4% ao ano por dois ou três anos seguidos.

FOLHA - O país perdeu a oportunidade de surfar na onda de crescimento mundial?
FRANCO
- O crescimento mundial ajudou, mas pouco. O Brasil ainda é uma economia muito fechada. Seu principal motor de crescimento é a formação de capital doméstica, que está muito baixa. O desafio de aumentá-la não é simples e vai além da política monetária.

FOLHA - Se o câmbio não inibisse exportações, o crescimento poderia ser maior neste ano?
FRANCO
- Não acho que o câmbio tenha tido influência sobre o crescimento, seja para cima ou para baixo. E ademais, as exportações vêm crescendo mais de 20% ao ano. O nó do crescimento está em o setor privado investir mais e esta decisão envolve um amplo número de fatores que os empresários normalmente descrevem em termos subjetivos, como palavras como "o clima" ou "a confiança". E o clima de investimento no Brasil não é lá essas coisas.

FOLHA - O sr. acha que o aumento de gastos fixos é uma preocupação adicional?
FRANCO
- Sim, acho. Como muitos observadores, tenho medo de haver perda de controle ou perda de convicção no terreno fiscal, agora no final do governo, em razão das eleições, coisa que acontece, segundo me parece, por conta de "ordens superiores" e não tanto por vontade ou iniciativa da área econômica. É uma pena, o governo deveria avançar no sentido de aumentar o superávit primário [assim reduzindo o déficit público] e não recuar, pois só assim chegaremos a juros de primeiro mundo.

FOLHA - As eleições deste ano podem trazer alguma volatilidade?
FRANCO
- Não estou enxergando razão para volatilidade por conta das eleições, nem para nada parecido com 2002. Toda essa volatilidade que estamos vendo vem de fora.

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