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Para ex-presidente do BC, investimento influenciou mais que o câmbio no PIB
DA SUCURSAL DO RIO
Para o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, o
baixo investimento limita o
crescimento da economia brasileira, que não sustenta PIB de
4% por mais de três anos. Ele
disse ainda que o efeito do câmbio valorizado sobre o crescimento foi nulo.
(PS)
FOLHA - Como o sr. vê o desempenho da economia no 1º semestre?
Poderia ter sido melhor?
GUSTAVO FRANCO - Acho satisfatório o desempenho da economia, tendo em vista que a formação de capital [investimento], o mais importante determinante do crescimento, permanece na faixa de 20% do PIB,
como nos últimos anos, e com
isso é matematicamente difícil
crescer mais que 4% ao ano por
dois ou três anos seguidos.
FOLHA - O país perdeu a oportunidade de surfar na onda de crescimento mundial?
FRANCO - O crescimento mundial ajudou, mas pouco. O Brasil ainda é uma economia muito
fechada. Seu principal motor
de crescimento é a formação de
capital doméstica, que está
muito baixa. O desafio de aumentá-la não é simples e vai
além da política monetária.
FOLHA - Se o câmbio não inibisse
exportações, o crescimento poderia
ser maior neste ano?
FRANCO - Não acho que o câmbio tenha tido influência sobre
o crescimento, seja para cima
ou para baixo. E ademais, as exportações vêm crescendo mais
de 20% ao ano. O nó do crescimento está em o setor privado
investir mais e esta decisão envolve um amplo número de fatores que os empresários normalmente descrevem em termos subjetivos, como palavras
como "o clima" ou "a confiança". E o clima de investimento
no Brasil não é lá essas coisas.
FOLHA - O sr. acha que o aumento
de gastos fixos é uma preocupação
adicional?
FRANCO - Sim, acho. Como
muitos observadores, tenho
medo de haver perda de controle ou perda de convicção no
terreno fiscal, agora no final do
governo, em razão das eleições,
coisa que acontece, segundo
me parece, por conta de "ordens superiores" e não tanto
por vontade ou iniciativa da
área econômica. É uma pena, o
governo deveria avançar no
sentido de aumentar o superávit primário [assim reduzindo o
déficit público] e não recuar,
pois só assim chegaremos a juros de primeiro mundo.
FOLHA - As eleições deste ano podem trazer alguma volatilidade?
FRANCO - Não estou enxergando razão para volatilidade por
conta das eleições, nem para
nada parecido com 2002. Toda
essa volatilidade que estamos
vendo vem de fora.
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